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Búfalos selvagens serão abatidos em RO para diminuir impacto ambiental

Rebanho de búfalos selvagens da região do Vale do Guaporé, em Rondônia - Sedam/Divulgação
Rebanho de búfalos selvagens da região do Vale do Guaporé, em Rondônia Imagem: Sedam/Divulgação

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

28/03/2016 16h46

Um rebanho de cerca de 5.000 búfalos selvagens que vivem na região do Vale do Guaporé, nos municípios de São Francisco do Guaporé e Alta Floresta do Oeste, em Rondônia, começará a ser abatido, nos próximos meses, e totalmente erradicado do Estado, em até cinco anos.

A liberação do abate dos animais ocorreu com a publicação da Lei Estadual nº 3771, no Diário Oficial do Estado, no último dia 21, sancionada pelo governador Confúcio Moura (PMDB).

Segundo estudo da Sedam (Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental), por viverem soltos de modo selvagem, os animais estão causando degradação ambiental na Reserva Biológica do Guaporé e na Reserva Extrativista Pedras Negras, localizadas na região do Vale do Guaporé. Os búfalos selvagens também põem em risco a segurança e saúde dos moradores da região por não haver controle de doenças.

A lei contém 58 artigos, que resultaram de um estudo de impacto ambiental elaborado por representantes de 13 instituições. A sua aprovação ocorreu pela Assembleia Legislativa em substituição ao Projeto de Lei Ordinária (PLO 53/2015), que instituía o Regulamento de Medidas para a Erradicação de Búfalos. As mudanças no projeto ocorreram após audiência pública, realizada em setembro de 2015, convocada pelo deputado Jesuíno Boabaid (PMN).

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Reserva ambiental na região do Vale do Guaporé, em Rondônia, foi invadida por búfalos
Imagem: Sedam/Divulgação
Os búfalos não pertencem à fauna brasileira. Os que vivem em Rondônia foram trazidos da ilha de Marajó (PA), na década de 50, por ideia do governo do Estado. Sessenta e seis animais foram levados para a Fazenda Experimental Pau D'Óleo para um projeto de produção de leite, derivados e carne de bubalinos, além tração para trabalho. Três anos depois, o projeto fracassou e os búfalos foram abandonados.

Segundo a Sedam, eles invadiram as áreas de proteção ambiental, se adaptaram facilmente ao clima e condições da terra alagadiça do local, se reproduziram e estão vivendo livremente, sem predadores, no Vale do Guaporé.

Um estudo feito pela Embrapa Pantanal, em 2005, calculou que existam cinco mil búfalos soltos nas unidades de conservação do Vale do Guaporé.

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Imagem: Sedam/Divulgação

Desequilíbrio e preocupação

A bióloga Anita Ho-Tong Thomaz, do  Setor de Fauna da Sedam, explica que a presença dos búfalos na região está causando desequilíbrio ecológico porque os animais não estão no seu habitat natural e não possuem predadores.

"Há desvio do leito dos rios e muitas árvores têm sido derrubadas. Quando eles passam, o rastro de destruição vai ficando", diz a bióloga, destacando que os búfalos ameaçam mamíferos e répteis, causam perda de nichos ecológicos das aves e prejudicam toda a fauna existente nas reservas. A Fazenda Pau d'Óleo possui biomas conjugados existentes no Pantanal, Cerrado e Amazônia.

Agora, com a sanção da lei, a Sedam vai abrir licitação pública para contratar empresa para realizar a remoção dos búfalos em até cinco anos. O custo está estimado entre R$ 5 a 6 milhões. Todo o procedimento de captura, abate e transporte da carne para frigoríficos será feito por meio da empresa.

O processo será acompanhado pela Idaron (Agência de Defesa Agrossilvipastoril de Rondônia) e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A carne de búfalo será comercializada após rigorosa avaliação sanitária.

"Os animais serão retirados de forma gradual até deixar a região livre, para que, de fato, possa haver o desenvolvimento e a restauração das questões ambientais dentro daquelas áreas. Primeiramente, os animais serão colocados em quarentena, quando serão promovidas duas inspeções clínicas naqueles que foram capturados. O processo de abate é similar ao dos bovinos", explica o secretário-adjunto da Sedam, Francisco Sales.

O médico veterinário Júlio César Rocha, da Coordenação de Desenvolvimento Agropecuário da Seagri (Secretaria de Estado da Agricultura), destaca preocupação em relação ao abate e comercialização da carne dos búfalos, pois, segundo ele, os bubalinos são suscetíveis à febre aftosa, o que poderia comprometer a cadeia econômica de carnes do Estado. Atualmente, Rondônia possui um rebanho bovino de 12,7 milhões de cabeças, longe da febre aftosa.

"Vivendo de maneira selvagem, eles não são animais que passam sistematicamente por vacinação. Não são vacinados. Então, mexer, manejar, nos suscita dúvidas. Uma delas, por exemplo, se são isentos dessa patologia. Tem de fazer diagnóstico de coleta de material e envio para laboratório, tem de fazer obrigatoriamente um monitoramento periódico dos animais coletados e circunvizinhos. E como não foram amansados, manejados, é difícil", explicou Júlio Rocha.

Filhotes separados

A presidente da Associação Protetora dos Animais Desamparados - Amigos de Patas, Clotildes Brito, critica a aprovação da lei e diz que os animais não podem ser sacrificados por um descontrole do Estado. Para Brito, o governo do Estado deveria ter agido anos antes, há pelo menos uma década, quando o problema começou a ser estudado, para que o número de búfalos selvagens não aumentasse tanto.

"A pior saída é matar os búfalos, sou contra, mas como fugiu do controle o governo disse que só tinha essa alternativa. Pelo menos, pedimos que eles separem os filhotes do abate e façam doações para famílias ribeirinhas criarem. Eles podem ser amansados e domesticados quando estão filhotes, podem ser usados na produção de leite e queijo", explica Brito.

Brito participou da audiência pública em setembro do ano passado e afirmou que não foi avisada da votação da Assembleia Legislativa e da sanção da lei pelo governo do Estado. "Pelo que vi, a gente discutiu, argumentou, mas quem teve voz foi o Estado. Agora, quem nos garante que vão separar os filhotes como pedimos?", criticou. O plano de erradicação dos búfalos selvagens não prevê a separação de filhotes e animais adultos.

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Áreas onde búfalos estão soltos possuem praias com desovas de tartarugas em Rondônia
Imagem: Sedam/Divulgação