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Brasil subaproveita potencial de comércio com os EUA

Especial para o UOL

26/04/2014 06h00

Sem considerar governos, críticas ou barreiras, os brasileiros elegeram os Estados Unidos como parceiro preferencial. No ano passado, mais de dois milhões de brasileiros visitaram o território americano, 15% a mais que em 2012.

O Brasil é o terceiro país que mais envia turistas aos EUA, fora aqueles que têm fronteiras com os americanos. É o lugar de preferência para os brasileiros que migram: um milhão de cidadãos nacionais vivem e trabalham por lá.

Quando se trata de negócios, a importância da relação entre os dois países é mais evidente. A troca entre as nações chega perto dos US$ 60 bilhões anuais. Os EUA são os maiores investidores externos no Brasil – cerca de US$ 12 bilhões em 2012, e US$ 9 bilhões em 2013.

Mas são números modestos em relação ao que poderiam ser. Em 2012, o comércio com os EUA representava 23,8% do total do país. Se este percentual fosse mantido, hoje teríamos uma corrente comercial em torno de US$ 100 bilhões entre Brasil e Estados Unidos. As exportações daqui para lá despencaram no período. No ano passado, voltaram para o mesmo nível que estavam em 2006, US$ 24,3 bilhões.

Um acordo entre os dois países impulsionaria enormemente o comércio e traria muitos benefícios para o Brasil. Não só quantitativos, mas qualitativos. Quem exporta para os Estados Unidos precisa ter qualidade e competitividade para disputar qualquer mercado do mundo. E o Brasil não precisa de abertura comercial só para os Estados Unidos, precisa ampliar seu comércio com o mundo.

O Brasil, que tem 3,4% do PIB mundial, fica com apenas 1,3% do comércio internacional. Enquanto 70% a 80% do comércio global passam por acordos bilaterais e zonas de livre comércio, o Brasil tem apenas dois acordos de livre comércio ativos: um com Israel e outro com a Índia.

Ampliar o fluxo de comércio que já existe entre Brasil e Estados Unidos é o caminho mais natural e fácil para os dois países, com enormes afinidades geográficas e culturais.

Atualmente, há cerca de 6 mil empresas exportadoras brasileiras que vendem para os americanos, sendo que mais de dois terços (72%) dos produtos vendidos foram bens manufaturados e semimanufaturados, diferente do comércio com outros países, no qual o que mais exportamos são matérias-primas, com pouco valor agregado. E muitas vezes recompramos o mesmo produto beneficiado por um preço decuplicado.

Os EUA têm os maiores investimentos cumulativos no Brasil  – cerca de US$ 136 bilhões até 2013. O país é o principal destino dos investimentos americanos dentre os Brics, e entre a maioria das nações em desenvolvimento.

Em 2013, cerca de US$ 9 bilhões de investimentos diretos foram enviados ao Brasil. Na outra mão, o aporte financeiro brasileiro nos EUA aumentarou substancialmente: de US$ 900 milhões em 2006 para US$ 2,5 bilhões em 2013, chegando a US$ 4,7 bilhões em 2008.

Para o Brasil, fazer comércio com os Estados Unidos significa ter acesso ampliado ao maior e mais sofisticado mercado consumidor do mundo. Mais importante, ao facilitar nossas exportações aos EUA, inserimos a produção industrial brasileira na cadeia de suprimentos global.

Na economia globalizada, o Brasil vem perdendo espaço ao se isolar da corrente mundial de geração de produtos e, consequentemente, de valor.

A aproximação comercial entre os dois países geraria um círculo virtuoso, com aumento de competitividade da economia brasileira e geração de negócios, que trariam uma nova dinâmica para o sistema produtivo do Brasil.

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