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Padilha mente sobre situação do saneamento em São Paulo

Pedro Tobias

Especial para o UOL

29/03/2014 06h00

Sou médico. Na faculdade, aprendemos cedo que a ética deve ser a mais importante qualidade da profissão. Quando falta ética, sinônimo de caráter, a pessoa pode ser vítima do oportunismo e se aproveitar das circunstâncias para tirar proveito em benefício próprio.

É o que acontece com Alexandre Padilha – que, em busca pelo reconhecimento popular que não obteve como ministro da Saúde, se utiliza da maior seca que atingiu São Paulo em 80 anos para tentar se promover de modo eleitoreiro. No intuito de sair do ostracismo, Padilha enxergou no infortúnio de milhões uma oportunidade pessoal, não se furtando a utilizar este mesmo espaço para fazer uma série de falsas acusações ao governador Geraldo Alckmin.

Talvez Padilha não estivesse em São Paulo em 1995, ano em que o PSDB assumiu o governo. Mais de 5,5 milhões de pessoas sofriam diariamente com rodízio de água na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Logo no primeiro momento foi implantado o Programa Metropolitano de Água, que, com 80 grandes obras e investimentos superiores a R$ 2 bilhões, terminou com o rodízio três anos depois.

Parece óbvio, mas não há como acabar com o racionamento de água de 5,5 milhões de pessoas sem planejamento e investimento.

De lá para cá, grandes obras têm sido realizadas regularmente, como a PPP Alto Tietê, concluída em 2011, que adicionou 5.000 litros por segundo de água tratada ao sistema de abastecimento metropolitano. Também foi aumentada a produção de água nos sistemas Guarapiranga, Rio Grande, Alto Cotia, Baixo Cotia e Embu-Guaçu, com mais 10.600 L/s.

Artigo do ex-ministro

Talvez Padilha não saiba,  mas órgãos insuspeitos do governo federal reconhecem a excelência de São Paulo nesta área [água]

Nos últimos 10 anos foram incluídos 15.600 litros de água por segundo no sistema que abastece a RMSP – suficientes para abastecer 4,7 milhões de pessoas.

O Cantareira, que já foi responsável por 60% do abastecimento da população atendida pelo Sistema Integrado da RMSP, atualmente participa com 48%, com tendência de queda para 37% em 2025. 

Está em andamento a construção do novo sistema produtor de água São Lourenço, uma PPP com investimento de R$ 2,21 bilhões e que vai adicionar mais 4.700 litros de água potável a cada segundo, com entrega em 2018. Estamos falando de obras já concluídas e outras em andamento: o nome disso é planejamento e ação.

Governo federal

Talvez Padilha também não saiba, porque não conhece o assunto e fica somente repetindo o que lhe sopram no ouvido, mas órgãos insuspeitos do governo federal reconhecem a excelência de São Paulo nesta área. No último “Atlas do Saneamento Urbano” publicado pelo IBGE, podem-se ler frases como: “Nesta unidade da Federação (São Paulo) houve melhorias e ampliações expressivas na rede de esgotamento sanitário, sendo o grande destaque nacional das redes de saneamento”.

Ou esta: “No quesito acesso à água, destaque para o Estado de São Paulo, onde a quase totalidade dos municípios tem abastecimento de água por rede geral em todos os distritos (...). Mais uma vez, o Estado de São Paulo destaca-se pela alta proporção de municípios e de distritos por município com tratamento da água distribuída”.

Mas, como médico e ex-ministro, com certeza Padilha sabe que, em consequência dos melhores índices de saneamento do Brasil, São Paulo é um dos Estados com menor incidência de doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado.

Aqueles que não fazem nada estão sempre dispostos a criticar os que fazem. É o caso de Padilha e do PT. O último levantamento publicado pelo Instituto Trata Brasil, o mais respeitado do Brasil na área de saneamento, demonstrou que apenas 8 das 114 obras do PAC saneamento lançado em 2007 foram entregues.

O levantamento aponta ainda que 60% estão paralisadas, atrasadas ou não foram iniciadas. Outro estudo do mesmo instituto demonstrou que, entre os países que mais avançaram em saneamento nos últimos 12 anos, o Brasil amarga a triste 112ª posição, atrás de países como Paraguai, Trinidad e Tobago, Iraque e Cazaquistão.

Isso em um país com 7,2 milhões de pessoas sem acesso a um vaso sanitário, o que coloca o Brasil entre os líderes daquilo que é chamado pela imprensa internacional de “ranking da vergonha”.

Talvez tenha sido por medo desta triste verdade que, no ano passado, o governo brasileiro vetou a investigação de uma missão da ONU que avaliaria a situação do acesso à água e saneamento no país. O veto foi anunciado sem nenhuma explicação razoável. A ordem veio do próprio gabinete da presidente Dilma Rousseff.

Precariedade

7,2 milhões de pessoas no país não têm acesso a um vaso sanitário, o que coloca o Brasil entre os líderes daquilo que é chamado pela imprensa internacional de 'ranking da vergonha'

Padilha, que parece não ter autocrítica, gostar de falar mal de São Paulo, principalmente da Sabesp. Mas a situação do saneamento no Estado é bem diferente da encontrada no resto do país, que está sob comando do PT já há longos 12 anos.

Vamos aos fatos: enquanto 36 milhões de brasileiros não têm água tratada em pleno século 21, segundo o próprio Ministério das Cidades, nenhum dos 645 municípios paulistas padece desse mal vergonhoso. Das 10 maiores cidades brasileiras com melhores índices de saneamento, nada menos do que 7 são paulistas (Trata Brasil).

A Sabesp fornece água tratada a 28 milhões de paulistas de 364 municípios (quase 70% da população do Estado), além de coletar 84% do esgoto gerado e tratar 78% dessa carga poluidora, índices infinitamente superiores ao resto do país. Hoje, 230 desses municípios já são chamados de “300%”: isso significa que têm 100% de água tratada, 100% de coleta de esgoto e 100% de tratamento de esgoto.

São Paulo vai atingir, já em 2014, a universalização (os “300%”) em todas as cidades que a Sabesp atende no interior e, até 2020, também no litoral e Grande São Paulo. Estamos próximos de um feito inédito no país, que deve ser comemorado e servir como bom exemplo para o Brasil.

Todos esses índices só foram alcançados porque a companhia investe em média R$ 2,5 bilhões por ano em saneamento, o que significa um terço de tudo que é investido em todo país. Ou seja, de cada R$ 3 investidos nessa área no Brasil, R$ 1 vem de São Paulo. No Brasil existem 26 Estados e o Distrito Federal. Mesmo assim Padilha prefere falar mal de São Paulo e da Sabesp.

Transporte

 Padilha também fala mal do ritmo de construção do metrô de São Paulo, que transporta 8 de cada 10 passageiros transportados por todos os metrôs do pais. Entre outras grandezas, ele afirma que o governador Alckmin só entregou 5 estações do Metrô na sua atual gestão.

Podemos comparar e perguntar quantas os governos da Bahia, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, todos governados pelo PT, entregaram nos últimos quatro anos? Padilha sabe a resposta: nenhuma.

Em São Paulo, há no momento 4 linhas do metrô em obras simultaneamente. No Rio Grande do Sul, as obras de uma única linha foram anunciadas em 2011 pela presidente Dilma, e reanunciadas por ela ano passado, mas até hoje não saíram do papel. Na Bahia, uma única linha já está há mais de 12 anos em construção e, até agora, nenhum passageiro foi transportado. No DF nem uma única obra foi feita nos últimos quatro anos.

Eleições

O novo rosto que o PT apresentou não esconde a velha face mais repudiável do partido, que tem a mentira e a baixaria como método

 Como é historicamente sabido, o PT não considera as eleições uma oportunidade para o confronto de ideias e debate de opiniões. O PT considera as eleições uma guerra pelo poder que o partido persegue a qualquer custo.

O ex-ministro vinha sendo apresentado como alguém que debate ideias e programas com civilidade. Porém, bastaram apenas alguns dias de pré-campanha para demonstrar que está no DNA de Padilha a lógica petista da guerra. E na guerra, como todos sabemos, a primeira vítima é sempre a verdade. O fato é que o novo rosto que o PT apresentou não esconde a velha face mais repudiável do partido, que tem a mentira e a baixaria como método.

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