Topo

Pesquisas de opinião tradicionais inibem honestidade de entrevistados

Especial para o UOL

24/08/2014 06h00

Em anos de eleições, sempre vem à tona a discussão sobre acertos e erros dos institutos de pesquisa. Sondagens de opinião como as eleitorais são chamadas de quantitativas, e usam a teoria da amostragem como fundamento.

Amostra nada mais é do que uma parte do todo. Amostra de sangue é um bom exemplo. Não é necessário retirar todo o sangue para identificarmos como está, por exemplo, o seu colesterol e a sua glicose.

O mesmo ocorre com as pesquisas. Não é preciso entrevistar toda uma população para inferir sobre quem será o próximo presidente. Mas é importante entender que há um erro associado à amostra – popularmente conhecida como “margem de erro” -, já que nem todos os eleitores são ouvidos.

Isso não invalida, no entanto, os resultados das sondagens. A teoria da amostragem é profundamente estudada por matemáticos, estatísticos e cientistas. O problema das pesquisas tradicionais é o erro humano, que em pesquisas é chamado de viés.

Alguns dos erros passíveis de serem cometidos são:  amostral -quando uma parte da amostra é abordada equivocadamente-, de campo -aplicação incorreta do questionário- e de processamento –problemas de digitadores, codificadores ou analistas.

Este último viés pode ser exemplificado pelo caso do erro na pesquisa Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgada em abril último, a partir da qual o então diretor Rafael Guerreiro Osorio pediu exoneração do cargo. Foram divulgadas tabelas erradas na pesquisa que media a “Tolerância social à violência contra a mulher”.

Viés humano. Esse é o ponto. Como retirar o viés humano de uma pesquisa tradicional?  Ora, se todos os passos de uma pesquisa são conduzidos por humanos, é impossível!

Desde sempre, os pesquisadores buscam diminuir o viés humano, treinando melhor os seus homens de campo, criando barreiras contra erros ou fraudes na aplicação, checando respondentes, refazendo processos em busca de excelência.

Tudo isso tem sido absolutamente absorvido por toda a cadeia de pesquisas, do cliente ao entrevistador de campo, especialmente em sondagens divulgadas para a população em geral. Os leigos acreditam em tudo o que é dito a eles. Afinal, está embasado cientificamente. Pelo menos até agora.

Inibição de entrevistados

Além da possibilidade de erros, a maneira tradicional de fazer sondagens erra na metodologia utilizada. Ouso afirmar que os resultados de qualquer pesquisa realizada pela maneira tradicional são, no mínimo, parcialmente errados.

A parte científica da pesquisa, seguramente, irá necessitar de alguns anos e muitas teses para gerar novos paradigmas. O problema está no modo de aplicação dos questionários.

Primeiramente, as pessoas não se sentem confortáveis em saírem das suas atribuições, do seu cotidiano, somente para responder pesquisas.

Também é duvidosa a eficácia de um método que exige a interferência de um “entrevistador de campo” para aplicar um questionário estruturado para pessoas que até medo sentem de qualquer um que os aborde na rua.

A interferência do entrevistador também inibe a transparência na resposta de questões polêmicas ou invasivas. Nestes casos, os entrevistados respondem o que o seu interlocutor gostaria de saber. Ou pior, o a pessoa que está sendo abordada pode se sentir constrangida de falar o que pensa e acaba construindo uma resposta aceita socialmente.

A este fenômeno, os mais modernos estudiosos da pesquisa criaram também um termo em inglês denominado “satisficing”, que é um misto de “satisfazer” com “responder suficientemente”, e que em resumo, explica por que pesquisas são falsas impressões.

Nos últimos anos houve várias tentativas de “driblar o satisficing”, e parece que agora, finalmente, há uma maneira: utilizar o celular das pessoas para fazer pesquisa.

Ainda engatinhando no mundo, a chamada “mobile research” oferece vantagens irrefutáveis sobre as pesquisas tradicionais: não há interferência de entrevistadores, os resultados são medidos em tempo real, a conversa com os pesquisados ocorre sem barreiras geográficas e os entrevistados não têm medo de ser sinceros em suas respostas.

Do ponto de vista teórico, ainda não é possível eliminar a margem de erro. Mas a pesquisa feita com celular avança ao aumentar o alcance da amostra e diminuir a interferência humana. Portanto, cai o viés na aplicação de questionários, aumentando assim a qualidade dos resultados obtidos.

  • O texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
  • Para enviar seu artigo, escreva para uolopiniao@uol.com.br