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Custos elevados encolhem mercado de cruzeiros no país

Especial para o UOL

09/05/2014 06h00

Os cruzeiros marítimos sempre embalaram sonhos de brasileiros, pelo encantamento das viagens, pelo glamour e o luxo dos navios, pelos roteiros fascinantes. A partir do ano 2000 os transatlânticos aumentaram as atividades em nossos portos para transformar aqueles sonhos em realidade.

O Brasil passou a fazer parte de um refinado circuito internacional de bom gosto e exclusividade, além de abrir ainda mais suas cortinas aos hóspedes estrangeiros para incrementar toda a indústria do turismo.

Ao mesmo tempo, o Brasil descobriu que os cruzeiros marítimos não traziam apenas esse lado romântico ou aventureiro para seus hóspedes, mas eram importantes ferramentas para incrementar a economia no país e nos municípios em que faziam escala.

Afinal, milhares de turistas desembarcam para movimentar o comércio local e podem ser atraídos pela beleza da cidade e pela simpatia de seu povo. E, principalmente, voltar a qualquer tempo. Há geração de empregos diretos e indiretos e desenvolvimento de pequenos e grandes negócios.

Em nome de tudo isso os cruzeiros marítimos cresceram de forma espantosa no Brasil, passando de 300 mil hóspedes em 2006 para quase 900 mil cinco anos depois, mesmo atravessando aqueles anos de crise global de 2008 e 2009 – uma expansão anual de mais de 30%, como bem poucos segmentos da economia - prova de que a demanda pelos cruzeiros ainda é bastante reprimida no país. O mercado comprovou que a escolha do Brasil estava no rumo certo. Mas havia pedras pelo caminho.

Durante todo esse tempo conseguimos vitórias importantes no ambiente de negócios do Brasil, além de não perdermos muito terreno para os entraves. Chegamos a ser o quinto maior mercado de cruzeiros no mundo e caímos para a sétima colocação, o que foi uma pena, pois divulgamos exaustivamente a situação e anunciamos ao governo quais projetos poderiam alavancar o setor e o turismo no país.

Seria importante para o Brasil reconhecer os benefícios trazidos pelos cruzeiros marítimos e estimular uma atividade primordial para o turismo em todo o mundo. Diante do silêncio, houve uma reversão.

Agora, devemos analisar a queda na oferta de leitos nos cruzeiros depois daqueles anos virtuosos. Na edição 2012/2013, por exemplo, ela foi 15% menor à anterior por causa da temporada mais curta – 5 meses, contra 7 da última estação – e com aumento de roteiros a partir de Buenos Aires.

Preponderante observar que no Brasil existem custos adicionais de cabotagem principalmente em relação a PIS/Cofins de charter e combustível (o que não ocorre no transporte de cargas). Como bem sabem os empresários brasileiros, penamos com uma das mais altas cargas tributárias do planeta e muita burocracia.

Ora, as grandes armadoras, quando preparam seus itinerários para as próximas temporadas, obviamente levam em consideração todas as variantes. A elevação de taxas no Brasil, por exemplo, faz com que as companhias busquem roteiros com menor custo e a capital argentina tem se apresentado mais atrativa. Aqui, além do custo Brasil e das taxas portuárias, o preço da praticagem (manobras nos portos) é  um dos mais caros do mundo. 

Outro fator muito importante que determina alterações para nosso país é a falta de terminais portuários para receber os cruzeiros. Com custos elevados e o impacto da questão tributária, o mercado brasileiro encolhe, enquanto crescem outros destinos, como Ásia, Austrália e Caribe.

Mas há espaço para reverter esse quadro, e ter a resolução dos gargalos é o primeiro passo para o país se firmar como um destino internacional de cruzeiros marítimos. É preciso que haja o claro entendimento da complexidade da atividade que tanta receita gera para vários países. Esperamos que algum dia seja assim também no Brasil. A Abremar, garanto, está fazendo a sua parte.

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