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Cidades com mais cabeças de gado lideram focos de incêndio, aponta estudo

Pesquisador usa números para mostrar que presença de gado não diminui incidência de incêndios no Pantanal e na Amazônia - Rafael Visentainer/Arquivo Pessoal
Pesquisador usa números para mostrar que presença de gado não diminui incidência de incêndios no Pantanal e na Amazônia Imagem: Rafael Visentainer/Arquivo Pessoal

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

16/10/2020 04h04

Cidades com mais cabeças de gado são também as que mais focos de incêndio tiveram em 2018, aponta um estudo elaborado na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Um dos exemplos pode ser visto em Corumbá (MS), cidade campeã tanto em fogo, como em rebanho no Pantanal. Em 2018 foram 54,8 mil focos, e a cidade tinha naquele ano 1,8 milhão de animais.

Ainda no Pantanal, as outras três cidades com mais gado são as que registraram mais incêndios Cáceres (MT), Aquidauana e Porto Murtinho (ambas em Mato Grosso do Sul).

"Os dados não afirmam que os criadores de gado são os culpados, mas refutam a ideia de que ter mais gado representa ter menos incêndio", pontua o professor Ubirajara Oliveira, do Centro de Sensoriamento Remoto do Instituto de Geociências. da UFMG

O estudo teve como base os dados de criação de gado no Brasil do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) e os focos de queimadas registrados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Os números são referentes a 2018 por ser o ano com dado mais recente divulgado pelo IBGE.

"A questão principal que esses dados revelam é: se de fato a presença de gado pudesse reduzir a quantidade de incêndios, a gente teria um resultado em que os municípios com maior quantidade de gado apresentariam menor ocorrência de incêndios. A gente observou exatamente o contrário: os que têm mais cabeças de gado coincidem com os que têm mais incêndios", diz Oliveira.

A tese do "boi-bombeiro"

Para ele, entretanto, os números não implicam em causalidade de incêndios e gado. "Outros fatores podem estar juntos causando os incêndios, mas mostram, de forma consistente, que a ideia do 'boi-bombeiro' não é verdadeira", afirma.

A tese do boi bombeiro foi defendida pelos ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles; e da Agricultura, Tereza Cristina.

A ideia defendida é de que o boi come uma parte da massa do capim seco que, quanto mais alto, mais ajuda a propagar focos de incêndio. Ou seja, com o capim mais baixo, o fogo se alastraria com menos facilidade. No entanto, a pecuária em escala industrial é apontada com fator que prejudica o que seria um controle natural feito pelos animais da região..

Até a quarta-feira (14), o país registrou 188 mil focos de incêndio em 2020, o maior índice desde 2010. Desses, 86 mil foram na Amazônia. Somente o Mato Grosso, estado que tem os biomas Pantanal, Cerrado e Amazônia, registrou 44 mil focos.

Este ano, entre janeiro e setembro, os incêndios já destruíram uma área de 32,9 mil km² no Pantanal, o maior registro desde 2002, quando começaram as medições. Já na Amazônia um total de 62,3 mil km² foram destruídos, o maior para o mesmo período desde 2010.