Álcool transforma em tragédia a rivalidade entre torcidas e deve ser banido dos estádios
Passado o luto pela dolorosa derrota da seleção brasileira na Copa, é hora de fazer um balanço sobre um dos pontos mais polêmicos do campeonato: a venda de bebidas alcoólicas nos estádios. Entre os que beberam para esquecer ou para comemorar, o saldo de vandalismo, agressões e confusão assustou até Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa.
Ironicamente, é o mesmo homem que percorreu cada cidade sede do mundial fazendo lobby político para garantir que a marca de cerveja patrocinadora da competição pudesse comercializar seu produto para as torcidas. Preocupada em perder o patrocínio milionário, a Fifa exigiu que o Brasil adotasse uma lei especial para a Copa liberando a venda de cerveja dentro das arenas.
Incontáveis brigas dentro e fora dos estádios, depredação de estabelecimentos comercias e do transporte público que levava torcedores às partidas foram comuns durante o campeonato, e Valcke admitiu que a cerveja era parte do problema. Ele chegou a afirmar que se surpreendeu com nível elevado de consumo de álcool, declarando que “muitas pessoas estavam bêbadas e, quando se bebe, a violência pode aumentar”.
Foi justamente a relação entre bebida e violência que motivou diversos Estados brasileiros a banir a bebida dos estádios. O excesso de álcool potencializa discussões e abusos, podendo transformar em tragédia uma simples rivalidade entre torcidas.
Um levantamento realizado pela Procuradoria de Justiça de Minas Gerais apontou a queda da violência após o fim do comércio de bebidas nos estádios: as ocorrências policiais no Mineirão diminuíram 75%.
Em São Paulo, segundo o Ministério Público, esse número foi cerca de 90% menor em 2006 do que em 1996, ano em que foi sancionada a lei que bane o álcool das partidas de futebol.
Já em Pernambuco, ainda de acordo com o MP, os números também justificam os benefícios do veto: chegaram a ser registradas 1643 ocorrências antes da lei, contra 112 casos após a proibição.
Um estudo com dados das Copas de 2002, 2006 e 2010 - realizado pela universidade inglesa de Lancaster - apontou que até a violência doméstica contra mulheres e crianças aumenta nos dias de jogos. Isso está em grande parte relacionado ao consumo excessivo de álcool.
Lutei veementemente para sensibilizar a Câmara Municipal de São Paulo a não colocar interesses comerciais acima da legislação e, principalmente, acima da segurança, da saúde pública e das vidas humanas. Apresentei dados e mostrei vídeos que registraram episódios de violência causados por torcedores alcoolizados em Copas passadas.
Levanto a bandeira de que não podemos retroceder na conquista de banir o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios. O bem estar do cidadão e da família brasileira devem estar acima de qualquer interesse econômico e valer mais do que copos de cerveja.
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