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Famílias de PE fazem gás de cozinha com esterco, e param de comprar botijão

Lúcia da Silva, 40, produz gás de cozinha com biodigestor que usa esterco - Aliny Gama/UOL
Lúcia da Silva, 40, produz gás de cozinha com biodigestor que usa esterco Imagem: Aliny Gama/UOL

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Caruaru (PE)

18/08/2017 04h00

Pelo menos 500 famílias do Nordeste estão sem despesa com a compra de botijão de gás de cozinha depois que ganharam biodigestores em suas propriedades para produção de gás por meio de esterco de animais. Em Caruaru (PE), por exemplo, duas famílias de assentamentos do MST (Movimento Sem Terra) ganharam biodigestores e cozinham nos fogões com o gás produzido com esterco de gado que criam em suas propriedades.

A agricultora Lúcia da Silva, 40, relata o alívio de não ter mais a despesa com a compra de gás de cozinha para a família, que tem nove integrantes, desde que o biodigestor entrou em funcionamento, em 2015. A economia feita com biodigestor incrementa a alimentação dos filhos e netos.

Um botijão custa R$ 55 e não dá para o mês todo porque somos nove pessoas. Vivíamos com dificuldade, até usando lenha quando faltava o gás, mas hoje temos a tranquilidade de ter gás o tempo todo e sem pagar nada.”

Para alimentar o biodigestor, de três em três dias, a agricultora coloca três latas de esterco de gado e três latas de água no tanque de mescla, que é interligado com o recipiente do biodigestor onde ocorre a fermentação das fezes com bactérias anaeróbicas que produzem vários gases, sendo metano o principal.

O tanque é alimentado com esterco de gado a cada três dias - Aliny Gama/UOL - Aliny Gama/UOL
O tanque é alimentado com esterco de gado a cada três dias
Imagem: Aliny Gama/UOL

Em seguida, o sistema a ser ligado por uma válvula começa a liberar o gás para os canos, que chegam até o fogão, que fica na cozinha da família.

Esterco é reutilizado como adubo

O biodigestor ainda tem um reservatório de descarte de esterco que é usado para adubar as plantações do lote de terra da família.

“Em quase dois anos de uso, nunca tivemos problema. Não compramos gás e ainda usamos como adubo o resto do esterco que é maturado dentro do biodigestor nas nossas plantações”, diz a agricultora.

A pequena propriedade está dentro do assentamento do MST Lagoa Azul, que fica localizada no sítio Lages, zona rural de Caruaru. Lá são plantados milho, mandioca, feijão, tomate, hortaliças, como cebolinha, coentro e alface. 

O agente comunitário de saúde, Marcelino Luiz Silva, que trabalha na área há mais de 15 anos, destaca a importância do biodigestor para beneficiar famílias carentes. Ele observa que as duas famílias do assentamento que ganharam o equipamento hoje estão com mais qualidade na alimentação devido ao adubo usado nas plantações e também porque não têm mais a despesa de comprar gás.

A família de Lúcia produz milho, mandioca, feijão, tomate, e hortaliças - Aliny Gama/UOL - Aliny Gama/UOL
A família de Lúcia produz milho, mandioca, feijão, tomate, e hortaliças
Imagem: Aliny Gama/UOL

Melhor para o ambiente

O biodigestor da propriedade de Lúcia Silva foi construído por meio de uma parceria entre a ONG Caritas Diocesana, Caixa Econômica Federal (programa de habitação rural) e MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). O biodigestor custa em média R$ 2.500, mas as famílias beneficiadas não gastaram nada para implantação do sistema.

O técnico Jucier Silva, da ONG Diaconia, destaca a importância do biodigestor para o ambiente. “A família preserva o meio ambiente com a diminuição da emissão de gás metano na atmosfera. O gás metano que seria liberado com o esterco do gado nos currais, depois do processo de biodigestão, é queimado no fogão e parte dele se transforma gás carbônico, menos poluente que o metano”, explica Silva.
 
O sistema recebe manutenção periódica feita para verificar se houve entupimento e se o sistema está funcionando corretamente. As manutenções não têm datas marcadas porque variam de acordo com o cuidado que a família beneficiada tem de seguir as instruções de uso do equipamento.
 
O biodigestor não é pressurizado e, por isso, não há risco de explosão. A única modificação que ocorre no fogão é que o orifício onde o gás passa tem de ser aumentado para ele passar porque não há pressão”, afirma o técnico.

A construção de biodigestores pela ONG Diaconia começou em 2009, na Bahia, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, depois de intercâmbios com outras organizações, os trabalhos se estenderam aos Estados de Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.