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21/06/2009

Indonésia abre "lanchonetes da honestidade" para combater corrupção

The New York Times
Por Norimitsu Onishi
Em Samarinda (Indonésia)
A Indonésia, que não é um país conhecido por sua transparência nos negócios, na política e em muitas outras áreas, está promovendo avanços em sua antiga política anticorrupção abrindo "lanchonetes da honestidade", sem funcionários no caixa, em todo o arquipélago.

Durante o intervalo das aulas numa manhã recente, Selica Erlindi, 15, estudante de segundo grau que quer ser pediatra, pegou uma bebida e um pacote de mandioca frita das prateleiras da "lanchonete da honestidade" local. Depois, cumprindo com o objetivo da lanchonete de nutrir a integridade entre os consumidores e na sociedade como um todo, ela depositou, de acordo com o sistema de honra [em que o consumidor paga o quanto quiser], o equivalente a 60 centavos dentro de uma caixa de plástico transparente.

"Isso nos motiva a sermos honestos", diz Selica. "Principalmente porque há muita desonestidade na sala de aula, pelo menos estamos aprendendo a sermos honestos com o dinheiro. Acho que também é importante para a sociedade, porque a corrupção é um grande problema na Indonésia."

Como parte da campanha nacional liderada pelo gabinete da Procuradoria Geral, o governo provincial da costa leste da ilha de Borneo abriu uma dezena de lanchonetes da honestidade em escolas e repartições públicas no mês passado. Em 2010, o governo provincial planeja ter mais de mil lanchonetes assim em operação, inclusive em estabelecimentos privados.

O gabinete da Procuradoria Geral diz que as lanchonetes da honestidade irão cortar pela raiz as tendências de corrupção entre os jovens e corrigir aqueles que já são conhecidos por serem corruptos, a começar pelos servidores públicos. Ao transferir para os clientes a responsabilidade de pagar o preço certo, as lanchonetes querem obrigar as pessoas a pensarem constantemente se estão sendo honestas e, assim, fazer com que elas se sintam culpadas quando não estão.

"Sabemos que há muitos fatores por trás da corrupção, como o ambiente e as necessidades econômicas, e a honestidade é apenas um deles", diz Syakhrony, funcionário da Procuradoria Geral do Leste de Kalimantan que, como muitos indonésios, usa apenas um nome. "Mas para assegurar o cumprimento da lei, temos medidas de repressão e prevenção. As lanchonetes da honestidade são uma medida preventiva na nossa luta contra a corrupção."

As lanchonetes da honestidade são apenas parte de uma campanha mais ampla do governo para combater a corrupção endêmica na Indonésia. No ano passado, o país tirou o 126º lugar em transparência numa lista de 180 países feita pela Transparência Internacional, organização privada que monitora a corrupção em todo o mundo. A campanha anticorrupção, que foi bastante elogiada, tirou a Indonésia das últimas posições do índice anual e contribuiu para aumentar a popularidade do presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono.

Recentemente, entretanto, a campanha sofreu um duro golpe depois que o chefe da Comissão de Erradicação da Corrupção foi preso por suspeita de envolvimento no assassinato de um importante homem de negócios, por causa de um triângulo amoroso com uma carregadora de tacos de golfe. A Câmara dos Deputados da Indonésia, que a Transparência Internacional classifica como a instituição mais corrupta do país, tentou sem sucesso usar a prisão dele para impedir quaisquer outras comissões de inquérito contra os legisladores.

Desde que gabinete da Procuradoria Geral começou a campanha no final de 2007, 7.456 lanchonetes foram inauguradas em 23 províncias da Indonésia, de acordo com o National Youth Group, que trabalha com o gabinete. O grupo espera que até o fim do ano dez mil lanchonetes da honestidade estejam funcionando em 26 províncias, e tem planos para chegar a 33 províncias.

Até agora, as lanchonetes estão funcionando bem, disse o presidente do grupo, Dody Susanto. Mas ele disse que cerca de 5% tiveram dificuldades por causa de "gerenciamento ruim ou comportamento desonesto".

Na capital de Kalimantan do Leste, província rica em recursos naturais e com elevada taxa de corrupção, as autoridades foram adiante com o projeto apesar dos problemas recentes em Jacarta. A Escola de Terceiro Grau nº 1 tomou a dianteira da campanha local ao abrir sua lanchonete da honestidade em outubro passado, oferecendo salgadinhos e bebidas para os 1.050 estudantes. Eni Purwanti, professora de inglês que lidera a cooperativa responsável pela lanchonete, disse que a caixa de plástico que contém o dinheiro tem sido deixada sem supervisão, mas as notas maiores são removidas regularmente para "não tentar os alunos".

Uma vez, depois de uma semana de investigação, as autoridades descobriram que uma administradora da escola estava pegando salgadinhos sem pagar. "Ela disse que não sabia como pagar pelos itens", disse Purwanti.

Nenhum aluno foi pego roubando, disse ela, acrescentando que a lanchonete tem um lucro mensal saudável.

"O importante é que ela tem um efeito positivo nos alunos", diz o diretor Suardi. "A julgar pelos relatórios que recebi dos professores, a desonestidade na sala de aula diminuiu."

Alguns alunos, entretanto, não têm tanta certeza de que o sistema funciona. "Alguns dos meus amigos não pagam a quantia certa", disse Okirin Derkaranto, 16.

Okirin concordou que a corrupção é generalizada na Indonésia, dizendo que alguns de seus amigos costumam subornar os policiais de trânsito para evitar multas.

Zairin Zain, porta-voz do governo de Kalimantan do Leste, disse que as autoridades vão avaliar o desempenho das lanchonetes da honestidade depois de seis meses. Até agora, diz ele, elas parecem estar funcionando bem nas escolas, mas encontraram alguma "resistência" nas repartições do governo, inclusive na que ele trabalha.

Apesar de uma grande faixa anunciando o começo da campanha anticorrupção, a lanchonete da honestidade do governo provincial não parece fazer jus ao seu nome, como mencionaram alguns clientes no intervalo de almoço. A maioria dos fregueses paga na caixa registradora, e um funcionário fica sentado diante de duas caixas plásticas para aqueles que escolhem pagar pelo sistema de honra.

"A corrupção é um grande problema, mas prefiro não comentar", diz Eko Antarikso, 62, gerente da lanchonete, com um sorriso que talvez explique porque ela ainda não transformou seu estabelecimento num barômetro total da honestidade.

Um cliente, Lukman, funcionário do governo especializado em compras, pareceu cético em relação às lanchonetes da honestidade.

"O verdadeiro problema na Indonésia é que há falhas no sistema, no processo de aquisição, por exemplo, que dá às pessoas a chance de roubar", diz Lukman, mencionando as listas de compras obscuras, com preços inflacionados. As empresas que participam de licitações costumam enviar bandidos para assediar os funcionários de compras como ele para ganhar as concorrências, disse. Quando chega a época de avaliar as ofertas, ele e seus colegas se escondem num hotel para evitar o "estresse" dos concorrentes que os visitam no escritório.

"Acho que as lanchonetes da honestidade são boas", disse ele, "Mas, sabe, aqui é a Indonésia".

Tradução: Eloise De Vylder

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