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Jornal: Governo ignora parecer técnico e tira ipê de lista de monitoramento

O ipê é uma das madeiras do Brasil mais cobiçadas no mercado internacional atualmente - Getty Images
O ipê é uma das madeiras do Brasil mais cobiçadas no mercado internacional atualmente Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

27/11/2020 12h38

O governo brasileiro contrariou um parecer técnico do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e retirou o ipê de uma lista internacional de monitoramento e proteção de espécies ameaçadas da flora e da fauna. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a decisão aconteceu antes da última reunião da aliança sobre o tema, realizada em agosto de 2019.

A Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção) foi estabelecida em 1973 e atualmente reúne mais de 200 países, sendo 182 nações mais a União Europeia. O Brasil é signatário da Convenção desde 1975, participando assim do grupo que monitora a exportação e a importação de espécies que constam em suas listas.

A aliança de países ajuda a gerenciar espécies ameaçadas como o ipê, que atualmente é uma das madeiras do Brasil mais cobiçadas no mercado internacional. Segundo dados do Ibama reunidos pelo jornal, apenas 8% de todos os ipês extraídos de florestas brasileiras ficaram no país entre 2012 e 2017, com todo o restando sendo destinado à exportação.

O Estado de S. Paulo relata que, em dezembro de 2018, técnicos do Ibama elaboraram um relatório para demonstrar que a exportação do ipê necessitava de mais fiscalização, já que ele vinha sendo vendido como qualquer tipo de madeira, sem nenhum rigor específico. A inclusão na lista da Cites faria com que o produto precisasse de uma licença obrigatória para ser comercializado entre os países membros da aliança.

O ipê chega a constar em uma lista de sugestão de inclusão de novas espécies na reunião da Cites de 2019, mas aparece como "retirado". Segundo o jornal, a decisão foi tomada pelo MMA (Ministério do Meio Ambiente), comandado por Ricardo Salles, a pedido do presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim. A mudança de planos foi feita após o MMA e o Ibama serem procurados por madeireiros do Mato Grosso e do Pará, que eram contra a medida.

Uma nova reunião da aliança, que permite a inclusão de novas espécies, está marcada apenas para 2022.

Questionado pelo Estado de S. Paulo sobre a retirada do ipê da lista, o MMA não respondeu à publicação.

Questão presidencial

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ameaçou divulgar uma lista de países que importam madeira ilegal do Brasil, numa forma de dividir a culpa pelo desmatamento no país. Bolsonaro fez a declaração durante seu discurso na abertura da Cúpula de Líderes do Brics.

"Revelaremos nos próximos dias os nomes dos países que têm importado essa madeira ilegal da Amazônia, e mostraremos que alguns desses são os mais severos críticos do meu governo no tocante da Amazônia. Acredito que depois dessa manifestação, essa prática diminuirá e muito nessa região", disse o presidente.

Dias depois, Bolsonaro recuou e afirmou que não divulgaria os países, mas sim as empresas estrangeiras que estariam importando madeira ilegal do Brasil.