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Criação da Futebras será o fim da seriedade das disputas desportivas

Especial para o UOL

18/07/2014 06h00

Com os meus oitenta anos de idade, sempre fui um amante do futebol, corintiano, paulista e brasileiro. Acompanhei, pelo rádio e, posteriormente, pela televisão, as Copas do Mundo desde 1938.

Até 1938, o Brasil era desconhecido totalmente no mundo futebolístico. Naquele ano o Brasil apresentou um bonito futebol, com jogadores até hoje rememorados, e perdeu o título por um erro primário do melhor zagueiro do mundo, Domingos da Guia, apesar da brilhante exibição de outro craque – Leônidas da Silva, o “diamante negro”.

Depois disso o Brasil continuou ignorado, tendo, durante muitos anos, deixado de ganhar, reiteradamente, a Copa Sul-americana. A Argentina, naquela época, dominava o futebol do nosso continente, com jogadores de altíssimo nível (Di Stéfano, Sastre, Vaca, Carrizo, Boye e tantos outros) e administração firme e respeitada.

O Brasil, nesse período, passou desconhecido no mundo do futebol. A perda do campeonato de 1950, aqui no Brasil, apesar de ótimos jogadores, manteve esse descrédito. Em 1954 demos um vexame, inclusive com a presença de um técnico que se ressaltou pelas brigas e desordens que promoveu.

Em 1958 (tal qual como neste ano surpreendeu, positivamente, a Costa Rica) o Brasil deu uma aula magna de futebol ao mundo todo, e foi campeão na Suécia, com destaque, passando a ser conhecido pela frase “Brasil – um país de chuteiras”.

Quais as razões desse inesperado sucesso, que se alongou por muitos anos e novas conquistas? A resposta é simples: em 1958, o futebol do Brasil foi comandado por pessoas notoriamente honestas, firmes, com muita autoridade e respeito.

O líder dessa embaixada na Suécia - revelando que o Brasil é, realmente, o país das chuteiras - foi o comandante Paulo Machado de Carvalho. Não jogava, mas comandava com  autoridade e respeito.

O “técnico” Vicente Feola na verdade não era técnico, mas sim um ”administrador de futebol”. Paulo Machado de Carvalho, dono das Emissoras Unidas e, na época, da TV Record, era um administrador capacitado, de mãos firmes, honestidade e visão inigualáveis, autoridade respeitada e respeitosa, amante extremado do futebol, querido por todos os clubes. Acabou com domínios regionais.

Consequências da derrota em 2014

Ante o desastre ocorrido com o Brasil, em sua casa, nesta Copa de 2014, que comoveu e ofendeu o símbolo da nação brasileira e o elemento hegemônico da cidadania brasileira, todos estão reclamando. Todos apresentam novos caminhos para mudança do futebol sem demonstrar uma fundamentação séria e que abranja todos os lados.

Essas milhares de propostas, inclusive de governantes e políticos, neste ano de eleição, partem, cada uma de maneira diversa das demais, exigindo mudanças de jogadores, técnicos, dirigentes, torcedores. Isso ocorre inclusive com propostas que violam preceitos legais, constitucionais, e da própria dignidade humana.

O poder público, que sempre viu o futebol como um ato não só desportivo, mas  também político, agora se propõe a criar a “Futebras” (o sufixo “brás”, por lei, só pode ser utilizado nas denominações de empresas estatais, como, por exemplo, a Petrobras).

Se admitida, tornar-se-á uma “empresa pública”, administrada por funcionários públicos indicados, certamente, no e por interesse dos políticos, sem qualquer vínculo com o desporto. Será o fim, definitivo, da seriedade das disputas desportivas.

Será mais desastrosa do que a lei Pelé, que retirou dos clubes os atletas, inclusive dos “clubes formadores”, dando-os a empresários que só têm interesse nos cifrões dos valores que querem para seus bolsos.

Devem sim ser o desporto e suas direções devidamente regulamentadas por disposições legais, impedindo a perpétua permanência de “diretores” que só têm interesse em benefícios próprios.

Só vejo uma verdadeira mudança do bem mais precioso para todos os brasileiros – o futebol -, que é a adoção do sistema vitorioso de 1958 e 1962. Que é o de ter um comandante honesto, probo, respeitado e com autoridade.

Se possível, achar um novo Paulo Machado de Carvalho para fazer as reformas necessárias, com o único interesse de restaurar, repito, o renome brasileiro e a hegemonia da cidadania brasileira, que é o futebol.

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