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Saraiva diz que Salles fez 'pseudoperícia' e legitimou ação de criminosos

Saraiva diz que Salles tornou legitima ação de criminosos - Reprodução/YouTube
Saraiva diz que Salles tornou legitima ação de criminosos Imagem: Reprodução/YouTube

Mariana Durães

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

26/04/2021 17h25Atualizada em 26/04/2021 19h07

O delegado da PF (Polícia Federal) e ex-superintendente da corporação no Amazonas, Alexandre Saraiva, disse hoje que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, fez uma "pseudoperícia" na madeira apreendida em operação da PF. Saraiva foi demitido do cargo um dia após enviar uma notícia-crime ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra o ministro.

"Ele [Ricardo Salles] foi até a área, fez uma 'pseudoperícia'. De 40 mil toras, olhou duas e disse que conferiu. Que a princípio estava certinho, que as pessoas apresentaram escrituras", disse, em depoimento à Comissão de Legislação Participativa na tarde de hoje.

Procurado pelo UOL, o ministério do Meio Ambiente afirmou que o delegado "segue em busca de holofotes". Disse, ainda, que "os deputados da região norte deixaram claro na audiência a falta de imparcialidade e de fundamento das posições do delegado".

Segundo Alexandre Saraiva, após a primeira visita, o ministro marcou para voltar ao local uma semana depois, quando receberia a documentação necessária das pessoas envolvidas. O delegado explicou que, depois, em uma reunião com a participação do ministro do Meio Ambiente, a PF finalmente recebeu documentos que solicitava desde o ano passado ao órgão ambiental do Pará.

"Quando nós recebemos, e eu vi aquele conjunto de documentos, aquilo se mostrou uma fraude imensa. Onde se buscava iludir a autoridade policial", declarou e completou: "eu entendi como correto encaminhar notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal, apontando aquele fato."

O ex-superintendente da PF afirmou, ainda, que mais de 70% da madeira apreendida não foi reivindicada. E, por isso, questionou como Salles pôde garantir que "estava tudo certo" com o material apreendido. Além disso, lembrou que o ministro chegou a criticar a operação em entrevistas à imprensa, colocando-a em dúvida.

"O ministro fez uma inversão. Tornou legitima a ação dos criminosos, e não do agente publico. Então, em linhas gerais, foi isso que nos motivou a fazer a notícia-crime", explicou.

Além disso, Saraiva explicou que há uma grave questão fundiária na região de "grilagem de terra em grande escala", considerada, por ele, como a situação mais grave dentre tudo que foi detectado durante as operações. As terras das quais vieram as madeiras apreendidas estariam, conforme o delegado, sendo exploradas "por pessoas que não são donas delas". A maioria, segundo ele, "não são paraenses e não moram no Pará".

O delegado ressalta, também, que áreas de proteção permanente não estavam sendo respeitadas. "A principal empresa que atua na região já recebeu mais de 20 multas do Ibama. Deve aproximadamente R$ 9 milhões em multas", informou.

Notícia-crime encaminhada ao STF

Na denúncia, enviada ao Supremo, Saraiva pede que as condutas de Salles e do senador Telmário Mota (PROS-RR) sejam investigadas por atrapalhar as medidas de fiscalização ambiental e por patrocinar interesses privados. Ao STF, o delegado cita a apreensão de mais de 200 mil metros cúbicos de madeira ilegal no fim de 2020, e alega que os dois tentaram prejudicar as investigações do caso.

Hoje, Salles afirmou que a denúncia feita pelo delegado é "busca por holofote" e que a ação mostra falta de imparcialidade. "A notícia-crime foi uma busca de holofote e ele está querendo aparecer com essa situação toda", disse o ministro em entrevista ao programa Opinião No Ar, da RedeTV. "Eu estou sempre ao lado da lei. Ao contrário da narrativa que ele tentou criar, nós não somos contra a Polícia Federal", completou.