Torcer pelo Brasil na Copa não significa estar a favor da corrupção
Desde o início das manifestações populares, em junho de 2013, em Porto Alegre, que o brasileiro parece ter tomado gosto pelo ato de reivindicar. De maneira louvável, o povo foi às ruas e, num belíssimo gesto de patriotismo, exerceu o seu direito à democracia, exigindo a redução das tarifas de transporte, mais qualidade nos serviços públicos, o fim da corrupção etc.
Todavia, passado um ano das primeiras manifestações, dignas e justas, as reivindicações tomaram um único rumo. Todas as reclamações passaram a ter a Copa do Mundo como pano de fundo.
De uma hora para a outra, é como se todos os problemas do país estivessem vinculados ao evento. Do dia para a noite, o Brasil deixou de ser o país do futebol e se tornou o país da insatisfação.
Nos meses que antecederam a realização do Mundial, o país foi tomado por um pessimismo nunca antes visto. Para muitos foi o despertar do gigante, que agora tem voz e não deixa mais nada passar em branco.
A pesquisa encomendada pelo governo federal ao Ibope, sobre a percepção dos brasileiros da Copa do Mundo, concluiu que, apesar de torcer para a seleção canarinho, a maior parte dos brasileiros é contrária aos jogos, e acha que os benefícios serão menores do que os prejuízos.
Até aí, tudo bem. A liberdade de expressão e de pensamento é garantida pela nossa Constituição. O perigo, de fato, passa a existir quando o pensamento vira senso comum e torna-se incontestável.
Não há problema algum em ser contra a Copa e contestar qual será o legado que vai ficar. A armadilha está em se deixar tornar massa de manobra e, principalmente, tentar coagir quem não compartilha do mesmo pensamento.
De uma hora para outra passou a ser cult torcer contra. Na onda do compartilha e/ou curte, parece que a nova modinha é colocar água no chopp alheio. Cada erro é comemorado com um post no facebook e um tweet indignado.
E o pessimismo exacerbado traz, por de baixo do pano, os interesses de uma classe ou categoria, que, mais cedo ou mais tarde vai mandar a conta. Afinal, já diz o dito popular, não existe almoço de graça. E, claro, qualquer fracasso na realização do Mundial poderá ser usado como moeda de troca amanhã.
Assim como é nítido o direito de se manifestar, a premissa vale também, e de igual maneira, para todos aqueles que querem torcer a favor e aproveitar a Copa do Mundo no país. Uma coisa não anula a outra.
O fato de torcer pelo Brasil não significa que se está a favor da corrupção e das lambanças governamentais. Porém, é justo e também deve ser garantido o direito para que todos aqueles que vibram pelo Brasil e pelo sucesso do Mundial desfrutem esse momento.
O orgulho de vestir o verde e o amarelo não pode ser manchado e ou encoberto por escândalos políticos e, principalmente, pela coação digital produzida via redes sociais.
Queiram ou não, a Copa está aí. E, tomara, que ela seja um grande sucesso. Pra frente Brasil!
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