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Não há excesso de shopping centers em cidades do interior

Especial para o UOL

30/10/2014 06h00

Muitos olhares se voltaram para a indústria de shopping centers em 2014. Alguns, à procura  de novas oportunidades de negócios. Outros, em busca de respostas para entender como tantos investidores apostaram no setor nos últimos anos e como vão se posicionar diante das observações pessimistas de alguns analistas econômicos.

As oscilações da economia não são uma novidade, não só para o mercado de shoppings, mas para outros setores que têm que se adaptar aos altos e baixos das instabilidades que afetam o país e, ao invés de lamentar, buscam soluções viáveis para momentos de potencial crise.

Se, para estes empreendedores, altos investimentos estão em jogo, para os lojistas o cenário também é de desafios. Afinal, precisam traçar estratégias para acertar na escolha da melhor região e o perfil do público a atingir, antes de optarem por novos espaços para seus negócios.

Há outra questão que tem chamado a atenção: a migração destes empreendimentos para as cidades do interior. Algumas debutando com a chegada do primeiro shopping, outras impressionadas com o ritmo acelerado de dois ou mais novos centros comerciais.

Sinal de saturação e falta de experiência dos empreendedores? Será que especialistas neste mercado iriam arriscar em regiões sem potencial? Um erro básico de estratégia e muita confiança de que a economia não sofreria nenhum abalo e continuaria crescendo como na última década, quando os projetos agora sendo inaugurados foram previstos?

Talvez os olhares desconfiados devessem ir um pouco além das aparências. Antes da aposta em qualquer novo negócio, a indústria de shopping centers investe tempo e dinheiro para avaliar, de forma estratégica, as possibilidades do mercado onde irá erguer mais um empreendimento.

Este é um movimento contínuo, num negócio de longo prazo, pois shopping center não é uma indústria imediatista. É necessário entender os shoppings como equipamentos de geração de valor, de 50, 60 anos de vida.  Feitos para perpetuar. Daí ser emergente se planejar com uma visão de futuro.

Há alguns anos se dizia que a cidade de São Paulo não comportaria mais shoppings. Só em 11 quilômetros da Marginal Pinheiros eram nove. Também se achou que era um "boom" de oferta sem demanda. Esses shoppings sobreviveram, se aprimoraram e se acomodaram diante das necessidades de seus diferentes públicos.

E por que se consolidaram? Será que estes empreendedores possuíam uma bola de cristal para prever uma melhoria nos tempos mais difíceis? Seria bom se isso fosse possível. Na realidade, é preciso conhecer muito bem este mercado, com suas inúmeras particularidades. É uma decisão sobre bases sólidas e não uma aventura.

A escolha da localização é, sim, crucial. Determinar se o espaço é adequado ou não depende de muitos estudos da vizinhança e da microrregião e irão influenciar no seu entorno.

A intensa migração de investimentos para shoppings nas cidades do interior é fato, mas também não é uma surpresa, pois há uma capacidade comprovada de crescimento econômico e espaço físico para novos empreendimentos e negócios.

Daí alguns questionamentos em relação a uma superoferta de shoppings em algumas cidades. Se antigamente vir para conhecer um shopping nas capitais era até um atrativo turístico, hoje a população do interior quer seu próprio centro de compras e lazer e tem poder aquisitivo para isso.

Muitas regiões do interior de São Paulo têm alto poder de consumo e uma segura malha de deslocamento viário, o que contribui para que se tornem um polo de influência e consumo para outras menores próximas, que também podem se beneficiar destes novos projetos.

Afinal, é inegável que um shopping center é um imã para expansão ao seu redor, atraindo novos negócios na área imobiliária e comercial. É capaz de mudar a fotografia de localidades antes aparentemente esquecidas ou isoladas. Para atender sua demanda há uma mobilização para novos acessos, a melhoria dos já existentes, enfim, uma infraestrutura de valorização no seu entorno.

Diante deste cenário, é possível ainda considerar que a demanda estaria totalmente saturada em algumas cidades comprometendo o retorno do investimento? Os grandes e sérios empreendedores da indústria de shoppings não iriam ignorar estes limites estratégicos, o que equivaleria a dar um tiro no próprio pé.

Felizmente, o montante de dívida contraída pelas empresas que constroem imóveis comerciais é relativamente baixo, cerca de 20%, do total de crédito concedido pelos bancos. Muitos empreendedores atuam com recursos próprios e parceria com investidores. Não é um setor para novatos, pois não é tão fácil quanto parece.

É uma dinâmica complexa que exige experiência e muito estudo de viabilidade para que não só os empreendedores, mas também os lojistas tenham segurança no terreno onde apostam seus investimentos. 

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