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Sol, areia e... corrupção? Para os fugitivos, a Tailândia tem tudo

Thomas Fuller

Em Bancoc (Tailândia)

  • 05.sep.2005 - EFE

    A cidade de Pattaya, um balneário a sudeste de Bancoc, é mais conhecido por seus vastos trechos de bares de garotas

    A cidade de Pattaya, um balneário a sudeste de Bancoc, é mais conhecido por seus vastos trechos de bares de garotas

Venham a mim os teus traficantes de drogas, seus lavadores de dinheiro, seus criminosos foragidos, ansiando por respirar em liberdade... A Tailândia nunca anunciou a si mesma como um farol para fugitivos, mas o miserável refugo do mundo –para usar as nobres palavras gravadas na Estátua da Liberdade– parece vir para cá aos montes. Milhões de turistas, a maioria deles supostamente sem antecedentes criminais, viajam para a Tailândia a cada ano, atraídos pela boa comida, vida noturna animada e águas cristalinas. Os fugitivos vêm pelos mesmos motivos –mais a perspectiva, para alguns, de conseguir esperar até a prescrição de seus crimes. “A Tailândia é tradicionalmente um dos países que mais extraditam criminosos para os Estados Unidos”, diz um cabograma de março de 2009 da embaixada dos Estados Unidos, obtido pelo WikiLeaks. O cabograma lista a diversidade de fugitivos pegos na Tailândia ao longo dos anos: molestadores de crianças, narcotraficantes, lavadores de dinheiro e cibercriminosos, entre outros. O cabograma, que foi enviado da embaixada em Bancoc, conta 135 réus extraditados da Tailândia para os Estados Unidos nas últimas três décadas e outras dezenas de pessoas “deportadas diretamente”. Mas uma análise das manchetes recentes na Tailândia sugere que os fugitivos americanos são apenas uma nota de rodapé na longa lista de foragidos da Justiça de todo o mundo. Nos dois últimos anos, a imprensa daqui noticiou a prisão na Tailândia de alemães procurados por fraude e evasão fiscal; um homem suspeito de ser um chefão do crime sul-coreano; ladrões de banco tchecos condenados por roubar vários milhões de euros (e que fugiram para a Tailândia enquanto estavam soltos sob fiança, durante a apelação de seu caso); falsificadores de passaporte paquistaneses; um assassino filipino condenado, que era o homem mais procurado nas Filipinas, mas trabalhava como joalheiro em Bancoc; um traficante de drogas francês que achou que podia escapar da polícia usando o passaporte de seu irmão; o chefe do segundo maior sindicato do crime do Japão; um fugitivo israelense condenado por duplo assassinato na Bélgica, que viajava com um passaporte falsificado das Maldivas; um indiano procurado por enviar e-mails fraudulentos; um australiano suspeito de matar três pessoas de uma família; e um número aparentemente incontável de pedófilos. Acrescente à lista Viktor Bout, suspeito de ser um vendedor de armas internacional, que foi extraditado para os Estados Unidos em novembro, após uma longa batalha legal na Tailândia. Muitos criminosos parecem encontrar refúgio em Pattaya, um balneário miserável a sudeste de Bancoc, conhecido por seus vastos trechos de bares de garotas. Um cabograma separado dos Estados Unidos, de 2005, disse que os fugitivos americanos “passaram a residir em Pattaya ao longo dos anos, juntamente com pessoas que deveriam estar recebendo tratamento mental, mas não estão”. A sociedade desenfreada da Tailândia, suas autoridades flexíveis e alegria de viver a preços baratos são ímãs poderosos para os fora-da-lei de muitos países, diz John Burdett, um escritor britânico de romances criminais ambientados na Tailândia, que tratam do submundo do país. “Há vários pequenos motivos e um grande motivo para o jet set do submundo considerar a Tailândia irresistível”, disse Burdett em um e-mail. “Os pequenos incluem armas, garotas, jogatina, maconha e praias deslumbrantes, especialmente para aqueles recém saídos do confinamento.” Mas o que torna a Tailândia especialmente atraente, disse Burdett, “é a reputação internacional, merecida ou não, de uma força policial complacente e subornável”. Os líderes da Tailândia há muito reconhecem que há maçãs ruins –alguns diriam pomares de maçãs ruins– entre os policiais. O general Wiboon Bangthamai, o chefe da polícia de imigração do país, disse em uma entrevista que as autoridades em postos de fronteira remotos são conhecidas por seus computadores sofrerem panes inexplicáveis quando pessoas cheias de dinheiro buscam cruzar as fronteiras tailandesas ilegalmente. “Os oficiais em pequenos postos de controle de fronteira quebram os computadores e os deixam entrar”, disse o general Wiboon. Os cabogramas americanos apontam para uma força policial fraca, um país preocupado com problemas políticos e uma geografia inconveniente. “As fronteiras da Tailândia são longas e extremamente porosas, de modo que o país fica vulnerável a elementos criminosos internacionais de todo tipo”, disse o cabograma de 2009. Outro motivo para a Tailândia ter dificuldade para conter seu problema com fugitivos é que suprimir o que torna o país atrativo para os mais procurados poderia atrapalhar o setor bilionário de hospedar todos os turistas sem antecedentes criminais. O etos de vale tudo da Tailândia, destacado mais recentemente em “Se Beber, Não Case! Parte 2”, se soma à hospitalidade que frequentemente parece cega aos antecedentes e aparência de um estrangeiro. Os distritos de luz vermelha de Bancoc ficam lotados de estrangeiros de olhos vidrados, beberrões de cerveja, que não destoariam em um cartaz de procurado na parede do correio. Mas como notou um consultor do governo tailandês, pode ser difícil distinguir entre os criminosos e os banqueiros de investimento em férias. (Em alguns casos, eles até mesmo poderiam ser os mesmos.) O departamento de imigração diz que reformará seus sistemas de computadores nos próximos dois meses, uma atualização que combinará toda a informação sobre os estrangeiros que entram e saem na Tailândia. No momento, os dados das principais travessias por terra do país são armazenados separadamente das chegadas e partidas nos aeroportos internacionais. Os fugitivos “encontrarão mais dificuldade para entrar”, disse o general Manoo Mekmok, comandante da divisão de investigação e interrogatório do departamento de imigração. “Resumindo, muitos terão que mudar seu destino.” Mas analistas do sistema de imigração da Tailândia dizem que as mudanças dificilmente purgarão a Tailândia da ralé estrangeira. Aquele que supostamente seria um centro de comando para rastreamento de fugitivos, em um prédio do governo em Bancoc, estava escuro, mofado e vazio em uma visita recente, inativo devido à falta de fundos, segundo funcionários. E mesmo em casos de grande destaque, os suspeitos na Tailândia às vezes simplesmente desaparecem. Em maio, um homem dos Emirados árabes Unidos foi acusado de traficar animais ameaçados de extinção, após ser preso no principal aeroporto de Bancoc com quatro bebês leopardos, um bebê urso e dois macaquinhos. O caso ganhou destaque na imprensa da Tailândia, em parte devido à novidade da tentativa de contrabandear um grande número de animais pela segurança do aeroporto. Mas duas semanas depois, a polícia, sem fornecer detalhes, disse que o suspeito tinha faltado na audiência no tribunal e que fugiu do país.

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