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Brasileiros criam banheiro sustentável móvel para atender desabrigados

Instalação tem capacidade para 144 banhos de dez minutos por dia - Marcos Santos / USP Imagens
Instalação tem capacidade para 144 banhos de dez minutos por dia Imagem: Marcos Santos / USP Imagens

Júlio Bernardes

Da Agência USP

08/05/2018 16h39

Que banheiro químico, que nada! Um banheiro emergencial móvel para atender as pessoas atingidas por desastres é o resultado de um projeto desenvolvido na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Instalado em um contêiner, o equipamento capta em rios, filtra e aquece a água usada nos lavabos, vasos sanitários e chuveiros.

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Professora Lara Leite Barbosa de Senne, da FAU, explica funcionamento do sistema hidráulico do banheiro móvel
Imagem: Marcos Santos / USP Imagens
A instalação tem capacidade para 144 banhos de dez minutos por dia e é dotada de um banheiro acessível. Por envolver uma metodologia colaborativa, com participação da população, consultores técnicos e empresas, o projeto recebeu o nome de Apis (abelha, em latim). Através da Agência USP de Inovação, foi pedida a patente do equipamento.

"Em alguns municípios, existe uma situação recorrente de inundações, que exigem atendimento emergencial após os desastres", afirma a professora Lara Leite Barbosa de Senne, coordenadora do projeto, iniciado em 2009.

O levantamento preliminar mostrou uma grande demanda na região do Vale do Ribeira, interior de São Paulo, caracterizada por municípios com população em torno de 15 mil habitantes, baixo índice de desenvolvimento humano e poucos recursos para atendimento de emergências.

"Em contato com a população de uma das cidades da região, Eldorado, verificou-se a necessidade de um banheiro que atendesse os desabrigados que ficam de sete a 15 dias alojados em escolas e igrejas".

O banheiro móvel é construído a partir de um contêiner colocado sobre uma plataforma elevada, para não ser atingida pelas inundações. "O contêiner é aberto nas laterais, onde é feito o acesso ao banheiro e são colocadas lonas para fechar a entrada, que serve de vestiário", descreve Lara. "A água é captada em rios nas proximidades e levada por meio de um sistema de bombeamento até o contêiner".

A água é conduzida por uma mangueira, ligada à saída da bomba que fica no rio, até uma membrana de ultrafiltração. Este equipamento foi sugerido pelo professor José Carlos Mierzwa, da Escola Politécnica da USP, consultor do projeto, e doado pela empresa Dow. "A água filtrada vai para um reservatório de águas frias no alto do contêiner e pode ser aquecida por um gerador, sugestão do pesquisador Gilberto Janólio, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, ou através de painéis solares, seguindo para o reservatório de águas quentes", relata a professora. "Depois de usadas, as águas cinzas, dos chuveiros e lavatórios, e as águas negras, dos vasos sanitários, são armazenadas em bolsões abaixo do contêiner, até serem descartadas". 

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Contêiner é aberto nas laterais, onde há o acesso ao banheiro e são colocadas lonas para entrada servir como vestiário
Imagem: Marcos Santos / USP Imagens

Banheiro acessível

Em cada um dos lados do contêiner há um vaso sanitário, um chuveiro e um lavabo com duas pias, para uso feminino e masculino. "Na parte de trás, há um banheiro acessível, com espaço para cadeira de rodas, cujo acesso é feito por uma plataforma elevatória com 83 centímetros de desnível", aponta Lara.

Inicialmente, a vedação interna era feita com divisórias de fibra de bananeira, para aproveitar um material abundante na região de Eldorado. "As chapas têm um metro de largura por dois de altura. Essas divisórias serão substituídas por outras, feitas com chapas que reutilizam o tetrapak das embalagens de alimentos".

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Cada lado do contêiner tem vaso sanitário, chuveiro e lavabo com duas pias, para uso masculino e feminino; na parte de trás, fica o banheiro acessível
Imagem: Marcos Santos / USP Imagens
A manutenção do banheiro emergencial móvel, inclusive com a retirada dos resíduos, foi planejada para ser feita a cada sete dias, de acordo com as normas da Defesa Civil para abrigos temporários. "Estimando que cada banho dure dez minutos, o equipamento tem capacidade para atender 144 pessoas por dia", destaca a professora. "Os chuveiros, torneiras e vasos sanitários possuem redutores de consumo. O vaso, por exemplo, é ajustado para utilizar somente dois litros de água por descarga".

Lara conta que no momento a equipe do projeto está em busca de recursos para terminar o protótipo do banheiro móvel. "Ainda é preciso adquirir um painel de controle para automatizar o bombeamento e filtração da água, além de finalizar as instalações hidráulica e elétrica", aponta. "Também faltam uma plataforma elevatória para o banheiro acessível, dois painéis fotovoltaicos e alguns itens de menor valor, incluindo a mão-de-obra necessária para sua colocação. Quando tudo estiver instalado e os testes forem concluídos, o protótipo será doado para a Defesa Civil fazer atendimento". Assista abaixo o vídeo produzido pela equipe do projeto para ajudar na obtenção de recursos.

O protótipo foi construído pela empresa Contain[it], especializada em contêineres. Atualmente o equipamento está na sede da Agência USP de Inovação, que intermediou um pedido de patente do equipamento e será responsável por fazer a transferência de tecnologia. "A ideia é encontrar empresas interessadas em assimilar o processo de fabricação, de modo que possa haver produção em escala industrial", afirma a professora. "O banheiro emergencial móvel é destinado principalmente a governos e ONGs que atendem os desabrigados pelas inundações".