Topo

Em desfiles de moda, roupa é coadjuvante e representação poética do estilista

Especial para o UOL

20/08/2014 06h00

Quando pensamos em tendência de moda, a primeira coisa que nos vem à cabeça é: de onde partiu essa ideia? Ou ainda: dá para usar isso? O mercado de moda funciona como uma cadeia, com elos intercalados e interdependentes. Cada coisa vem de um lugar e cada detalhe é importante.

Ao desfilar uma coleção nas passarelas, o estilista carrega seis meses de pesquisas que incluem, obviamente, informações de mercado e uma linha de pensamento para justificar seu tema e sua poesia.

A decisão sobre o que precisa estar em um desfile, numa campanha ou ir diretamente às lojas está calcada em um balanço prévio, que considera os itens que vendem sozinhos ou aqueles que precisam da força de uma imagem de moda.

Mas roupa já não é moda? Não é bem assim. O que vestimos é nossa identidade, um resumo básico de como nos apresentamos. Mas o que acontece no mundo hoje é reflexo do que vestiremos amanhã.

Sim, a moda é séria. É talvez uma das formas mais fáceis de entendermos períodos políticos, desenvolvimentos e progressos culturais. Através da vestimenta podemos compreender o que se passou em determinada época ou identificar crenças e tradições. Ou seja, determina quem somos.

Inspirações no cotidiano

Uma guerra hoje indica que muito em breve é possível que vejamos camisas camufladas ou bermudas em "tons exército" pelas ruas, retrabalhadas com bordados ou brilhos.

O cinema também contribui muito para o surgimento de uma tendência. As celebridades despertam desejos em simples mortais. Queremos ter aquele vestido, aquele cabelo, aquela vida e queremos também ser desejados. Bastam alguns dias para que a roupa que a protagonista vestiu no capítulo de ontem da novela das oito esteja nas vitrines dos shoppings.

É popularizando que a moda se torna moda. Uma determinada peça que em um primeiro momento parecia feia, ou até mesmo conceitual demais, posteriormente torna-se uma tendência mais acessível.

Blogueiros do mundo todo ditam o que é legal de se usar e até passam por cima ou desafiam críticas apuradíssimas de moda. Eles são os representantes comuns, aqueles que são iguais a nós e, portanto, podemos confiar.

Ainda assim, estão longe de serem os únicos a saberem o que será moda. Eles são o filtro. Com sua popularidade, apostam em determinadas tendências e passam de maneira simplificada - às vezes, até demais - ao público.

Posicionamento de marca

Porém, a coisa não é tão simples. No momento em que uma peça é desfilada, não queremos ver apenas a roupa, queremos também o espetáculo. E as marcas precisam disso para firmar seu posicionamento junto ao público consumidor.

É nesse momento que aparece a imagem de moda, que nada mais é do que uma representação poética de uma ideia através da roupa, ou seja, é o tema de uma coleção traduzida na figura que desfila à sua frente.

Em muitos casos, a roupa é coadjuvante. A performance, a atitude, o cenário, a ordem de entrada, a cartela de cores e a trilha sonora nos colocam em um ambiente facilitador para a compreensão do que o estilista quer passar.

Acessórios também ajudam na composição do look. A utilização de simbologias é o que pode diferenciar um desfile do outro, já que todos estão sujeitos às mesmas tendências. É a forma de se diferenciar. E aí aparece sempre uma pergunta: "mas dá pra usar isso?".

Existem desejos, gostos e, principalmente, coragem para tudo. Sempre há quem use, acredite. Porém não é porque a roupa foi apresentada daquela forma que é para ser usada assim. Aquela é a maneira artística, poética, que partiu de uma série de referências para o entendimento do que foi trabalhado.

Portanto, a tendência existe, claro. Mas a representação de cada marca perante as tendências é o que fará o comprador se identificar com elas. Através de desfiles, campanhas ou vitrines de suas lojas. Essa é a principal tendência.

  • O texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
  • Para enviar seu artigo, escreva para uolopiniao@uol.com.br