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Governo tem mais poder de atrapalhar do que de ajudar economia

Especial para o UOL

29/10/2014 06h00

No domingo, 26 de outubro, democraticamente, a sociedade reelegeu Dilma para mais quatro anos na Presidência do Brasil. Se um marciano visitasse o Brasil no domingo à noite, o primeiro sentimento que ele teria é o de ver um país dividido.

É fato, e não pode ser ignorado, que esta campanha eleitoral foi agressiva. Abusou de ataques pessoais, muitas vezes dos próprios eleitores em redes sociais, e foi pouquíssimo propositiva. Uma pena, mais uma oportunidade perdida de se discutir um país que tanto precisa se desenvolver. Ofensas, “nós contra eles” e ataques deixaram marcas na sociedade brasileira que precisam ser imediatamente percebidas e curadas.

O que isso tem a ver com a economia? Tudo. A economia não se faz de conceitos abstratos, mas sim do fruto do trabalho e das atividades diárias da sociedade. As expectativas, otimistas ou pessimistas de consumidores, investidores, trabalhadores e empresários sobre o avanço do país são tão importantes que se tornam profecias autorrealizáveis.

Em economia, se todos esperam o pior, ele virá. Se há otimismo generalizado, sim, a vida das pessoas irá melhorar. A explicação é mais simples do que se pensa e não necessita de nenhum viés teórico. Otimismo leva a um maior consumo e mais investimentos, mais produto, menos inflação e mais emprego. O pessimismo reverte esta lógica. Este é o crucial efeito das expectativas em uma economia de mercado.

Qual o papel da política econômica sobre as expectativas? Novamente, grande. As expectativas da sociedade são fruto da percepção das ações de quem pode impactar a economia. Sem dúvida, o governo federal tem papel muito relevante aqui: o bom uso dos recursos arrecadados na forma de impostos e contribuições, o controle dos gastos em relação às receitas, o uso do Banco Central para garantir a estabilidade dos preços, a atuação regulatória garantindo o respeito aos contratos e a definição de regras claras e estáveis para o funcionamento da economia.

O primeiro compromisso do novo governo Dilma deverá ser o de resgatar as expectativas e a confiança do setor privado sobre a condução da economia. A queda da Bolsa neste ano e na última segunda-feira indica que o governo reeleito já saiu em desvantagem neste processo. A campanha convenceu pouco mais da metade dos eleitores, mas sem dúvida não convenceu os detentores do capital, os famosos capitalistas, e muito menos os 48,5% de eleitores que votaram na oposição. Todos nós - pobres e ricos, brancos e negros - pagamos impostos diretos e indiretos que sustentam os gastos do governo. Todos nós somos o patrão do governo e dele devemos cobrar.

O que esperar do próximo governo se este entender o recado de uma eleição ganha no limite?  A receita a ser seguida para uma boa condução da politica econômica é simples e óbvia. O bom uso dos recursos arrecadados significa o combate à corrupção, ter metas de superavit primário para controlar a dívida pública e perseguir a responsabilidade fiscal.

O Banco Central necessita de autonomia para decidir a taxa de juros sem influências ideológicas ou políticas. Sua função principal deve ser manter a inflação próxima do centro da meta de 4,5%.  Regras estáveis e claras implicam em eliminar truques contabéis nas contas do governo, respeitar contratos e, principalmente, represar a cornucópia de ideias intervencionistas e criativas que parecem surgir incessantemente nos ministérios. O ambiente propício para o crescimento econômico são políticas que beneficiem todos os setores (sem exceções) e deixem a economia funcionar com estabilidade e clareza de regras - sem mudar tudo o tempo todo.

Por fim, vamos deixar claro que o governo tem muito mais poder em atrapalhar a economia do que auxiliá-la na busca pelo desenvolvimento. Este talvez seja o maior equívoco da sociedade quando espera do governo a solução para os seus problemas.

Imaginar que o governo é responsável pelo nosso desenvolvimento econômico e nossa melhora de vida seria como atribuir à CBF a glória pelos nossos cinco títulos mundiais. Assim como coube ao talento dos nossos craques conquistar os títulos, coube e cabe ao nosso trabalho duro o desenvolvimento do país. No entanto, o 7 x1 para a Alemanha e os 7% de inflação e 0% de crescimento deste ano demonstram que mal planejamento, equipes mal montadas, falta de continuidade, excesso de prepotência e falta de clareza significam desastre.

Desejo ao novo governo boa sorte, sucesso e que os recentes resultados sirvam de sinais claros para que a nossa presidente busque a mudança tão clamada por todos nós. Mas que seja no rumo certo.

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