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Governo do PSDB em SP ignora significado de gestão

Emidio de Souza

Especial para o UOL

04/04/2014 06h00

Gestão se tornou uma palavra em voga nos últimos tempos. Grandes multinacionais e até empresas de médio porte buscam por soluções que facilitem e otimizem a gestão de pessoas, de recursos e de investimentos. No dicionário, gestão significa administração, gerenciamento e condução.

No governo do Estado de São Paulo, há 20 anos comandado pelo PSDB, a palavra é desconhecida ou simplesmente ignorada. A falta de gestão se revela em todos os campos analisados, para infelicidade geral da população que vive, trabalha e faz negócios no ente federativo mais rico do Brasil.

Transportes, segurança, saneamento e educação. Observadas e analisadas com cuidado e atenção, todas as áreas sofrem com má gestão e  má administração dos recursos e políticas públicos.

Os resultados estão aí, sentidos diariamente pelos 23 milhões de habitantes que circulam em São Paulo: violência descontrolada, apagão nos transportes, crianças saindo da escola mal sabendo ler e fazer operações simples de matemática, rios poluídos, índices de saneamento básico vergonhosos e, como se não bastasse, racionamento de água.

Os impactos da administração falha do governo de Geraldo Alckmin são percebidos na capital e no interior.

A vida de uma pessoa que mora em Guarulhos e trabalha no centro de São Paulo é dificílima, seja ela dona de automóvel próprio, seja ela dependente do transporte público.

A primeira visão é do rio Tietê. Referência do nosso Estado, o rio passa por um processo de despoluição há 22 anos. Já foram consumidos US$ 3,6 bilhões. E há alguma diferença? Nenhuma. Nosso amado rio, maltratado há anos, não apresenta um sinal de melhora sequer e deixa de ser fonte alternativa de transporte. Nas grandes cidades do mundo, como Paris, Londres e Nova York, as pessoas contam com o rio como um meio de locomoção.

Se o cidadão for fazer o trajeto de carro, enfrentará um congestionamento cansativo e duradouro, que se torna ainda mais longo em razão do odor que o nosso Tietê exala. Se a tentativa for de transporte público, a agonia será tão grande ou maior. Prometida desde 2007, a linha de metrô de Guarulhos está atrasada.

A segurança pública é tema que renderia por si só um único artigo. O medo tomou conta da população de São Paulo. Até no interior, que por muitos anos foi considerado um éden de segurança, a violência se espalhou.

Pesquisa de vitimização feita pelo Datafolha em parceria com o Ministério da Justiça apontou que 45,7% das pessoas se sentem muito inseguras na cidade de São Paulo.

O número de roubos (patrimônio e cargas) disparou e, de dentro dos presídios, facções criminosas comandam assaltos, roubos, assassinatos e usam livremente os celulares para orientar seus pares. Não é possível aceitar que um Estado como o nosso não consiga bloquear os sinais de telefone de dentro dos presídios - superlotados e sem qualquer política de reabilitação dos detentos.

O quadro da aprendizagem é dramático: no ensino médio, em português, apenas 26,8% dos alunos têm desempenho adequado; em matemática, o número cai para 4,8%, segundo dados do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação de Ensino Básico) de 2012. Quem tem filhos na escola estadual percebe isso.

Os dados sobre o saneamento básico nos deixam envergonhados. Somente 50% do esgoto é coletado e tratado pela Sabesp. O restante corre livremente para os rios e mananciais, tornando a crise do abastecimento ainda mais grave, pois não há alternativas de captação em outras fontes de água, que foram poluídas por esgoto doméstico e industrial.

O metrô também é um capítulo à parte. Enquanto a Cidade do México conta com mais de 200 quilômetros de metrô, São Paulo tem pouco mais de 74 quilômetros. E ambas as cidades iniciaram a construção no mesmo período. O governo tucano constrói em media 1,7 quilômetro de metrô por ano. Um taxista me disse outro dia: “se eu começar a cavar com uma colher, é capaz de fazer metrô com mais rapidez”.

Sem falar das panes sistemáticas nos trens, resultado também de equipamentos antigos e sem a manutenção necessária e, com contratos sob suspeição.

As empresas e indústrias também sofrem a consequência da falta de organização. O Estado de São Paulo não tem sequer um departamento ferroviário para planejamento, e o Ferroanel começa a sair do papel agora, com investimentos do governo federal.

Apenas 80 mil dos 2,5 milhões de contêineres que chegam no porto de Santos são transportados por trens. O restante das mercadorias anda pelas estradas, complicando a vida do povo paulista até quando tenta se divertir e ir viajar.

São dados que nos deixam angustiados, tristes e com uma dúvida latente: com tantas empresas instaladas no Estado e pautadas pela gestão, por que o governo do Estado de São Paulo não consegue aprender o significado desta palavra?

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