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Américas podem perder 40% da biodiversidade até 2050, aponta relatório

Creative Commons/Adriano Aurélio Araújo
Imagem: Creative Commons/Adriano Aurélio Araújo

Em Medellín (Colômbia)

23/03/2018 17h18

A atividade humana levou os animais e as plantas ao declínio em todas as regiões do mundo, colocando em risco o nosso próprio bem-estar através da exploração excessiva dos recursos naturais e de poluentes, alertou uma pesquisa abrangente sobre espécies nesta sexta-feira (23).

Os estoques de peixes podem se esgotar até 2048 e mais da metade das espécies de aves e mamíferos da África desaparecer até 2100, a menos que medidas drásticas sejam tomadas., de acordo com dados de quatro relatórios divulgados em Medellín. 

Até 90% dos corais da Ásia-Pacífico sofrerão "degradação severa" até 2050, enquanto na Europa e na Ásia Central quase um terço das populações conhecidas de peixes marinhos e 42% dos animais e plantas terrestres estão em declínio. Já as Américas podem perder 40% da biodiversidade original até 2050. 

"Essa tendência alarmante coloca em risco as economias, os meios de subsistência, a segurança alimentar e a qualidade de vida das pessoas em todos os lugares", alertou a Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).

Elaborados por quase 600 cientistas ao longo de três anos, os relatórios ressaltam que a natureza fornece aos humanos comida, água limpa e energia, e regula o clima da Terra - praticamente tudo que precisamos para sobreviver e prosperar.

"Estamos minando nosso próprio bem-estar futuro", disse o presidente da IPBES, Robert Watson.

"A biodiversidade continua sendo perdida em todas as regiões do globo. Estamos perdendo espécies, estamos degradando ecossistemas... se continuarmos agindo dessa forma, continuaremos perdendo biodiversidade a taxas crescentes".

A avaliação da IPBES dividiu o mundo em quatro: Américas, África, Ásia-Pacífico, Europa e Ásia Central - todo o planeta, exceto a Antártica e os mares abertos.

Cientistas voluntários examinaram cerca de 10.000 publicações científicas para o mais extenso levantamento sobre biodiversidade desde 2005.

As conclusões foram resumidas em quatro relatórios aprovados pelos 129 países-membros da IPBES na Colômbia. Elas contêm diretrizes para os governos criarem políticas mais amigáveis em relação à biodiversidade no futuro.

Extinção em massa

Para as Américas, a pesquisa alertou que as populações de espécies - já 31% menores do que quando os primeiros colonos europeus chegaram - terão encolhido cerca de 40% até 2050.

Estima-se que cerca de 500.000 quilômetros quadrados de terra africana estejam degradados, acrescentou. O continente sofrerá perdas de plantas "significativas" e seus lagos serão 20-30% menos produtivos até 2100.

Na União Europeia, entretanto, apenas 7% das espécies marinhas avaliadas tinham um "estado de conservação favorável". "Se continuarmos do jeito que estamos... a sexta extinção em massa, a primeira causada pelos humanos, continuará", disse Watson à AFP.

Os cientistas dizem que o consumo voraz da biodiversidade pela humanidade desencadeou a primeira extinção em massa de espécies desde o desaparecimento dos dinossauros - a sexta em nosso planeta em meio bilhão de anos.

Aumento da demanda

Em muitos lugares, as mudanças climáticas causadas pela queima de combustíveis fósseis para energia estava piorando a perda de biodiversidade, segundo os relatórios.

"É isso que temos que transmitir aos formuladores de políticas: temos de olhar para as mudanças climáticas e para a biodiversidade em conjunto", afirmou Watson.

"As mudanças climáticas afetam a biodiversidade, mudanças em nossa vegetação natural afetam as mudanças climáticas. E ambas, se não fizermos isso corretamente, vão prejudicar muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas: água limpa para todos, segurança alimentar para as pessoas, segurança energética, segurança humana, equidade".

Existem muitos obstáculos.

"O crescimento econômico vai continuar. O crescimento da população continuará até 2050, portanto a demanda por recursos aumentará", disse o presidente da IPBES.

Mesmo nos melhores cenários, o aquecimento global continuará contribuindo para a perda de espécies, o que causará maior degradação dos ecossistemas.

Mas os cientistas apontam possíveis soluções: criar mais áreas protegidas, restaurar zonas degradadas e repensar os subsídios que promovem a agricultura insustentável.

Governos, empresas e indivíduos devem considerar o impacto sobre a biodiversidade ao tomar decisões sobre agricultura, pesca, silvicultura, mineração ou desenvolvimento de infraestruturas.

Regiões diferentes exigirão soluções diferentes, disse Watson.

"Não é tarde demais" para interromper ou mesmo reverter alguns dos danos, afirmou. "Podemos parar tudo isso? Não. Podemos desacelerá-lo significativamente? Sim".

A IPBES divulgará um quinto relatório sobre o estado global do solo, que está sendo degradado rapidamente através da poluição, destruição de florestas, mineração e métodos agrícolas insustentáveis que esgotam seus nutrientes.