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Transportadoras se preparam frente ao aumento do risco de roubo de cargas na Ásia

Liz Gooch

Em Kuala Lumpur (Malásia)

  • Arte UOL

Era metade da tarde de um dia no início deste ano quando os trabalhadores de uma fábrica, no Estado malasiano de Perak, acabaram de carregar mais de 700 mil preservativos em um contêiner de carga. O contêiner foi então levado ao Porto de Klang, o porto mais movimentado do país e carregado em um navio com destino ao Japão. Foi um procedimento rotineiro para a Sagami Rubber Industries, uma empresa japonesa, mas quando o navio ancorou no porto de Yokohama no final de janeiro, os preservativos tinham desaparecido. “O contêiner estava vazio”, disse K.K. Leung, o gerente administrativo da fábrica da Sagami na Malásia, cujos colegas japoneses o avisaram sobre o roubo. O caso dos preservativos desaparecidos ganhou manchetes na Malásia, mas não foi um caso isolado, segundo grupos industriais. A Sagami, eles dizem, foi apenas outra vítima do roubo de carga, um crime nem sempre informado e que às vezes inclui sequestros violentos neste país do Sudeste Asiático. O transporte de carga entre os países na região da ásia-Pacífico é geralmente mais seguro do que em outras partes do mundo –como nas Américas, áfrica e Europa– segundo dados reunidos pela FreightWatch International, uma organização nos Estados Unidos que coleta informação sobre roubo de carga em todo o mundo. Mas o relatório da organização de levantamento global de ameaça, publicado em fevereiro de 2011, declara que “há pouca dúvida de que o roubo de carga e o risco à cadeia de fornecimento aumentaram por toda a ásia” –uma preocupação para as empresas internacionais à medida que o momento econômico se desloca para o Oriente. A Malásia, que fica ao longo de várias rotas de comércio importantes, é uma preocupação em particular. O país está se tornando cada vez mais uma passagem obrigatória, à medida que mais empresas enviam bens de e para a vizinha Cingapura, um dos portos mais movimentados do mundo, que é ligado a grande parte do restante do Sudeste Asiático por estradas pela Malásia. Grupos setoriais dizem que várias empresas têm adotado medidas preventivas como o uso de guardas armados para proteger seus caminhões na Malásia nos últimos anos, em meio à crescente conscientização da ameaça do roubo de carga. “Há um sindicato do crime na Malásia que é extremamente ativo”, disse Alvin Chua, presidente da Federação dos Transitários de Carga Malasianos. Ele acrescentou que esse grupo de bandidos tem se concentrado nos últimos anos em caminhões que transportam eletrônicos. A federação de carga promove sessões regulares de informação para seus 1.200 membros, nas quais discutem como melhor proteger sua carga, com medidas como a instalação de dispositivos GPS e a instalação de lacres eletrônicos nos contêineres para rastreamento de sua localização ao redor do globo. “Nós dizemos muitas coisas para nossos membros fazerem, mas ainda está acontecendo”, disse Chua. As medidas para aumentar a segurança parecem estar tendo um efeito. Números fornecidos pela polícia malasiana mostram que o roubo de cargas caiu nos últimos anos, de 357 incidentes relatados em 2006 para 60 no ano passado. Nos primeiros quatro meses deste ano, 21 incidentes foram relatados. Os números da polícia listam o número de incidentes, mas não o valor dos bens roubados. O superintendente Fadil Marsus, do Departamento de Investigação Criminal da polícia, disse que várias operações conduzidas pela polícia em cooperação com a indústria ajudaram a reduzir o crime envolvendo cargas. Mas o número preciso de roubo de cargas na Malásia provou ser difícil de identificar. As empresas relutam em relatar os roubos por temerem que a informação possa prejudicar sua reputação e aumentar o valor dos seguros, disse Tony Lugg, o representante para ásia da Associação de Proteção de Bens Transportados, uma organização sem fins lucrativos que fornece consultoria de segurança para empresas de tecnologia e logística. A associação estima que mais de US$ 22,7 milhões em bens foram roubados em portos, aeroportos, depósitos e caminhões malasianos de 2007 a 2010. Esses números dão à Malásia a distinção duvidosa de ter o segundo maior nível de roubo de cargas na região da ásia-Pacífico, depois de Hong Kong, em termos de valor de bens roubados, segundo os cálculos da associação. Diferente das autoridades de Hong Kong, a polícia malasiana não compartilha dados com a associação, que compila seus números com base em relatos das empresas e da imprensa. Devido ao desconforto das empresas na denúncia dos roubos, a quantidade de carga roubada na Malásia provavelmente é maior do que os números que a associação ou a polícia indicam, disse Lugg. Os roubos também tendem a ter uma natureza agressiva. “Os crimes são mais sérios na Malásia em comparação a Hong Kong, no sentido de que há sequestros ou alguma forma de roubo com violência”, disse Lugg. Armas, incluindo revólveres e facas, são usadas na tomada dos caminhões, ele acrescentou. A FreightWatch International, a organização americana, cita a Malásia e as Filipinas como os países na ásia que relatam ocorrências frequentes de roubo de cargas em trânsito com violência ou ameaça de violência. Independente de sua localização, a maioria dos roubos envolve “trabalho interno”, no qual alguém envolvido no transporte dos bens vaza a informação para os ladrões, disse Lugg. Ele disse que o roubo de carga é frequentemente realizado por grupos do crime organizado e pode resultar em milhões de dólares de prejuízos para as empresas, tanto em perda de mercadorias como em atrasos na produção. “Se componentes são roubados a caminho da fábrica, a fábrica poderá ter suas atividades paralisadas”, ele disse. Esse é o motivo para as empresas estarem gastando mais e mais dinheiro para tentar impedir esses roubos onerosos. Um executivo de uma empresa que fabrica semicondutores na Malásia, que falou sob a condição de anonimato devido à sensibilidade do assunto, disse que sua empresa aumentou as medidas de segurança após um de seus caminhões ter sido roubado há oito anos. A empresa agora exige que todas as suas transportadoras de carga cumpram medidas de segurança reforçadas, ele disse, incluindo checagem de antecedentes criminais dos motoristas, instalação de dispositivos de rastreamento por GPS, a presença de duas pessoas a bordo dos caminhões e a minimização de viagens noturnas. A TNT Express, a empresa multinacional de logística, aumentou sua capacidade de rastrear sua frota em 2005, quando introduziu sua Rede de Estradas da ásia, que cobre Cingapura, Malásia, Tailândia, Camboja, Vietnã, Laos e China. Usando dispositivos GPS instalados em todos os caminhões, e câmeras de circuito fechado de TV nos veículos transportando cargas mais valiosas, a empresa monitora a localização de seus caminhões que percorrem esses países a partir de um centro de controle de segurança em Kuala Lumpur. “Nós podemos monitorar os veículos 24 horas, 7 dias por semana”, disse David Stenberg, o gerente geral em Cingapura da Rede de Estradas da ásia da TNT. Na Malásia, a polícia confirmou que seis pessoas foram presas e 90% dos preservativos roubados foram recuperados. Leung, o gerente administrativo da Sagami Rubber Industries, disse que nenhum funcionário da empresa estava entre os presos. Ele disse acreditar que é mais provável que os culpados tenham ligações com os funcionários da empresa que transportou os preservativos, cujo nome ele não quis citar. “Eu duvido que nós a usaremos de novo”, ele disse.

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