John Wayne nasceu em 26 de maio de 1907 em Winterset, no Estado de Iowa. Ele faria cem anos de idade no próximo sábado. Figura solitária em meio à sua geração de astros de cinema, ele continua sendo uma imagem aparentemente permanente de masculinidade norte-americana.
Pode-se aceitar a sua representação de masculinidade, ou rejeitá-la. Mas não dá para ignorá-la.
Assim como Elvis, ele é um produto puro dos Estados Unidos, impensável em qualquer outra cultura. Mas ao contrário de Elvis, ele jamais enlouqueceu, e tampouco perdeu a fé na sua idéia essencial de justiça -sob vários aspectos, uma idéia de justiça extensiva ao mundo inteiro- e nunca tentou realmente se adaptar à mudança dos tempos. Felizmente, ele jamais se escondeu por detrás da ironia.
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John Wayne durante 'Rastros de Ódio' ('The Searchers'- 1956), do diretor John Ford |
Ele era John Wayne, e eis aqui cem motivos para cultivar a sua memória, algumas delas derivadas dos seus filmes, algumas baseadas em conversas com Wayne:
1. Porque ele amava o universo cinematográfico.
2. O seu jeito de andar.
3. "Você pode não gostar de todos os filmes, mas os meus fãs sempre retornarão porque eles sabem que eu não serei perverso, pequeno e, assim como um velho amigo, não os deixarei na mão".
4. Porque ninguém mais começou como um ator tão ruim, e acabou se tornando tão bom.
5. Porque ele encarnava a masculinidade norte-americana de meados do século, e impôs uma imagem sobre a nossa idéia de masculinidade do passado.
6. "Um homem deve fazer aquilo que acredita ser correto" ('Hondo - Caminhos Ásperos'/'Hondo', 1953).
7. Devido à forma gentil como era capaz de tratar uma mulher frágil.
8. Devido à forma rude como era capaz de tratar uma mulher forte.
9. 'Hondo- Caminhos Ásperos'.
10. Devido à sua ética de trabalho -em uma carreira como ator que durou quase 50 anos, ele estrelou, segundo as contas modernas, em 156 filmes.
11. "Não serei ludibriado, não serei insultado, ninguém encostará a mão em mim. Não faço esse tipo de coisa com os outros e exijo que os outros também não façam comigo" ('O Último Pistoleiro'/'The Shootist', 1976).
12. Porque de vez em quando ele trabalhava em quase todos as áreas relativas à criação de um filme, como apoio, figurino, atuação, produção e direção.
13. "Eu vou matá-lo, Matt" ('Rio Vermelho'/'Red River', 1948).
14. Pela maneira incrivelmente legal como ele engatilha o seu rifle, girando-o, em 'No Tempo das Diligências' ('Stagecoach', 1939) e 'Bravura Indômita' ('True Grit', 1969).
15. 'Legião Invencível' ('She Wore a Yellow Ribbon', 1949)
16. Porque tudo do que ele precisava para dominar uma cena era participar dela.
17. Porque apesar da sua reputação de invulnerável, aceitou avidamente a tarefa de fazer o papel de homens profundamente solitários que morrem.
18. 'Rio Vermelho'.
19. Pelo seu constante bom gosto quanto a diretores: John Ford, Howard Hawks, William Wellman, Henry Hathaway.
20. Pela forma como um ator de personalidade supostamente limitada era capaz de dar conta de tudo que atores jovens como Montgomery Clift lhe apresentassem como desafio.
21. "A fim de que não nos esqueçamos" ('Legião Invencível').
22. Porque quando trabalhou com Maureen O'Hara eles criaram um relacionamento inacreditavelmente doméstico que dizia respeito tanto a sexo quanto a amor.
23. Porque ele era dono de uma teimosia praticamente bíblica: fumou cem cigarros por dia durante décadas e, após perder um pulmão para o câncer, imediatamente começou a fumar pequenos charutos.
24. Porque tinha um senso de humor quanto à invenção conhecida como "John Wayne".
25. 'Rio Grande' (1950).
26. Porque ele era o primeiro a chegar de manhã e o último a sair.
27. Pela forma implacável como caminha através de um rebanho de gado no final de 'Rio Vermelho'.
28. "Se eu fosse você não faria isso" ('Hondo- Caminhos Ásperos').
29. 'A Longa Viagem de Volta' ('The Long Voyage Home', 1940).
30. Porque ele fazia qualquer papel, exceto o de um personagem fraco.
31. Porque criou Ethan Edwards, um dos personagens mais sombrios na história do cinema.
32. Porque ele era um homem grande que se movimentava como um dançarino.
33. Porque não importava se o filme era ótimo, bom ou terrível, ele ainda continuava sendo John Wayne.
34. A sua voz.
35. "Aquele será o dia" ('Rastros de Ódio'/'The Searchers', 1956).
36. 'Geleiras do Inferno' ('Island in the Sky', 1953).
37. Porque ele era capaz de dar conta da bebida alcoólica que ingeria.
38. Porque ele usou uma fantasia de coelho na série 'Laugh-In'.
39. Devido à expressão na sua face quando Kim Darby pede-lhe que seja enterrado junto a ela em 'True Grit'.
40. Porque quando ele dizia algo, estava falando sério.
41. 'Fomos os Sacrificados' ('They Were Expendable', 1945).
42. "República... Eu gosto da sonoridade desta palavra" ('Álamo'/'The Alamo', 1960).
43. 'Depois do Vendaval' ('The Quiet Man', 1952).
44. Porque ele era completamente diferente para diretores diferentes. Para Ford, ele era um romântico solitário; para Hawks, um profissional discreto.
45. Porque todas as suas mulheres foram latinas.
46. Por ser um dos primeiros atores que assumiram responsabilidade pelas suas carreiras ao fundarem as suas próprias companhias de produção após a Segunda Guerra Mundial.
47. Por produzir 'Sete Homens sem Destino' ('Seven Men from Now', 1956), um grande faroeste, e o segundo melhor filme (depois de 'Pistoleiros do Entardecer'/'Ride the High Country', 1962) já feito por Randolph Scott.
48. "Eu tenho fé em um ser supremo. Não acredito em religiões organizadas porque existem muitas delas e eu simplesmente não creio que Deus pudesse ser tão desorganizado a ponto de permitir que todas essas igrejas alegassem que o representam".
49. 'Sangue de Herói' ('Fort Apache', 1948).
50. Por ter fornecido o modelo para diversas gerações de fuzileiros em 'Iwo Jima, o Portal da Glória' ('The Sands of Iwo Jima', 1949).
51. Porque ele figurou nos Dez Maiores Sucessos de Bilheteria do Motion Picture Herald todos os anos de 1949 a 1973.
52. Porque ele nunca teve medo de contracenar com um outro ator dominante: Robert Mitchum, Henry Fonda, Lee Marvin, etc...
53. Porque sobreviveu fazendo papel de Genghis Khan em 'Sangue de Bárbaros' ('The Conqueror', 1956).
54. Porque não se importava de fazer o papel de um homem velho, gordo e de um olho só.
55. Devido ao motivo pelo qual se tornou ator: "Por US$ 75 semanais você pode ser um astro. Pulei dentro".
56. "Os faroestes estão mais próximos da arte do que qualquer outro gênero na indústria do cinema".
57. Porque ele nunca deu a mínima para os críticos.
58. Porque nas telas sempre quis uma mulher que estivesse inteiramente em pé de igualdade com ele.
59. Porque os seus personagens sempre estavam dispostos a arcar com as conseqüências das suas ações.
60. Por ter a integridade para colocar o seu dinheiro em filmes coerentes com a sua ideologia política e por produzir, dirigir e estrelar 'The Alamo' e 'Os Boinas Verdes' ('The Green Berets', 1968).
61. Pela expressão da sua face quando Dean Martin procura uma moeda em uma escarradeira em 'Onde Começa o Inferno' ('Rio Bravo', 1959).
62. 'O Homem que Matou o Facínora' ('The Man Who Shot Liberty Valance', 1962).
63. Pela maturidade e graça do seu caso amoroso com Patricia Neal em 'A Primeira Vitória' ('In Harm's Way', 1965).
64. Porque ele jogava xadrez muito bem.
65. Porque era leal.
66. "Você é terrivelmente bonita quando está brava" ('The Man Who Shot Liberty Valance').
67. Pela forma como deixou de usar a sua peruca na segunda metade de 'Asas de Águia' ('The Wings of Eagles', 1957), e pela maneira como a sua atuação é tão intensa que ninguém jamais percebe o fato.
68. 'O Céu Mandou Alguém' ('Three Godfathers', 1948).
69. 'Encha a mão, filho de uma cadela!' ('True Grit').
70. Ele jamais demonstrou um senso de posse desabrida durante toda a sua carreira.
71. Porque até a meia idade, ele próprio fazia a maioria das cenas perigosas.
72. Porque ele possuía uma maravilhosa coleção de bonecas dos índios Navajo, bem como esculturas Remington e Russel.
73. "Sei como obter o que quero. Não discuta; eu me torno inflexível".
74. Porque adorava cães, e não aqueles nos quais você deve estar pensando. Ele tinha pequenos springer spaniels e daschhunds.
75. Porque ele era capaz de passar a impressão de que padecia de uma tristeza terrível por debaixo do seu exterior heróico.
76. Porque o papel do cachorro em 'Hondo- Caminhos Ásperos' foi na verdade feito por Lassie, e quando ganhou o cão em um jogo de cartas do treinador Rudd Weatherwax, Wayne o devolveu.
77. Porque durante 30 anos a BBC exigiu um filme de John Wayne no dia de Natal.
78. "Já estive em mais filmes ruins do que qualquer outra pessoa do ramo".
79. "Dê ao câmera uma chance de fotografar algo além de paredes, portas e mesas de chá. Não deixe a sua estória morrer por falta de ar".
80. "Eu deixei de sair com a garota há cerca de dez anos. O que está muito bem, já que me esqueci do motivo pelo qual a desejava".
81. Porque o seu hobby favorito era pesca marítima de fundo.
82. "Nunca tive um problema com atores e atrizes na minha vida, nunca. E vejam que trabalhei com os melhores deles".
83. "Qualquer dia desses, venha visitar um homem gordo e velho!" ('True Grit').
84. Porque a sua bebida favorita era tequila.
85. "Tudo o que faço é vender sinceridade, e tenho vendido uma quantidade enorme dela desde que comecei".
86. Pela forma graciosa como encarou a doença que já estava acabando com sua vida em 'O Último Pistoleiro' ('The Shootist', 1976).
87. Porque quando estava morrendo de câncer, sofrendo dores indescritíveis, nunca reclamou.
88. Porque quanto mais um diretor o desafiava, melhores resultados obtinha.
89. Porque as palavras 'John Wayne' implicam em um ponto de vista que envolve não só os seus filmes, mas o mundo.
90. Porque ele tinha todos os 20 volumes de 'The North American Indian', de Edward Curtis.
91. "Maureen O'Hara é o meu equivalente feminino. Ela era capaz de me tratar com rudeza e eu de tratá-la da mesma forma".
92. 'Onde Começa o Inferno' ('Rio Bravo', 1959).
93. "Eu fiz 'Onde Começa o Inferno' ('Rio Bravo', 1959) porque não gostei de 'Matar ou Morrer' ('High Noon', 1952). Não achava que um bom xerife sairia correndo pela cidade como uma galinha de cabeça cortada pedindo auxílio a alguém".
94. "A única coisa com que me preocupei foi em saber se a audiência gostava dos meus filmes".
95. "Durante anos fiz o papel do homem que eu gostaria de ter sido".
96. "Tão certo quanto o girar da Terra" ('The Searchers').
97. A coisa mais difícil de se fazer em uma cena não é nada. O truque é tornar cada nuance mínima. Uma imagem que funciona é melhor do que vinte linhas de diálogo".
98. Porque a sua maior façanha foi a criação de John Wayne.
99. Pela forma como ele levanta Natalie Wood acima da sua cabeça em 'The Searchers', e a seguir a abaixa rapidamente para segurá-la como se ela fosse uma criança.
100. Pela sua bondade e generosidade para com um jovem escritor 35 anos atrás.