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Bolsonaro ignora ação da PF, chama Salles de 'excepcional' e ataca a França

Anaís Motta

Do UOL, em São Paulo

20/05/2021 21h52Atualizada em 20/05/2021 23h43

Sem mencionar a operação da Polícia Federal contra Ricardo Salles, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) elogiou hoje o ministro do Meio Ambiente e fez críticas aos ambientalistas e a um suposto aparelhamento do MPF (Ministério Público Federal). — ainda que o órgão não tenha participado de qualquer etapa da ação.

A operação deflagrada ontem apura um esquema de facilitação e contrabando de madeiras nobres extraídas ilegalmente e foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Foram cumpridos mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Salles, que também teve seus sigilos bancário e fiscal de janeiro de 2018 a maio de 2021 quebrados.

"Temos problemas, por exemplo, o ministro Ricardo Salles. Excepcional ministro, mas as dificuldades que [ele] tem junto a setores aparelhados no MP, os xiitas [sic] ambientais... As dificuldades são enormes", disse Bolsonaro durante sua live semanal, transmitida de Imperatriz (MA), onde passará a noite.

Não é a primeira vez que o presidente se refere aos ambientalistas como "xiitas". Em 2019, durante cerimônia de inauguração do Aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista (BA), Bolsonaro disse ter "repulsa por quem não é brasileiro" e acusou os defensores do meio ambiente de prejudicar o desenvolvimento do turismo no Brasil e a imagem do país no exterior.

Mas o termo "xiitas" é considerado preconceituoso quando associado a "radicais". Isso porque o xiismo é apenas uma das duas principais correntes do Islamismo — ao lado do sunismo —, e relacioná-lo a "extremismo", como fez Bolsonaro, é uma generalização equivocada. Vale lembrar: assim como no Cristianismo, também há xiitas moderados e até não religiosos.

Ataques à França

O presidente ainda rebateu as declarações do ministro do Comércio Exterior da França, Franck Riester, de que não vai confirmar o acordo de livre comércio da União Europeia com o Mercosul caso o Brasil não mude a sua política ambiental. Bolsonaro acusou o país europeu de propositalmente empacar o negócio por ter "interesses econômicos".

"Agora, imagine se falo isso? 'Olha, não vamos assinar acordo com União Europeia'. É interesse econômico, a França concorre com a gente em muita coisa, tem interesse em seu país. Quando a gente fala aqui qualquer assunto que porventura se dirija a um país que seja um grande parceiro comercial hoje, pronto, um bando de sabujo começa a atacar o presidente", reclamou.

Sem provas, ele também sugeriu que parte dos imigrantes que vão para a França não respeitam mulheres e disse que desejaria mudar as leis de imigração no Brasil.

"Eu fui o único parlamentar, foi no governo Dilma [Rousseff], a falar contra a nossa atual lei de imigração. Essa pandemia atrapalhou a gente em muita coisa, queremos rever isso daí. Mas como está hoje a lei de imigração? Se chegar um navio com 10 mil [pessoas] dentro, não interessa de onde estão vindo, quando pisarem em solo brasileiro, já têm mais direito do que você que está assistindo [a live]", afirmou.

Sem fazer qualquer crítica à França, mas como está seu povo, vivendo com política de fronteiras abertas? Gente de qualquer lugar do mundo, em especial no norte da África, acabou migrando para lá. Como está a França no momento? Como em alguns lugares as mulheres são tratadas por parte de pessoas que vão para lá?
Jair Bolsonaro, em live de 20/05/2021

(Com Estadão Conteúdo e Reuters)