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Enquanto milhões passam fome, 1,3 bi de toneladas de comida é desperdiçado

Especial para o UOL

06/05/2014 06h00

Atualmente, 842 milhões de pessoas ainda passam fome em todo o mundo. Por outro lado, sabemos que cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos é desperdiçada todos os anos. As consequências econômicas diretas do desperdício de alimentos, sem incluir peixes e frutos do mar, atingem o montante de US$ 750 bilhões por ano.

Mais da metade (54%) do desperdício de alimentos no mundo ocorre na fase inicial da produção, na manipulação, pós-colheita e armazenagem. O restante (46%) ocorre nas etapas de processamento, distribuição e consumo.

Geralmente, os países em desenvolvimento sofrem mais com as perdas durante a produção agrícola, enquanto o desperdício na distribuição e no consumo tende a ser maior nas regiões de renda média e elevada, que respondem por quase 40% do desperdício. Esse número é de 16% nas regiões com baixa renda.

Sabemos que, no geral, os países industrializados e os em desenvolvimento desperdiçam mais ou menos a mesma quantidade de alimentos: 670 e 630 toneladas, respectivamente. As frutas e hortaliças, assim como as raízes e tubérculos, são alimentos com a taxa mais alta de não aproveitamento.

Para se ter uma ideia clara do prejuízo causado pelo desperdício, a cada ano os consumidores dos países ricos desperdiçam 222 milhões de toneladas, o que quase equivale à quantidade de alimentos produzidos para alimentar a África Subsaariana (230 milhões de toneladas).

O nível mais elevado de desperdício de alimentos nas sociedades ricas resulta de uma combinação entre o comportamento do consumidor e a falta de comunicação ao longo da cadeia de abastecimento. Falta planejamento dos consumidores na hora de ir às compras.

Padrões estéticos desnecessários, logística de venda incorreta, prazos de validade incoerentes. Esses são alguns exemplos do problema do varejo. Entre os consumidores, o problema ocorre, principalmente, devido a má utilização dos produtos.

Esse desperdício não só causa grandes perdas econômicas, mas tem também gerado um impacto significativo nos recursos naturais dos quais dependem a humanidade para se alimentar.

A cada ano, os alimentos produzidos e não consumidos utilizam um volume de água equivalente ao fluxo anual do rio Volga na Rússia, e são responsáveis pela emissão de 3,3 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera do planeta.

Diante desse quadro, deve ser dada prioridade à redução do desperdício de alimentos. Além da redução de perdas resultantes de más práticas nas atividades rurais. É necessário um maior esforço para equilibrar a oferta e a demanda, para que não se desperdicem recursos naturais desnecessariamente.

Podemos trilhar alguns caminhos para combater o desperdício. No caso dos excedentes alimentares, a melhor opção é a reutilização dos alimentos na cadeia alimentar humana, através de mercados secundários ou da doação aos mais vulneráveis da sociedade. Se os alimentos não estão em condições para o consumo humano, a melhor opção é desviá-los para a cadeia alimentar animal, poupando recursos que, de outra forma, seriam necessários para produzir ração comercial.

Quando a reutilização não é possível, podemos pensar na reciclagem e na recuperação. A reciclagem de subprodutos, a digestão anaeróbia, a compostagem e a incineração com recuperação de energia permitem que se recupere a energia e os nutrientes provenientes do desperdício, o que representa uma vantagem significativa em relação aos aterros.

Em 2050, deveremos ser 10 bilhões de habitantes em todo o mundo. Para que tenhamos alimentação para todos é preciso que o combate ao desperdício de alimentos esteja no centro dos debates, tanto de governos, como dentro das nossas casas.

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