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Ministro nega ter omitido divulgação de dados do desmatamento antes da COP

Para Leite, seria "irrelevante" divulgar dados que evidenciam o aumento do desmatamento antes ou depois da COP26 - Adriano Machado/Reuters
Para Leite, seria 'irrelevante' divulgar dados que evidenciam o aumento do desmatamento antes ou depois da COP26 Imagem: Adriano Machado/Reuters

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

22/11/2021 14h12Atualizada em 22/11/2021 15h10

O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, negou ter omitido a divulgação de dados sobre o desmatamento na Amazônia pouco antes da realização da COP26. A declaração ocorreu em uma conferência realizada hoje pelo Itamaraty para apresentar um resumo da participação brasileira na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) concluiu estudo com dados de desmatamento da Amazônia em 27 de outubro e inseriu o relatório no sistema eletrônico de informações do governo federal no mesmo dia. O documento, no entanto, só foi divulgado em 18 de novembro.

A pesquisa com dados do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite) mostra uma devastação de 13.235 km² entre agosto de 2020 e julho de 2021, índice mais elevado desde 2006. O número representa um aumento de 22% em relação ao período anterior.

Para Leite, seria "irrelevante" divulgar dados que evidenciam o aumento do desmatamento antes ou depois da COP26, pois a natureza do evento não seria momento "para apontar fragilidades" dos países participantes, e sim para buscar a construção de acordos e consensos.

O ministro destacou, por exemplo, a criação do mercado mundial de carbono.

"(...) Ninguém ia apontar as fragilidades do outro. Ali não era o momento para apontar fragilidades. Seria irrelevante apontar esses números antes ou depois", disse o chefe da pasta do Meio Ambiente. "O contato que tivemos com os dados foi na mesma data em que eles foram apresentados para todos da sociedade."

Os dados do Inpe geraram constrangimento para a delegação brasileira que participava da COP26, em Glasgow. A divulgação de recordes negativos de desmatamento ocorreu no momento em que a comitiva tentava expor ao mundo a ideia de que o país estaria comprometido com uma política ambiental sólida.

Publicada hoje (22), reportagem do colunista do UOL Rubens Valente mostra imagens inéditas de desmatamentos, gado espalhado ilegalmente e ações de grilagem dentro da Terra Indígena Piripkura, em Juína (MT). O material foi divulgado pela campanha "Isolados ou dizimados".

Os dados de satélite indicam "uma verdadeira explosão no ritmo do desmatamento" dentro do território Piripkura, com um aumento de mais de 27.000% nos últimos dois anos, de acordo com a campanha.

A iniciativa "Isolados ou dizimados" é promovida pela Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), pelo OPI (Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato) e organizações não governamentais como o ISA (Instituto Socioambiental) que fez as imagens em sobrevoos com o fotógrafo Rogério Assis.

Isolamento na COP26

Na entrevista concedida hoje, Leite buscou colocar o Brasil como protagonista das negociações para criação de um mercado global de carbono, afirmou que tal iniciativa foi um "gol" para o país e criticou as nações de maior poder econômico (principais emissoras de poluição).

Na visão dele, em relação ao financiamento global de ações climáticas, houve uma "gigantesca frustração global", pois os países ricos não teriam feito o "dever de casa". De acordo com o relato do ministro do governo Jair Bolsonaro (sem partido), autoridades internacionais chegaram à COP sem propostas concretas e viáveis para injetar recursos em ações e programas de defesa ambiental.

"Houve uma gigantesca frustração global em relação a financiamento climático. O que aconteceu com os países desenvolvidos industrializados é que eles não se prepararam para essa Conferência do Clima."

Apesar do esforço para pintar cenário favorável, a participação do Brasil na COP acabou sendo marcada por isolamento e pelo segundo lugar oferecido a Leite no antiprêmio "Fóssil do Dia".

A "honraria", patrocinada por 1.500 entidades de combate às mudanças climáticas, foi pensada como uma homenagem às avessas por seu discurso de 5 minutos que aterrorizou ambientalistas durante participação oficial na COP.

Recheado de exageros, a fala de Leite defendeu a tese de que "onde há muita floresta há muita pobreza".