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Alvo em governos petistas, Belo Monte inaugura com Bolsonaro última turbina

Usina hidrelétrica de Belo Monte, localizada às margens da rodovia Transamazônica, no Pará - Lalo de Almeida/Folhapress
Usina hidrelétrica de Belo Monte, localizada às margens da rodovia Transamazônica, no Pará Imagem: Lalo de Almeida/Folhapress

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

27/11/2019 11h34

O presidente Jair Bolsonaro participa hoje à tarde, em Altamira (PA), da inauguração da 18ª e última turbina da usina hidrelétrica de Belo Monte.

A obra que custou em torno de R$ 42 bilhões é uma das mais polêmicas e contestadas dos governos do PT por conta dos grandes impactos ambientais e sociais na região do Xingu.

Belo Monte é a maior usina de energia 100% brasileira e teve licença prévia dada ainda no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em fevereiro de 2010. O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis) fez, à época, uma lista com 40 contrapartidas para reduzir os danos.

Dilma inaugurou a usina um pouco antes de sofrer impeachment, em 5 de maio de 2016, poucos dias depois do início da geração comercial (em 20 de abril daquele ano). Três anos e meio depois, agora é a vez de Bolsonaro pôr sua digital na obra.

Por conta dos problemas gerados pelo empreendimento, a participação de Bolsonaro uniu de uma só vez críticas aos governos de Lula, Dilma e Bolsonaro.

"É simbólico que justamente esta obra, que será lembrada para todo sempre como o grande erro da gestão petista, é a única herança que Bolsonaro honra e homenageia", afirmou em comunicado ontem o Movimento Xingu Vivo para Sempre, que sempre criticou a forma como o PT impôs aos povos tradicionais do Xingu a obra.

O MPF (Ministério Público Federal) no Pará ingressou, desde o início de Belo Monte, com 25 ações —conseguindo por várias vezes a suspensão das obras e da licença. A última das ações trata dos impactos na pesca e pede um plano de reestruturação. Outros processos são referentes a pontos como descumprimento de condicionantes, ausência de Defensoria Pública em Altamira ou mesmo por conta de crime de etnocídio.

Boom populacional desordenado e tráfico de drogas

Com 113 mil habitantes, Altamira mudou completamente desde a licença dada para a obra. Das promessas de prosperidade econômica, o maior município brasileiro em área (159.533 km²) passou pelo boom populacional desordenado e começou a viver problemas sociais e ambientais. A partir de 2010, por exemplo, houve o início de uma especulação imobiliária, e os índices de homicídios começam a subir até, em 2015, atingir 124 mortes por 100 mil habitantes —o maior do país naquele ano.

"Toda a dinâmica social da cidade foi alterada por conta de Belo Monte. Temos aí os impactos ambientais, os sociais, os culturais e os políticos em função da instalação de Belo Monte", afirma Aiala Colares Couto, geógrafo e pesquisador da UEPA (Universidade do Estado do Pará).

Segundo ele, um dos grandes impactos foi o aumento demográfico em função da movimentação causada pela perspectiva de geração de emprego e renda. "Eram 16 mil trabalhadores em 2015 [hoje passam de 113 mil]. Altamira passa por um processo de crescimento, que aumenta a demanda e o consumo de drogas. O tráfico passa a tomar conta, com dinâmica territoriais que vão colocar em região de conflito", conta.

Por conta da guerra de facções, Altamira assistiu a um dos maiores massacres dentro de presídios da história do país, com 58 mortes em uma disputa de facções no Centro de Recuperação Regional de Altamira.

"A cidade se tornou uma rota nova de tráfico de cocaína, impulsionando o surgimento de grupos de organizações criminosas, como o Comando Classe A [que teria sido a responsável pelo massacre contra membros do Comando Vermelho]", diz.

O que diz a Norte Energia

A hidrelétrica foi construída no rio Xingu e tem uma capacidade de produzir 11 mil Megawatts (1 MW equivale a 1 milhão de Watts). Belo Monte tem carga suficiente para atender 60 milhões de pessoas em 17 estados —o que representa 40% do consumo residencial do Brasil.

O consórcio que construiu e opera Belo Monte é o Norte Energia, formado a partir da vitória no leilão da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) em abril de 2010.

Ao UOL, a Norte Energia informou que somente em Altamira foram investidos R$ 1,5 bilhão, com obras que vão desde o abastecimento de água e esgoto a uma requalificação urbana e construção de cinco novos bairros.

O consórcio ainda disse que cerca de 4.000 indígenas de nove etnias —e que habitam 12 territórios— são atendidos por um conjunto de programas e projetos que compõem o Plano Básico Ambiental.

Na área ambiental, a Norte Energia diz que, em sete anos, "cerca de 4 milhões de filhotes de tartarugas-da-amazônia, pitiús e tracajás foram soltos na natureza". Afirma também que montou um banco de sementes e dois laboratórios foram instalados no campus da UFPA (Universidade Federal do Pará) em Altamira.

Já na área de segurança pública, um convênio de R$ 125 milhões foi firmado com o governo do Pará e "se reverteu em equipamentos como o sistema de câmeras de videomonitoramento instalado em Altamira, veículos e um helicóptero, além da construção de um Complexo Penitenciário em Vitória do Xingu, dentre outros investimentos".