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Mulheres são responsáveis por idade ainda ser tabu em casamento

Especial para o UOL

16/10/2014 06h00

Se o corpo jovem é um capital, por que alguns homens preferem as mulheres mais velhas? Se o casamento com homens mais novos é algo destoante na nossa cultura, por que algumas mulheres preferem maridos mais jovens?

Pierre Bourdieu, em seu livro “A dominação masculina”, afirmou que a maior parte das mulheres francesas deseja ter um cônjuge mais velho e mais alto do que elas.

O autor mostrou que as mulheres se sentem diminuídas se o parceiro é menor ou mais jovem. Portanto, “elas só podem querer e amar um homem cuja dignidade esteja claramente afirmada e atestada no fato, e pelo fato, de que 'ele as supera' visivelmente”.

A demógrafa Elza Berquó afirmou que homens que se casam com mulheres mais jovens são uma constante praticamente universal e esse fato se deve à relação de poder entre os sexos. Embora as relações de gênero venham se tornando menos assimétricas em alguns contextos, não tiveram ainda impacto visível na diferença entre as idades de homens e mulheres ao se casarem.

Ela acredita que, em uma sociedade em que impera a cultura do corpo e da juventude, é muito pouco provável que um número expressivo de mulheres se relacione com um homem muito mais jovem.

Não só porque esses jovens não se interessariam por elas, mas, principalmente, porque as mulheres mais velhas se sentiriam inseguras e ameaçadas com as marcas do envelhecimento, ainda mais ao competirem com mulheres mais jovens pelos mesmos parceiros .

Em função dos preconceitos existentes, as brasileiras olham para as faixas etárias acima de sua idade ao procurar um parceiro amoroso. Já os homens olham para baixo, em busca de uma parceira mais jovem do que ele. Portanto, a existência de um tabu da idade limita as chances de uma brasileira casar-se ou recasar-se quando está mais velha.

No entanto, a realidade do mercado matrimonial está mudando e cada vez mais mulheres estão olhando para faixas etárias mais baixas ao procurar um parceiro amoroso. O que explicaria o crescimento deste tipo de arranjo conjugal?

Ao analisar a lógica dos discursos masculinos, é fácil perceber que a ênfase está colocada na distinção de suas esposas com relação a outras mulheres. Para eles, elas são mais carinhosas, mais generosas e mais alegres do que as mulheres mais jovens. São também mais animadas, mais positivas e mais jovens de comportamento do que eles.

Os pesquisados destacam o cuidado como a principal característica de suas companheiras. São mulheres extremamente disponíveis, atenciosas e dedicadas, não só com eles, mas também com os filhos, amigos, familiares, pais, vizinhos, colegas de trabalho etc.

O cuidado - traduzido em carinho, atenção, disponibilidade e dedicação delas para com eles - pode ser apontado como o mais importante capital dessas relações.

É impressionante a quantidade de características positivas atribuídas por eles às esposas. Eles ressaltam que elas são: carismáticas, generosas, carinhosas, atenciosas, dedicadas, amigas, divertidas, alegres, bem-humoradas, engraçadas, risonhas, brincalhonas, animadas, compreensivas, parceiras, companheiras, dispostas, joviais entre inúmeras outras qualidades.

Um deles ainda disse: “ela não tem defeitos. Para mim, é a mulher mais perfeita do mundo”.

Neste sentido, elas são muito superiores a qualquer outra mulher, mesmo que mais jovem e bonita. Elas são especiais justamente por serem mais velhas, experientes, madura e seguras. Estes capitais acabaram se tornando muito mais importantes em uma relação amorosa do que um corpo jovem e bonito.

Para esses homens, a juventude feminina não é um valor, mas uma ausência dele. A juventude feminina significa cobrança, insegurança, imaturidade e infantilidade. A mulher mais madura pode lhes dar muito mais.

Interessante destacar que o maior preconceito com relação a este tipo de casamento vem, justamente, das mulheres.

São as próprias mulheres que são mais contrárias a este tipo de arranjo conjugal, não os homens. São elas que ficam mais inseguras, envergonhadas ou constrangidas por casarem com um homem mais jovem e são elas, também, as que colocam mais obstáculos.

Essa realidade sugere que o tabu da idade é algo, fundamentalmente, feminino. São as mulheres que demonstram muito mais impedimento e preocupação com o fato de serem mais velhas do que os maridos. Apesar de serem as que mais sofrem com os preconceitos e acusações, são as mulheres que mais resistem a destruir o tabu da idade. 

Está mais do que na hora de questionar as razões que levam grande parte das mulheres brasileiras a aceitar e fortalecer, com seus medos, inseguranças e preconceitos, o tabu da idade. 

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