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Análise: Eleição de Trump significa derrota na luta contra o aquecimento

Donald Trump participa de comício durante a campanha eleitoral de 2016 - Mandel Ngan/AFP
Donald Trump participa de comício durante a campanha eleitoral de 2016 Imagem: Mandel Ngan/AFP

Do UOL, em São Paulo

11/11/2016 20h42

A eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos na última quarta-feira (9) indica uma derrota na luta mundial contra as mudanças climáticas. O magnata deve impor uma política ambiental completamente contrária à praticada por Barack Obama e pelos principais líderes mundiais.

Trump, por exemplo, não acredita no aquecimento global. O político diz que "o conceito de aquecimento global foi criado por e para os chineses" – em outras oportunidades, chamou o tema de uma "farsa" feita pela China. O aquecimento global é provocado por emissões humanas segundo 97% dos cientistas. As consequências do efeito estufa já podem ser sentidas e são marcadas por grandes extremos climáticos, com temperaturas mais frias ou mais quentes que o normal.

O grande temor ocorre porque Trump prometeu em sua campanha cancelar o histórico Acordo de Paris, selado pelos Estados Unidos recentemente em um encontro de Obama com Xi Jinping, presidente da China. As consequências deste ato do presidente eleito para o mundo podem ser catastróficas.

"Há uma noção de que uma Presidência de Donald Trump pode ser 'game over' para o clima. Por 'game over', digo fim de jogo para estabilizar o aquecimento a níveis abaixo de perigosos" Michael Mann, que liderou grandes estudos sobre o aquecimento global, em entrevista ao Independent

Efeito dominó

É claro que não será tão fácil para Donald Trump abolir o Acordo de Paris: a lei só pode ser quebrada daqui a quatro anos, graças a uma cláusula feita exatamente para deter futuros Trumps. O que o governo do futuro presidente pode fazer, contudo, é dificultar a implementação dele e relaxar na fiscalização, já que não há nenhuma punição ou meta no acordo que visa diminuir as emissões de gases causadores do efeito estufa.

O temor da ação de Trump neste sentido é por dois motivos. Primeiro porque os Estados Unidos são o segundo maior emissor de gases do efeito estufa na atualidade, atrás apenas da China. Por isso, a participação dos norte-americanos na ação é fundamental.

Por outro lado o recuo norte-americano pode abrir espaço para outras nações deixarem de lado o aquecimento global. Seria o famoso "se os Estados Unidos não estão nem aí, por que eu deveria me importar?". Isto acabaria com a atual atenção dada à questão - o aquecimento deve aumentar os níveis do mar, alagar vastas regiões do mundo ou grandes secas.

Grandes cidades ficarão submersas se temperatura do planeta aumentar 4ºC

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Secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl tenta ser mais otimista. Na visão do cientista, é Trump quem terá que mudar seu jeito de pensar. "A agenda climática deixou de depender de apenas um país. O Acordo de Paris já tem 102 ratificações, e esses países não vão esperar pelos EUA. Uma economia baseada em energias renováveis representa uma fatia crescente do PIB e da geração de empregos nos próprios EUA. As convicções pessoais de Trump terão de se enquadrar a essa realidade".

A mudança já começou

As primeiras ações de Trump em relação ao clima já mostram que o republicano deve levar a cabo suas opiniões. De acordo com a revista Scientific American, o futuro presidente escolheu Myron Ebell, um dos mais famosos céticos das mudanças climáticas, para comandar a transição da EPA (agência ambiental norte-americana).

De acordo com a publicação, Ebbel costuma chamar o aquecimento global de "alarmismo". Em 2007, o escolhido de Trump disse à Vanity Fair que "houve um pouco de aquecimento, mas é muito modesto e pode ser uma variação natural que não precisamos nos preocupar".

Nos últimos dois anos, a Terra tem batido níveis recordes de temperaturas mês a mês. Um estudo publicado na Science Advance nesta semana aponta que as temperaturas aumentarão em 4º C até 2100 – o Acordo de Paris queria limitar este aquecimento a 2º C.

"Agora é mais importante que nos unamos para lutar contra o ódio, a intolerância e a negação climática" Greenpeace após a eleição de Trump

O que Trump quer na área ambiental?

Além de colocar um cético climático para a transição da EPA, Trump deve escalar outros nomes sem relação com o mundo sustentável. A mídia norte-americana especula que homens ligados a combustíveis fósseis estejam no topo da equipe do futuro presidente – entre eles, é esperado que um bilionário da indústria do óleo e gás esteja à frente da pasta de Energia.

Ao negar esforços contra o aquecimento global, Trump já deu pistas de suas prioridades no passado. Segundo a Business Insider, Trump não quer "gastar recursos" com mudanças climáticas e quer usar o dinheiro para assegurar o acesso à água limpa, eliminar doenças como malária, aumentar a produção de comida e criar fontes alternativas de energia.

Água limpa, por sinal, concorre com outra proposta de Trump para a área ambiental. O futuro presidente foi muito criticado por querer reativar a indústria do carvão, um dos maiores poluentes do mundo. A razão para a proposta ser ridicularizada não é apenas ambiental: o gás natural é muito mais barato do que a mineração.