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Amazônia agora emite mais CO2 do que absorve, mostra estudo

Foco de incêndio em ponto da Amazônia em agosto de 2020; papel da floresta como "reservatório de carbono" está ameaçado, creem cientistas - Christian Braga/Greenpeace
Foco de incêndio em ponto da Amazônia em agosto de 2020; papel da floresta como "reservatório de carbono" está ameaçado, creem cientistas Imagem: Christian Braga/Greenpeace

Colaboração para o UOL*

15/07/2021 09h55Atualizada em 20/07/2021 12h29

Uma pesquisa publicada na revista científica Nature aponta que atualmente a floresta amazônica emite mais carbono do que absorve. Segundo os cientistas, essa descoberta os leva a crer que o papel da Amazônia como um "reservatório de carbono" está ameaçado e isso pode impactar o clima ao redor do mundo.

O termo reservatório de carbono quer dizer que a floresta é capaz de absorver enormes quantidades de dióxido de carbono, ou CO2, o que ajuda a manter o clima mais ameno na Terra. A mudança, segundo a pesquisa, foi causada pela interferência humana no ambiente, incluindo desmatamento, queimadas e exploração madeireira.

O estudo foi liderado pela pesquisadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Luciana Gatti, com a colaboração das pesquisadoras Luana Basso e Raiane Neves, que também integram o órgão.

Ele foi conduzido de 2010 a 2018 e a parte brasileira da Amazônia pode ser observada em quase 600 voos sobrevoando o ambiente. O esforço permitiu que os pesquisadores coletassem dados a respeito das quantidades de dióxido de carbono e monóxido de carbono na atmosfera.

Na análise, foi descoberto que os quatro pontos principais pontos da Amazônia no Brasil emitem 410 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono por ano. A causa principal são incêndios grandes, muitas vezes iniciados por interferência humana.

Com o desmatamento e o uso da terra para agricultura, a floresta amazônica perdeu cerca de 17% de seu território nas últimas décadas. Consequentemente, a temperatura tem aumentado, a umidade diminuiu e tem chovido menos nesses locais, o que também favorece incêndios descontrolados.

O trecho mais preocupante é entre o sul do Pará e o norte do Mato Grosso, onde há maior emissão de carbono. Além disso, a degradação da terra nessa área é grande e resulta em uma alta na mortalidade das árvores.

"Além do desmatamento representar uma emissão de carbono para atmosfera, ele altera a condição climática na Amazônia e faz com que a floresta não desmatada também se torne uma fonte de carbono para a atmosfera e aumenta sua inflamabilidade", diz a pesquisa.

O estudo urge para o fim do desmatamento e das queimadas e afirma que essa é a solução. Não só seria possível reverter a emissão de CO2, como também aumentar a absorção do elemento pela floresta amazônica. Segundo os cientistas, isso ajudaria aliviaria a situação climática ao redor do globo.

Espécies correm risco de extinção

Mais de 10 mil espécies de plantas e animais correm o risco de extinção devido à destruição da floresta amazônica — 35% da qual já foi desmatada ou degradada, segundo esboço de um relatório científico divulgado ontem.

Produzido pelo Painel Científico para a Amazônia (SPA, sigla em inglês), o relatório de 33 capítulos reúne pesquisas sobre a maior floresta tropical do mundo de 200 cientistas ao redor do globo. É a avaliação mais detalhada do estado da floresta até agora e deixa claro tanto o papel vital da Amazônia ao clima do mundo quanto o profundo risco que está sofrendo.

A floresta tropical é um baluarte vital contra as mudanças climáticas pelo carbono que absorve e pelo que armazena. Segundo o relatório, o solo e a vegetação da Amazônia guardam 200 bilhões de toneladas de carbono, mais de cinco vezes todas as emissões anuais de CO2 do mundo.

Além disso, a contínua destruição causada pela interferência humana na Amazônia coloca mais de 8 mil plantas endêmicas e 2.300 animais em alto risco de extinção, acrescentou o relatório.

* Com informações da Ansa e da Reuters