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26/06/2007 - 00h35

Mais sexo por favor, somos economistas

Freakonomics
Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt
Entrevista com o economista Steven E. Landsburg Steven

E. Landsburg não é conhecido por suas opiniões moderadas. Um professor de economia na Universidade de Rochester, no interior de Nova York, e um escritor prolífico, Landsburg habitualmente apresenta teorias provocantes em sua coluna na revista online Slate, afirmando que as mulheres não conseguem suportar pressão ou explicando como a avareza é uma forma de generosidade.

Ele é o autor dos livros "Armchair Economist" e "Fair Play", que são de certa maneira precursores diretos de "Freakonomics". Seu último projeto é um livro tipicamente ousado chamado "More Sex Is Safer Sex: The Unconventional Wisdom of Economics" [Mais sexo é sexo seguro: a sabedoria anticonvencional da economia].

Nós lhe fizemos algumas perguntas sobre seu novo livro. Para que fique tudo claro, Landsburg fez a resenha de nosso livro "Freakonomics" no "Wall Street Journal" e foi o tipo de resenha que deixa alguém rubro de felicidade. Mas não é por isso, é claro, que estamos fazendo esta entrevista.

Muitas histórias do seu livro se baseiam na idéia de que as pessoas deveriam modificar seu bem-estar pessoal pelo bem maior - por exemplo, homens que não têm doenças sexualmente transmissíveis deveriam se tornar mais ativos sexualmente para dar às mulheres saudáveis parceiros livres de doenças. Em nossa sociedade, é possível pôr em prática esse tipo de idéia?

Claro. Colocamos em prática essas idéias o tempo todo. Achamos que os proprietários de fábricas poluentes deveriam dar uma parte de seu bem-estar pessoal (isto é, seus lucros) para o bem maior, e os convencemos a fazer isso por meio de autorizações de emissões negociáveis (quando estamos sendo inteligentes) ou através de regulamentos precários (quando estamos sendo burros).

Achamos que os ladrões profissionais deveriam desistir de alguns aspectos de seu bem-estar pessoal (isto é, seus roubos) pelo bem maior, e os convencemos a fazer isso com a perspectiva de penas de prisão. Um tema de "More Sex is Safer Sex" é que algumas desconexões entre os interesses privados e públicos são surpreendentes e contra-intuitivas. O sexo casual é um desses exemplos. Se você é uma pessoa extremamente promíscua com uma alta probabilidade de infecção por HIV, você polui o grupo de parceiros toda vez que entra nele - e deve ser desencorajado, como qualquer poluidor deve ser desencorajado.

Mas a outra face disso é que se você for uma pessoa muito cautelosa, com uma baixa probabilidade de infecção - e uma baixa propensão a transmitir qualquer infecção que tenha-, então você melhora a qualidade do grupo de parceiros cada vez que você entra nele. Isso é o oposto de poluição, e deve ser incentivado exatamente pelas mesmas razões que a poluição deve ser desencorajada.

O senhor se esforça especialmente para encontrar exemplos contra-intuitivos para que as pessoas prestem atenção?

Eu gosto de enfatizar o contra-intuitivo porque estou convencido de que as verdades contra-intuitivas são ao mesmo tempo esclarecedoras e divertidas. Se você pudesse sempre confiar no senso comum, não adiantaria jamais pensar em alguma coisa. É quando uma experiência pensada vai contra o seu senso comum que você aprende alguma coisa. E geralmente se diverte um pouco no caminho.

Nós escrevemos bastante sobre a questão da doação de órgãos. O senhor é fortemente a favor de uma solução de mercado para os rins. Qual é a probabilidade de que isso realmente aconteça num futuro próximo? O senhor acha que o público é mais inclinado a fazê-lo do que as autoridades médicas e governamentais?

Não tenho certeza se sou muito bom para intuir as inclinações do público. Por exemplo, parece haver um consenso generalizado de que há algo errado na clonagem reprodutiva, embora eu não consiga entender por que as pessoas pensam assim. Também não consigo entender por que alguém seria contra uma solução de mercado para a falta de órgãos. Milhares de pessoas morrem todo ano por falta de um rim saudável, enquanto centenas de milhões andam por aí com rins que provavelmente não vão precisar. Isso é loucura.

O senhor afirma que a avareza equivale às doações de caridade no uso líquido de recursos, enquanto dar mais para uma única instituição é melhor do que dar menos para diversas. Qual é sua abordagem pessoal das doações de caridade? Quanto o senhor dá, e para quem?

A avareza equivale à caridade no sentido de que tanto o miserável quanto o filantropo se abstêm de consumir, o que torna mais bens disponíveis aos outros. Se você der o seu dinheiro, alguém poderá comer melhor. Se, em vez disso, você guardar seu dinheiro embaixo do colchão, ainda é verdade que alguém poderá comer melhor, porque o que você não comer estará disponível para outra pessoa.

Existe uma complexa cadeia de eventos nesse trajeto - você guarda dinheiro, o que faz cair o nível de preços, o que diminui o preço dos alimentos, o que permite que alguém compre mais comida -, mas você não precisa seguir toda essa cadeia para saber que se você comer menos haverá mais para alguém.

Então, se você quiser ser caridoso, tudo o que precisa fazer é guardar seu dinheiro, ou até mesmo queimá-lo. Mas essa não é a melhor maneira de ser caridoso, por que você não pode controlar quem recebe os benefícios.

A avareza é como um ato de bondade aleatório; a filantropia eficaz tem a ver com atos de bondade dirigidos. E eu afirmo no livro que um filantropo que realmente se importa em ajudar os outros geralmente escolhe uma única instituição de caridade e dirige suas doações para ela.

Se cem crianças estão morrendo de raquitismo e outras cem estão morrendo de escorbuto e você tem dinheiro suficiente para salvar duas crianças, não há um motivo particular para salvar uma de cada; você pode dar toda a sua contribuição para a Fundação Raquitismo ou para a Fundação Escorbuto.

De qualquer modo você salvou duas crianças. E se você tiver a menor suspeita de que uma dessas instituições possa ser mais eficaz que a outra, então é para ela que deve mandar todo o seu dinheiro. Levei muito tempo para entender totalmente esse argumento, por isso compreendo o fato de que os leitores com freqüência o acham difícil de engolir.

Acho que não quero comentar os detalhes das minhas doações, pelo mesmo motivo que não quero comentar sobre o que eu comi no café da manhã hoje. Não tenho nada interessante a dizer sobre minhas preferências particulares. São os princípios gerais, e não as excentricidades individuais, que realmente importam.

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