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COP26: Txai Suruí diz que foi intimidada por brasileiros após discurso

Colaboração para o UOL, no Rio

03/11/2021 09h12Atualizada em 03/11/2021 15h25

A ativista indígena Txai Suruí, 24, disse no UOL News desta manhã que foi intimidada por brasileiros após seu discurso na COP26, em Glasgow, na Escócia.

Na última segunda (1º), durante a cerimônia de abertura da conferência, a indígena do povo Paiter Suruí e fundadora e coordenadora do movimento da Juventude Indígena de Rondônia reclamou, dentre outras coisas, do avanço frenético do extrativismo em terras indígenas na Amazônia.

"Depois do meu discurso, fui dar algumas entrevistas, muitas pessoas queriam falar comigo, e uma parte brasileira ficou me intimidando. Ele chegou depois em um momento e falou 'não fala mal do Brasil, porque a gente está aqui para ajudar'. Me senti muito intimidada e não foi muito legal", disse Txai.

Txai disse não ter conseguido identificar as pessoas que chegaram até ela. Ela só conseguiu ver nas credenciais que se tratavam de brasileiros.

"Foi bem desconfortável", afirma a indígena, criticando a falta de representantes do alto escalão do governo na conferência. "O Brasil, que é um dos países que sempre tiveram no centro dessa discussão, sempre um dos países mais importantes, não tem os seus representantes aqui, do governo".

Acordos

A ativista é pessimista em relação aos compromissos que o Brasil assinou na COP26. Dentre os acordos firmados entre os países presentes na conferência está a redução em 30% das emissões de gás metano até 2030.

"O Brasil fala que vai colocar os povos indígenas no centro dessa discussão, vai acabar com o desmatamento, mas o que a gente está passando no Brasil é uma enorme pressão dos nossos direitos", disse a indígena.

Txai cita a tese do Marco Temporal, ação que corre no STF e prega que povos indígenas só podem reivindicar terras onde já estavam no dia 5 de outubro de 1988.

São projetos que querem acabar com as terras indígenas no Brasil. Hoje, se você pega o mapa do Brasil, você vê que só tem floresta em pé onde há presença dos povos indígenas. Isso está sendo muito pouco levado a sério, principalmente porque o Brasil fala, mas não cumpre com o que vem prometendo
Txai Suruí

Genocídio

Perguntada sobre a tese de genocídio dos povos originários defendida inicialmente pela CPI da Covid, Txai diz concordar que os indígenas são alvos de um extermínio. A imputação do crime de genocídio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acabou ficando de fora do relatório final da comissão.

"É exatamente isso que a gente está passando, um genocídio... durante a pandemia, perdi duas avós, tios, primos. É sim um genocídio. Tudo o que a gente vem passando, toda invasão, o desmatamento que vem assolando as nossas terras indígenas", disse Txai.

A ativista contou que antes de ir para a COP26 esteve na terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, onde viu criação de gado.

O governo incentivou a invasão das terras indígenas, que leva a nossa perseguição, e ameaça a nossas vidas. Então sim, é um genocídio e deveria ser chamada como tal
Txai Suruí