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Volume do Cantareira fica acima de 30% pela primeira vez em três meses

8.out.21 - Represa do rio Jaguari, em Vargem (SP), que compõe o sistema Cantareira, com 29% da capacidade - LUIS MOURA/ESTADÃO CONTEÚDO
8.out.21 - Represa do rio Jaguari, em Vargem (SP), que compõe o sistema Cantareira, com 29% da capacidade Imagem: LUIS MOURA/ESTADÃO CONTEÚDO

Letícia Mutchnik

Do UOL, em São Paulo

22/01/2022 04h00

O nível do Sistema Cantareira voltou a operar acima dos 30% no dia 19 de janeiro, após passar pouco mais de três meses abaixo da marca.

Na sexta-feira (21), o reservatório de água que abastece a região metropolitana de São Paulo estava com 30,2% de sua capacidade, de acordo com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). O manancial estava abaixo desse nível desde outubro de 2021, quando, no dia 3, registrou 29,9% de sua capacidade.

Se voltar a fechar um mês com volume acima de 30%, o reservatório pode voltar a operar em estado de alerta, registrado pela última vez em setembro —desde então, o sistema opera em estado de restrição.

Segundo as regras da ANA (Agência Nacional de Águas), o estado é considerado de atenção quando o nível fica entre 40% e 60%, de alerta quando está entre 30% e 40% e de restrição —o atual—, entre 20% e 30%. Abaixo de 20%, o nível é crítico.

"Fechar o mês em estado de alerta só mostra a gravidade da crise. Todos esses indicadores mostram a gravidade da crise. Em 21 de janeiro a gente estar com o volume em 30% não é uma situação confortável. Esse volume de chuvas que tivemos na primeira quinzena de janeiro pode dar a falsa sensação de que a situação está se regularizando, o que não é verdade", alerta o professor de pós-graduação em ciência ambiental do IEE (Instituto de Energia e Ambiente), da USP (Universidade de São Paulo), Pedro Luiz Côrtes.

Chuvas abaixo da média

A média histórica de chuvas nos meses de janeiro é de 263,7 mm. Mas até sexta só houve a precipitação de 171,8 mm, ou 65% da média para o mês.

"Na primeira quinzena de janeiro nós tivemos chuvas volumosas no Sistema Cantareira, mas a gente provavelmente vai fechar o mês com chuvas dentro da média ou levemente abaixo da média. O prognóstico para os meses restantes do verão (fevereiro e março) se mantém com chuvas abaixo da média", diz Côrtes.

Segundo Luz Adriana Cuartas, pesquisadora de hidrologia do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), "até hoje, 21 de janeiro, choveu 53% da média de outubro a março. Segundo os cálculos aqui, se estivesse na média, já deveria ter chovido 66% do que se espera para toda a estação chuvosa (...), faltam 2 meses para finalizar a estação chuvosa, e até hoje tem sido bem abaixo da média".

Recuperação do manancial

Para que o sistema pudesse se recuperar antes do período seco, o ideal era fechar o verão com volume em torno de 60%, diz Côrtes. Para alcançar o resultado, no entanto, "precisaríamos de chuvas muito acima da média, o que está fora do prognóstico", afirma o professor. "Normalmente no período de estiagem a gente consome de 20% a 30% do volume do Sistema Cantareira."

Além disso, o especialista conta com o La Niña como mais um fator para a falta de chuvas no ano. O fenômeno provoca diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental resultando em uma mudança nas precipitações.

"Havia uma perspectiva que ele [fenômeno La Niña] terminasse no verão, mas existe agora a possibilidade que ele se estenda além do verão, entre no outono e inclusive no inverno. Nas últimas ocorrências do La Niña vemos que ele tem provocado estiagem também em São Paulo. Então o prognóstico para além do verão é de uma redução maior das chuvas, abaixo da média do que seria esperado", explica.

Hoje nós comemoramos o fato do Cantareira estar nos 30%, mas nós estamos com um volume muito baixo para essa época, mesmo com as chuvas volumosas do início de janeiro."
Pedro Luiz Côrtes, professor de pós-graduação em ciência ambiental do IEE (Instituto de Energia e Ambiente), da USP (Universidade de São Paulo)

Veja o nível dos reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo, segundo a Sabesp

  • Alto Tietê: 48,9% (+1,4% em relação à semana passada)
  • Guarapiranga: 73,7% (+1%)
  • Cotia: 60,8% (+5,4%)
  • Rio Grande: 97,5% (0%)
  • Rio Claro: 43,9% (-1,9%)
  • São Lourenço: 89,4% (-3,9%)