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Vale omitiu problemas na barragem de Brumadinho antes de tragédia, diz TV

Gaspar Nóbrega/SOS Mata Atlântica
Imagem: Gaspar Nóbrega/SOS Mata Atlântica

Do UOL, em São Paulo

05/11/2019 13h43

A Vale registrou problemas na barragem de Brumadinho antes da tragédia do dia 25 de janeiro, mas não repassou as informações à Agência Nacional de Mineração, de acordo com um relatório que será apresentado hoje pelo órgão que regula o setor. A informação é do Jornal Hoje, da TV Globo.

Segundo um parecer técnico a que o jornal teve acesso, aprovado pela direção da agência, a Vale deixou de informar problemas na barragem, meses antes do rompimento. O relatório será encaminhado para o Ministério Público Federal e as polícias Civil e Federal de Minas Gerais, que investigam o caso.

Segundo a reportagem, os técnicos analisaram a documentação da barragem, entre eles o plano de segurança e o plano de ação emergencial. Dentro deles, estão os dados de segurança da barragem.

Em 6 de junho de 2018, oito meses antes do rompimento, a Vale fez uma inspeção de segurança na barragem, e preencheu uma ficha com resultados, que apontam duas versões. Na entregue à Agência Nacional de Mineração, uma foto mostrava uma canaleta obstruída. O conserto é considerado uma medida de rotina, sem afetar a segurança.

No entanto, há uma foto que não foi enviada à agência e aparece só nos registros internos da mineradora. Nela, há sedimentos na saída de um dos drenos da barragem, o que deveria ter sido passado à entidade.

Os sendimentos poderiam indicar um problema mais grave, segundo o diretor da ANM Victor Bicca explicou, ao Jornal Hoje: "Nós teríamos de estar sabendo quase em tempo real que estava ocorrendo isso. Nós teríamos somado os esforços aos esforços da empresa. A presença de sedimentos na água drenada, se não combatida, ela pode evoluir para uma situação que coloca em risco a estrutura do barramento."

Os relatórios também citam os piezômetros, que são usados para medir a pressão da água. A ANM afirma que a Vale informou que "nenhum dos instrumentos atingiu nível de alerta ou emergência no período que antecedeu ao rompimento da estrutura". No entanto, "apesar das informações fornecidas pela empresa, ao se realiza análise do banco de dados (...), é possível verificar que alguns instrumentos entraram em nível de alerta e/ou emergência sem que a ANM tenha sido informada."

A agência, no documento que, segundo a Globo, divulgará hoje, afirma que os níveis registrados eram relevantes e deveriam ser reportados. "As leituras dos piezômetros e, de forma bastante destacada, do piezômetro 19, sinalizaram no início de dezembro de 2018 a meados de janeiro, que havia uma leitura que colocava aquele piezômetro em nível de emergência. Significa que havia muita água na estrutura, que a água devia ser drenada, porque, não sendo drenada, aumenta o risco de ruptura da estrutura", afirmou Bicca.

Em 22 de janeiro, três dias antes do rompimento, a agência afirma que a Vale fez uma vistoria na barragem. E que só em 15 de fevereiro foram preenchidos os dados no sistema da agência, dizendo que não foram atingidos os fatores mínimos de segurança. "Não é admissível que se tivesse sido identificado anomalia no dia 22, reportar só em 15 de fevereiro. Anomalias que sejam riscos à segurança do barramento tem de ser reportadas imediatamente", completou o diretor.

A tragédia de Brumadinho deixou 252 mortos e 18 desaparecidos, que ainda são procurados pelos bombeiros. Além deste caso, hoje completa-se quatro anos de outra tragédia com barragem, em Mariana.

Procurada pelo UOL, a Vale disse que vai analisar o relatório mas que, por enquanto, "não tem como comentar as decisões técnicas tomadas pela equipe de geotécnicos à época".

Leia a nota na íntegra:

"A Vale informa que vai analisar a íntegra do relatório da Agência Nacional de Mineração e, no momento, não tem como comentar as decisões técnicas tomadas pela equipe de geotécnicos à época. A empresa tinha uma equipe de geotécnicos composta por profissionais altamente experientes e de reconhecida capacitação para tratar de questões referentes à manutenção da barragem B1.

Todas as informações disponíveis sobre o histórico do estado de conservação da barragem foram fornecidas às autoridades que apuram o caso. A Vale reforça que aguardará a conclusão pericial, técnica e científica sobre as causas da ruptura da barragem.
Como maior interessada na apuração dos fatos, a empresa continuará colaborando plenamente com as investigações, assim como prestando total apoio aos atingidos."

Mariana ainda está em reconstrução 4 anos após da tragédia

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