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Controle de mudanças climáticas depende da redução do consumo

Paulo Artaxo

Especial para o UOL

01/04/2014 06h00

Atualmente, há um enorme consenso científico e uma crescente percepção popular de que as mudanças climáticas globais estão entre nós, afetando a temperatura de nosso planeta, aumentando o nível do mar, intensificando a ocorrência de eventos climáticos extremos e “endoidando” nosso clima.

Cooperação

Teremos que construir organismos multilaterais para administrar esta que é maior crise que nosso planeta já passou

Toda semana vemos nos jornais estudos cada vez mais contundentes dos fortes impactos socioeconômicos das mudanças climáticas. Os governos encontram-se a cada ano, desde o início da década de 1990, e nada acontece. Nenhum acordo global de redução de emissões foi assinado, vide as COPs (conferências sobre o clima) de Copenhagen, Durban ou mesmo a Rio+20. Por quê?

Bem, começamos por observar que, na longa história da humanidade, nunca tivemos um problema dessa abrangência. Até mesmo uma tribo remota de índios isolados na Amazônia, que nunca teve contato com o homem branco, vai ser afetada diretamente. Um esquimó vivendo na Groenlândia vai ser afetado.

Precisamos mudar toda a cadeia de produção e consumo de energia que move nossa sociedade. Isso não é tarefa fácil, e nem será resolvida em 5 ou 10 anos. Mas quanto antes iniciarmos esta tarefa, melhor para todos.

Já há um consenso de que nosso modo de consumo não é sustentável nem a curto prazo. Quando cada um dos 7 bilhões de habitantes em nosso planeta tiver seu carro, geladeira, TV e outros bens de consumo, estaremos todos fritos. 

E os países desenvolvidos, que têm privilégios no uso dos recursos naturais do planeta, não vão querer “baixar” seu nível de vida para que os bilhões que têm fome e não têm acesso à energia e à água possam ter uma vida minimamente digna. Este é o verdadeiro conflito global que as mudanças climáticas estão nos colocando.

Como resolver este conflito, sem que haja um sistema de governança global em funcionamento? A ONU não tem poder nem meios para atuar nesta questão.

Alternativas

Novos hábitos

O maior impasse é a redução do consumo de modo geral, pois isso vai contra o motor atual das economias de todos os países

Teremos que construir organismos multilaterais para administrar esta que é maior crise que nosso planeta já passou.  A perspectiva de aumento médio de temperatura de 2 a 5 graus, com intensificação de secas, enchentes, e destruição dos ecossistemas, como os conhecemos, é algo que nos escapa à percepção.

A possibilidade de ficar vulnerável pela menor oferta de energia é algo que os políticos não querem sequer imaginar. Mas, claramente, não temos escolha. Ou fazemos, ou fazemos. Temos que usar os recursos naturais do planeta de maneira muito mais inteligente que usamos hoje.

Temos que aumentar em muito a eficiência no uso da energia. É possível? Sim, sem dúvida. Já existe tecnologia para isso em larga escala. Mas a força econômica e política da indústria do combustível fóssil é muito grande, em todos os países, e seus lucros se baseiam na extração, no processamento e na venda de combustíveis fósseis.

Há alternativas em escala menor, como a energia eólica e solar, além dos biocombustíveis de última geração. Mas a maior questão é a redução do consumo de modo geral, pois isso vai contra o motor atual das economias de todos os países.  Dá para fazer diferente? Sim, mas, para isso, temos que mudar componentes importantes da estrutura da sociedade global, inclusive sua governança.

Escassez

Seremos 9 ou 10 bilhões de pessoas em um futuro próximo; ou usamos os recursos naturais de modo mais inteligente, ou o barco afunda

A questão de que habitamos um planeta comum, com recursos naturais finitos, está ficando cada vez mais clara. Podemos ter automóveis menores, mais eficientes e leves? Sim, sem dúvida. Podemos trocar de celular a cada 5 ou 7 anos? Sim, sem dúvida. Podemos ter hábitos alimentares satisfatórios e com menor uso de escassos recursos naturais? Sim, sem dúvida.

Temos outra alternativa a não ser seguir este novo caminho? Não, não temos. Seremos 9 ou 10 bilhões de pessoas em um futuro próximo, cada uma precisando satisfazer suas necessidades básicas. Ou usamos os recursos naturais de modo mais inteligente, ou claramente o barco afunda.

Temos que ter um sistema de comando também inteligente que mude a direção do consumo, das emissões e da maneira de usar nossos recursos naturais. Isso é urgente, pois não temos muito tempo. As mudanças climáticas já estão fazendo um senhor estrago, que é uma pequena amostra do que virá nas próximas décadas. Vamos mudar? Sim, pois não temos outro caminho. Como disse, ou mudamos, ou mudamos.

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