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Coragem é única arma de brigadistas voluntários contra incêndio na Chapada

Aliny Barbosa

Colaboração para o UOL, em Maceió

22/12/2015 06h00

Voluntários estão há quase dois meses mata a dentro na Chapada Diamantina, região central da Bahia, tentando apagar focos de incêndio que consomem a floresta. Sem equipamentos suficientes, 50 brigadistas voluntários encaram o “dragão”, como chamam o incêndio, para proteger plantas, animais e o meio ambiente da reserva natural.

Segundo dados do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), o fogo já devastou 22,3 mil hectares de mata nos municípios de Palmeiras, Lençóis e Ibicoara, o equivalente a 14,6% do total da área do Parque Nacional da Chapada Diamantina.

A reserva da chapada tem 152 mil hectares. Os incêndios destruíram as trilhas da Cachoeira da Fumaça, as margens dos rios Mucugê e Mucugezinho, e áreas dos morros Pai Inácio e Branco.

A guerra dos brigadistas voluntários para acabar com o fogo na mata ocorre em paralelo às ações do governo do Estado e do ICMBio. A ACV (Associação dos Condutores de Visitantes do Vale do Capão) critica e diz que as ações do poder público chegaram de forma tardia. Temendo uma devastação maior, moradores se "armaram" com apenas a coragem para combater os focos de incêndio.

"Quando mandaram ajuda, o fogo já tinha tomado grandes proporções. Não podíamos ficar parados vendo o fogo consumir a mata, e fomos para o combate mesmo sem os equipamentos de proteção individual suficientes para todos", conta a brigadista voluntária Tila Silvany.

Os brigadistas reclamam que a administração do parque não realiza ações de prevenção para evitar os incêndios. A associação diz que é necessária a implantação de uma base de monitoramento e de fiscalização para agir nos primeiros sinais de fogo na mata.

"Estamos quase em 'colapso mental' porque são quase 60 dias sem dormir direito. Meio ambiente nunca foi prioridade para nenhum dos governos. Para mim, o pior é a sensação de impotência, pois dos gestores, nunca tive expectativa alguma", diz o reflorestador Carlos Henrique Fialho de Brito, morador do Vale do Capão há 16 anos.

A tropa voluntária se desloca de carona para as áreas atingidas pelo fogo. Até chegar nos focos os voluntários enfrentam horas de caminhadas em subidas e descidas, carregando mochilas pesadas com água, comida e equipamentos. Muitas vezes, a equipe gasta de 4 a 6 horas para chegar próximo ao fogo e iniciar o combate. O trabalho exaustivo se estende por mais seis e até dez horas diárias.

“Temos que nos desdobrar em várias funções: apagar o fogo, dirigir carros para levar os voluntários, consertar equipamentos, divulgar, denunciar, solicitar, implorar. Fazemos de tudo para defender o Capão”, conta Brito.

Apesar do combate dos voluntários, na semana passada o fogo chegou nas serras próximas às casas do Vale do Capão. Os homens da região usaram enxadas e abafadores para tentar coter o fogo.

“Temos orgulho do nosso trabalho porque mesmo sem estrutura aos materiais necessários, estou lá fazendo o melhor que posso. Enquanto isso, o Estado tem todo aparato para controlar qualquer incêndio e não o faz”, diz o jornalista Marcelo Issa, que também é brigadista voluntário.

A última ação do grupo ocorreu na terça-feira (15) e a tropa conseguiu apagar os incêndios no Vale do Capão, embora ainda haja focos de combustão em locais de difícil acesso. Agora, a brigada está combatendo outros incêndios entre o Vale do Capão e o município de Lençóis.

Outro lado

Segundo o governo da Bahia, 60 homens do Corpo de Bombeiros e 40 brigadistas, estão na mata da Chapada Diamantina combatendo os incêndios. Nove aeronaves estão sendo usadas para ajudar no combate ao fogo. O Estado informou que custeou R$ 500 mil reais em equipamentos de proteção individual para os brigadistas voluntários e os kits já foram entregues.

O ICMBio informou que o parque tem 42 brigadistas contratados e recebeu reforço de mais 22 pessoas. Em fevereiro, o instituto pretende iniciar um programa de prevenção aos incêndios, orientando moradores a não atear fogo no mato.

Há planos de equipar os brigadistas com rádios para melhorar a comunicação, mas o projeto ainda precisa passar por licitação.