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Filhotes de pássaro se comunicam entre si de dentro dos ovos, indica estudo

Ovos de gaivota de pata amarela, utilizados no experimento - Fabio Mangani/Getty Images/iStockphoto
Ovos de gaivota de pata amarela, utilizados no experimento Imagem: Fabio Mangani/Getty Images/iStockphoto

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

26/07/2019 04h00

Um estudo publicado por cientistas espanhóis indica que os pássaros são capazes de se comunicar entre si enquanto ainda estão dentro de seus ovos, portanto antes de nascer. Eles não apenas percebem ameaças externas como repassam essa informação, retardando a eclosão dos ovos e mantendo-se por mais tempo protegidos contra possíveis predadores.

O estudo foi desenvolvido pelos cientistas José C. Noguera e Alberto Velando, da Universidade de Vigo, na Espanha, e divulgado no periódico científico Nature Ecology & Evolution na segunda-feira. Os membros do departamento de Ecologia e Biologia Animal da universidade coletaram ovos de gaivota de perna amarela e os dividiram em duas ninhadas com três ovos cada uma.

Dois dos três ovos de cada ninhada eram removidos de sua incubadora (sempre os mesmos dois ovos) quatro vezes ao dia e colocados em caixas diferentes. Um dos grupos foi disposto em um recipiente à prova de som, enquanto o outro foi levado a outra caixa exposta a gravações de um predador adulto.

Gaivota de pata amarela - Bulent Kikic/AFP Photo - Bulent Kikic/AFP Photo
Gaivota de pata amarela
Imagem: Bulent Kikic/AFP Photo
Depois, os grupos foram recolocados na incubadora ao lado do ovo que não foi removido em momento algum do experimento. A primeira observação dos pesquisadores foi que os ovos expostos ao alarme vibravam mais ao voltarem para a incubadora do que aqueles que ficaram na caixa silenciosa.

A ninhada exposta aos supostos predadores demorou mais tempo para eclodir, inclusive o ovo preservado do susto. Quando os três finalmente nasceram, todos mostraram as mesmas mudanças de desenvolvimento, não verificadas no grupo que não se sentiu ameaçado.

Esses filhotes fizeram menos ruído ao nascerem e se agacharam instintivamente, um comportamento defensivo normalmente realizado em resposta a gritos de alarme.

Os três filhotes, incluindo o que foi preservado, tinham características fisiológicas não identificadas na ninhada mantida na caixa silenciosa. Eles tinham níveis mais altos de hormônios do estresse, menos cópias de DNA mitocondrial por célula e pernas mais curtas.

"Estes resultados sugerem fortemente que os embriões de gaivotas são capazes de adquirir informações ambientais relevantes a partir de seus irmãos", escreveram os cientistas no artigo. "Os resultados destacam a importância da informação socialmente adquirida durante a fase pré-natal como um mecanismo não genético de desenvolvimento."

A descoberta indica que as aves se adaptam ao ambiente antes de nascerem. Os embriões não apenas repassaram informações aos companheiros de ninho por meio de vibração como eclodiram apresentando um comportamento muito mais cauteloso do que o grupo de controle.

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