Humor, peladas, merchan e igrejas marcam ano da TV aberta em 2011

Ricardo Feltrin

Ricardo Feltrin

Neste dezembro de 2011, o programa Ooops! recebe o colunista Maurício Stycer, do UOL, para discutir quatro fatos que foram relevantes para a TV aberta no ano. Escolhemos quatro tópicos que abordam ao mesmo tempo conteúdo, programação, legislação e comportamento.

1) O Humor na TV aberta mudou. Com o desmantelamento da MTV, uma parte de seu humorismo mambembe, adolescente, chulo e popular migrou para a TV aberta. Ao mesmo tempo, ocorreram mais polêmicas no "CQC" e por Rafinha, que agiu e criou polêmicas com e à parte do grupo. Esse humorista tentou testar a liberdade de expressão, agredindo o bom senso e o bom gosto. Mas isso não tira seu talento. Sociedade reagiu contra Rafinha da mesma forma "baixaria" que Rafinha agiu na sociedade. Basta ver os milhares de comentários postados em qualquer notícia envolvendo o humorista.

Dessa vez, com Rafinha, a reação foi diferente da que houve sete ou seis anos atrás com o `Pânico'. Naquele tempo a polêmica foi mais pelo fato de o `Pânico' incomodar artistas, além de serem mal educados e grosseiros especialmente com estrelas globais. No caso do Rafinha, não. Ele não atacou globais, ele mexeu foi com a sociedade que, dada sua faceta `Rafinha', não surpreendeu em sua reação contrária, achincalhando-o.

2) Parece que há uma nova onda de peladas como "estrelas" da TV aberta. Panicats, Legendárias, Zorra Total, Melhor do Brasil. O erotismo visual voltou com tudo na TV aberta. Programas sobre problemas sexuais e conjugais também: Fernanda Lima, "The Love´s School", Christina Rocha. Erotismo e assistencialismo parecem sobreviver na TV neste novo século.

3) A falta de regulamentação clara transformou as TVs em 2011 em um bazar de horários. A TV aberta está virando uma mercearia visual e auditiva. A venda de horários para igrejas, shoppings, organizadores de leilão de joias e programas de carros passou dos limites há muito tempo. Mas o preocupante é a forma agressiva como as igrejas estão avançando na TV aberta: elas já têm 110 horas semanais só de igrejas. Onde isso vai parar?

4) 2011 foi o ano em que surgiu um novo esporte, que é a piñata com jornalista, colunista e repórter. Vimos todo tipo de ofensas a Jornalistas (Boninho, Tiago Leifert, Rafinha). Sem falar num dos maiores obstáculos da nossa profissão, que é a luta inglória para trazer notícia exclusiva ao leitor.

Artistas e seus assessores hoje se especializaram em nega simplesmente qualquer notícia. A Hebe nunca iria para a RedeTV, o Datena não ia voltar pra Band, a MTV não ia demitir, o ator ou atriz não foi afastado da novela, não é verdade que o programa vai sair do ar... Ou seja, se a gente depender de assessor, nós só publicaríamos releases sobre a peça de teatro ou o novo cabelo que a fula cortou. Nesse sentido, qualquer notícia desagradável é sempre uma "inverdade", "conspiração".

Na internet isso se reproduz contra todos os jornalistas, embora as críticas venham de pessoas que não são pagas. Quem critica algo da Record é porque está "vendido" para a Globo, se faz um comentário da Globo é porque está do lado do SBT, enfim, muitas vozes numa espécie de constante "democracia da opinião conspiratória".

Ricardo Feltrin

Ricardo Feltrin é colunista do UOL desde 2004. Trabalhou por 21 anos no Grupo Folha, como repórter, editor e secretário de Redação, entre outros cargos.

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