Áreas residenciais de São Paulo não devem ser cobaias para entregas noturnas
A autorização concedida pela Prefeitura de São Paulo para a circulação de caminhões de entrega de mercadorias durante a madrugada no quadrilátero formado pela Marginal Tietê e as avenidas Pompeia, Pacaembu, Doutor Arnaldo e Heitor Penteado causa estranheza e grande preocupação aos moradores da região.
Contrariando o que se espera de uma administração democrática e preocupada com o bem estar da população, não houve consulta aos moradores, nem mesmo comunicação prévia sobre essa decisão da municipalidade, principalmente por tratar-se de uma região de tradição predominantemente residencial, que vem abrigando cada vez mais pessoas por conta do crescimento vertiginoso de oferta de apartamentos.
Até o momento não se sabe como e por que foi determinada esta região da cidade, se existem regiões com maior quantidade de comércio e menor densidade de residências, inversamente ao que acontece com o quadrilátero escolhido. Esses locais e a cidade como um todo certamente se beneficiariam mais.
Visto que há muito maior fluxo de caminhões e trânsito congestionado em áreas centrais, como a do Mercado Municipal, Barra Funda e avenida dos Bandeirantes, qual a vantagem que o experimento nesse local trará para a dinâmica da cidade? Lugares com entrepostos de abastecimento, de comércio intenso que já têm suas vias saturadas e de difícil estacionamento durante o dia certamente tirariam mais proveito dessa intervenção.
A lei determina o máximo de 45 decibéis a serem respeitados por todos durante a madrugada. Além do ruído do motor dos caminhões circulando e estacionando, existem a conversa e os alertas entre os entregadores que, somados ao barulho do desembarque de mercadorias, não são medidos no momento, mas causam grande incômodo.
Como a população poderá se proteger? A quem pedir ajuda e em quanto tempo será tomada a providência necessária? Sabe-se que o telefone 156 e os agentes do Psiu da Prefeitura não estarão à disposição para intervirem quando solicitados, principalmente fora do horário comercial.
Como será avaliado esse "ensaio científico"? Como será fiscalizado? Onde a comunidade poderá acompanhar o desenrolar dessa ação? Por que não há divulgação dos detalhes, do planejamento, da duração e dos resultados que se espera alcançar com essa autorização? Tanto segredo, tanta falta de transparência acaba deturpando a lógica e a lisura da proposta. Por isso cresce o medo entre os cidadãos de que tudo não passa de um tiro dado a esmo.
O bairro do Pacaembu tem poucos e pontuais estabelecimentos comerciais. É um bairro estritamente residencial, de ruas estreitas, tombado para preservar suas características e paisagem. Por isso é incompreensível estar inserido nessa experiência. Os bairros de Sumaré e Perdizes também têm caráter de habitações familiares.
Os moradores desses locais pagam um dos IPTU mais caros da cidade - muitas vezes com grandes sacrifícios – buscando mais qualidade de vida. O trabalhador, o idoso e as crianças que ali moram serão molestados terão o sono entrecortado pelo sobressalto das brecadas, buzinas, quedas de mercadorias e gritos dos entregadores e dos recebedores dos produtos. Certamente, estudantes e profissionais terão diminuição do rendimento no dia seguinte por não terem tido o justo descanso.
Os cidadãos estão preocupados com as impertinências dessa decisão da Prefeitura de São Paulo na vida dos moradores da capital. E reivindicam mais esclarecimentos e mais responsabilidade das autoridades no manejo da administração da nossa cidade.
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