Topo

Antes de discurso, governo se mobiliza para mostrar ações de preservação

As queimadas na Amazônia brasileira provocaram debate internacional sobre a preservação da floresta - Felipe Werneck/Ibama
As queimadas na Amazônia brasileira provocaram debate internacional sobre a preservação da floresta Imagem: Felipe Werneck/Ibama

Tatiana Pronin

Colaboração para UOL, em Nova York

24/09/2019 07h44

Brasil faz mais pelo clima do que países que o criticam e têm interesses na internacionalização na Amazônia. Esse foi o tom da campanha que o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe fizeram nos últimos dias, às vésperas da Assembleia Geral da ONU, cuja cerimônia de abertura é hoje.

Desde 1955, Brasil é o primeiro país a falar nesse evento, seguido dos EUA, o país sede. Se em anos anteriores a apresentação do Brasil teve menor importância para o público presente, desta vez há a expectativa de uma resposta convincente para as recentes queimadas na Amazônia, assunto que predominou nos encontros e protestos pelo clima realizados desde sexta-feira em Nova York, às vésperas da Assembleia Geral.

Na manhã de ontem, no evento do clima que não teve participação do governo brasileiro, o presidente da França Emmanuel Macron anunciou um grande plano para proteger a Amazônia e outras florestas tropicais. Ao lado dele estavam os presidentes do Chile, Sebastián Piñera, da Bolívia, Evo Morales, representantes da Guiana Francesa e até o ator Harrisson Ford. "Nossa casa está em chamas, e nós só temos uma casa", disse o ator de "Indiana Jones".

"O interesse não é cuidar dos índios ou da floresta e sim em construir a narrativa para amanhã pleitear - mais uma vez - a sua internacionalização. Ninguém preserva mais do que o Brasil, existem interesses por trás desse discurso 'paz e amor' de alguns chefes de Estado", alfinetou, ontem, o deputado federal Eduardo Bolsonaro no Twitter, após encontros com membros da comunidade brasileira e também com Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump.

Reforçar que o Brasil faz mais do que os outros foi a tônica, ainda, do ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que não foi convidado para falar na ONU, mas gravou um vídeo na abertura da Cúpula do Clima. Segundo a secretaria-geral do evento, o Brasil ficou de fora por não ter apresentado nenhum plano recente para aumentar seu compromisso com o clima. Mesmo assim, Salles quis divulgar sua posição: "O Brasil é o país que mais tem feito no âmbito do Acordo de Paris, nós temos o etanol, mudança da nossa matriz energética, uma série de medidas que outros países que nos criticam não fazem", disse.

"Sem pulmão"

Em Nova York desde a semana passada para conversar com a imprensa internacional, o ministro chegou a ser atacado até por uma jornalista da Fox News, um canal de notícias que é a marca do partido de Trump. "É possível que a gente respire sem ter pulmão? A Amazônia é a pulmão do mundo", a entrevistadora esbravejava. O ministro tentou desfazer o equívoco, ainda muito difundido, e reforçar que Bolsonaro tem feito o possível para combater os incêndios, inclusive usar forças militares, "algo sem precedentes".

A sensação de que o governo federal faz pouco caso das queimadas na Amazônia também foi manifestada pelos ativistas brasileiros que participaram da Cúpula da Juventude para o Clima, ao lado da sueca Greta Thumberg. "Amazônia, sim, Bolsonaro, não", gritaram alguns deles diante do hotel em que Bolsonaro está hospedado assim que o presidente chegou na cidade.

"Com rabo entre as pernas"

Um dos presentes na recepção dos ambientalistas ao presidente era João Henrique Cerqueira, um dos 100 jovens do mundo todo premiado com o "tíquete verde", da ONU, para participar do evento com viagem financiada com compensação de carbono. Cerqueira faz viagens de bicicleta e documenta histórias de pessoas que já convivem com os efeitos da mudança climática, ao lado da também ativista Paloma Costa, jovem que abriu a cúpula do clima ao lado de Greta.

"O Brasil sempre teve muito protagonismo nas discussões do clima e, pela primeira vez, entra com rabo entre as pernas, com negacionistas climáticos na equipe e narrativas que não estão baseadas em dados científicos, como a de que o Brasil é o país que mais cuida do meio ambiente", lamentou.