Está chegando aquele dia tão esperado pelas lojas de brinquedos e pelas crianças. O dia do consumo, de acumular mais um badulaque na estante do quarto. Na minha casa, quando eu era criança, não tinha essas coisas, não. Meu pai nunca aceitou esse tipo de "dia de alguma coisa". Não tinha dia das crianças, dos pais, das mães, etc. Dizia: "Isso é feito para a gente ficar comprando, não é um dia especial". Mas aniversário, Páscoa e Natal tinha. O aniversário era "O Dia", e os outros dois, a família entrava na dança dos presentes, ufa! Com esses valores vindos de casa, já adulta sinto uma certa incoerência interna: tem anos que celebro, dou presente, faço algo especial, e em outros finjo que não existe. Uma vez, numa sessão de terapia, levantei essa questão. Ouvi algo que de alguma forma me satisfez. "Use esses dias para presentear com algo que a criança queira ao invés de passar o ano todo comprando coisinhas. Mas é importante explicar que é um dia inventado pelo comércio para poder vender", disse ela. Achei boa essa ideia de dar presentes em dias pontuais, mas ainda fico em dúvida em relação a esse consumismo atroz. Dia desses, meu filho voltou da escola dizendo que não pediria mais para eu comprar brinquedos e roupas, porque tudo que era produzido gastava muita água e gerava lixo. Hoje, acho que esse discurso é o que faz mais sentido. Sendo assim, proponho um Dia das Crianças cultural. Um cinema, um teatro, um passeio no parque com piquenique, um filme em casa com pipoca e bolo feito junto com os pequenos, e, depois, uma sessão de jogos de tabuleiros com a família toda envolvida. Com certeza, será um dia mais lembrado pelas crianças do que aquele brinquedo que depois de quinze dias vai estar coberto de pó na estante. PUBLICIDADE | | |