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Dividir o agronegócio em vários ministérios não faz sentido

Especial para o UOL

01/09/2014 06h00

Recente estudo assinala que o consumo de proteínas, açúcar e gorduras vai aumentar. Isso vai acontecer devido ao aumento da população mundial, mas tendo agora o incremento da renda em diversos países como um vetor de crescimento preponderante.

A estimativa aponta para uma mudança no padrão global alimentar, no qual a qualidade dos produtos ganha terreno como fator-chave no comércio agrícola mundial frente ao volume do que é produzido.

Os dados são da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), em conjunto com a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Claro que quantidade exportada será importante, mas os produtos mais bem acabados  - que custam mais para serem produzidos, mas também valem mais - serão cada vez mais demandados. Esse novo quadro traz riscos e oportunidades para grandes players do agronegócio - como o Brasil – o que exigirá, no nosso caso, quebra de modelos, planejamento uniforme e ações rápidas e concatenadas.

Segundo esse mesmo relatório, os países emergentes deverão responder por 75% do aumento da produção agrícola global nos próximos dez anos.

Para se inserir de maneira competitiva neste novo cenário, o Brasil terá que implantar mudanças significativas no modo como encara seu relacionamento comercial com o mundo. Tem que agregar à sua já forte cesta exportadora de commodities o embarque cada vez maior de produtos industrializados.

Isso porque, mesmo a China – nosso refúgio importador – vem vendendo mais do que comprando de nós. Nos últimos cinco anos, os chineses adquiriram aproximadamente 111% a mais do Brasil mas, em contrapartida, venderam 171% a mais.

Cadeias globais de valor

O Brasil precisa, urgentemente, participar de modo ativo e decisivo da competição global, e isso passa pela elaboração de políticas que reconectem o país ao comércio mundial. No mundo das grandes cadeias de valor, criadas e geridas pelas principais empresas globais, não há competitividade possível se não houver integração e especialização.

Com base neste diagnóstico, o agronegócio é um trunfo geopolítico que temos, e que não podemos desperdiçar. Com um setor rural planejado, forte e estruturado, o Brasil tomará para si a responsabilidade de ser o “guardião da segurança alimentar do mundo”.

Para isso, o impulso e o fomento a condições favoráveis ao agronegócio devem estar na agenda do executivo como item de segurança nacional. Porque no Brasil, é o sucesso da economia de bases rurais que multiplica externalidades positivas para os demais setores.

Justamente pelo fato de estar espalhado por todo o país, o agronegócio se constitui no pilar e dínamo do nosso desenvolvimento. E esta valorização do agronegócio não passa mais só por oferta de recursos. Ao longo da última década, o setor foi fartamente irrigado com crédito. Esforço louvável, mas aquém do necessário.

Governança

Neste sentido, uma medida prioritária é a remodelação do Ministério da Agricultura, que está defasado e tem que se adaptar à realidade do agronegócio. A pasta carrega um operacional de quando o Brasil ainda era importador de produtos agrícolas. O ministério tem que passar por mudanças, atualizar sua estrutura, modernizar a gestão. Só assim vai atender a veloz, robusta e complexa dinâmica do setor.

O segundo – e não menos importante passo – requer uma reformulação completa da estrutura governamental que rege o agronegócio. De olho em planejamento estratégico e gestão eficiente, não faz sentido, por exemplo, dividir o maior negócio do Brasil em vários ministérios e agências.

Como tratar o setor da economia no qual temos as maiores vantagens competitivas de forma integrada quando este está pulverizado na máquina pública?

A ausência de diálogo e governança entre os órgãos ligados ao agronegócio cria políticas públicas medíocres, segmentadas e sem visão estratégica de Estado. Inicialmente, a proposta de união das pastas da Agricultura, Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário sob a perspectiva de uma convergência entre produção, proteção e inclusão deveria ser mais bem estudada.

O governo precisa ter uma visão pró-negócio, ancorada no raciocínio: o que, quem, quando, onde, como e por que produzir? É isso que precisa ser feito.

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