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Chove metade do previsto, Cantareira sofre nova queda e nível chega a 26,3%

8.out.2021 - Registro do Sistema Cantareira em Joanópolis, a cerca de 120 km da cidade de São Paulo - Amanda Perobelli/Reuters
8.out.2021 - Registro do Sistema Cantareira em Joanópolis, a cerca de 120 km da cidade de São Paulo Imagem: Amanda Perobelli/Reuters

Letícia Mutchnik

Do UOL, em São Paulo

20/11/2021 04h00

Apesar de o estado de São Paulo estar no período chuvoso e há um mês do final do ano, o Sistema Cantareira operava até ontem (19) com nível de 26,3% e com precipitações abaixo da média histórica de novembro, somando por enquanto 62,9 mm de chuva —apenas 47,74% do esperado para o penúltimo mês do ano, que é de 149 mm. Os dados são da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Segundo a projeção do dia 9 de novembro do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), caso novembro e dezembro alcançassem a média histórica de chuvas, o nível do Cantareira no último mês de 2021 seria de aproximadamente 35%.

Mas, para o professor de pós-graduação em ciência ambiental do IEE (Instituto de Energia e Ambiente), da USP (Universidade de São Paulo), Pedro Luiz Côrtes, os números são muito baixos para esta época do ano, de pleno período de chuvas.

"O Cantareira, nos últimos dez anos, só teve um ano com chuvas acima da média, que foi 2015. Em todos os outros anos, o total anual de chuvas foi abaixo da média histórica. Então é um problema que já está ficando crônico. O mesmo acontece com o Alto Tietê, que numa década só teve dois anos com as chuvas acima da média histórica", afirma o professor.

No pior dos casos, com chuvas 50% abaixo da média em ambos os meses, o Cantareira fecharia o ano com o nível por volta de 25%. Luz Adriana Cuartas, pesquisadora de hidrologia do Cemaden, cita a imprevisibilidade do futuro do sistema.

"Neste momento, não é possível fazer uma previsão de chuvas a longo prazo. Não há previsão para daqui a três ou quatro semanas. Um modelo mostra uma coisa, outro modelo mostra outra, então é muito difícil [prever o que vai acontecer]", conta ela. Geralmente as previsões são semanais ou quinzenais.

"Nós tivemos um outubro superchuvoso e depois veio um novembro superseco, o que vai acontecer em dezembro a gente não sabe", adiciona.

Já para Pedro Luiz Côrtes, "nós não vamos ter essas chuvas dentro da média ou acima da média". "A tendência é que elas passem por uma redução, como tem acontecido agora", diz. O especialista ainda reforça a efetividade dos prognósticos e previsibilidade dos fatores climáticos.

A pesquisadora concorda que a situação seja crítica, principalmente em comparação com a situação em 2013, pré-crise hídrica. Segundo ela, caso os índices pluviométricos de 2013-2014 se repetissem até 1º de março de 2022, o nível previsto para o Sistema Cantareira seria de 19,9%, um pouco acima do observado em 1º de março de 2014 —quando o Cantareira registrou 16,6%.

"Tem algumas coisas que aumentam a preocupação. A gente tem um volume baixíssimo de água armazenado, mesmo considerando a entrada e a operação de um sistema novo —o São Lourenço, que começou a operar em 2018— e mesmo o Sistema Cantareira contando com uma fonte adicional de água que é a transposição da bacia do Paraíba do Sul. Sem contar que a população está economizando água. Hoje a gente gasta cerca de 13% menos do que antes da crise hídrica", afirma Côrtes.

Se não vai ter água para abril, depois de abril também não vai ter. Porque abril é quando começa o período de estiagem, o período seco na região Sul, parte da região Sudeste. A gente pode ter uma reversão deste cenário a partir de agosto de 2022, mas ainda é cedo para falar qual vai ser esse cenário."
Pedro Luiz Côrtes, professor da USP

A Sabesp informa que não há risco de desabastecimento na região metropolitana de São Paulo neste momento e reforça a importância do uso consciente de água.

"A projeção para a região metropolitana de São Paulo aponta níveis satisfatórios dos reservatórios com as perspectivas de chuvas do final da primavera e início do verão, quando a situação será reavaliada."

Cuartas rebate: "Eles [na Sabesp] estão fazendo a mesma coisa que faziam em 2014. Estão diminuindo a pressão da água de noite na região metropolitana, mas não falam nada". A Sabesp não comentou sobre o assunto.

Veja o nível dos reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo, segundo a Sabesp

  • Alto Tietê: 38% (-0,9% em relação à semana passada)
  • Guarapiranga: 50,7% (+0,7%)
  • Cotia: 41,3% (-1,6%)
  • Rio Grande: 82,5% (+0,5%)
  • Rio Claro: 41,5% (-3,3%)
  • São Lourenço: 67,2% (-0,9%).