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Governo tem que sinalizar meta concreta de redução de emissões de carbono

Especial para o UOL

02/12/2014 05h30

Começou ontem, em Lima (Peru), a COP20 (20ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas). Depois de um período de quase hibernação na opinião pública, o tema reapareceu com força na mídia quando, durante o encontro promovido pela ONU em setembro em Nova York, milhares de pessoas foram às ruas pedir aos líderes políticos mundiais ali reunidos que agissem diante da urgência climática global.

Apesar de ser considerada por muitos como uma conferência intermediária, a COP de Lima leva a responsabilidade de desenhar as estruturas básicas para o futuro acordo climático. O que já será uma grande desafio.

Além disso, a COP20 acontecerá na América do Sul, que reúne alguns dos países com as maiores florestas nativas do planeta, como o Brasil, e que apresentam também enormes vulnerabilidades ao iminente aquecimento global.

Nas negociações de clima, o Brasil sempre foi um país que trouxe contribuições, e, dessa vez, vai ao Peru com uma proposta de estrutura para o novo acordo. Tal sugestão é inovadora e tem o potencial de resolver um impasse que há anos breca o avanço de um acordo entre os 192 países que participam da convenção.

A proposta brasileira apresenta uma diferenciação na forma como os países irão se comprometer com a redução de suas emissões domésticas, mas tem em vista o objetivo global de reduzir os impactos das mudanças climáticas como um todo.  

Opiniã 1 - WWF

  • Em tempo de aguda crise hídrica e eventos climáticos extremos pipocando em todo o país, é preciso buscar a saudável coerência

    André Nahur e Maria Cecília, , sobre necessidade de novas metas para reduzir emissões de gás carbono

E já que o Brasil quer se engajar para valer nesse jogo, seria de se esperar, por exemplo, que o governo sinalizasse uma meta concreta para reduzir suas emissões após 2020.

A União Europeia já se comprometeu a reduzir pelo menos 40% de suas emissões até 2030; os Estados Unidos esperam cortar 28% até 2025, e a China falou em atingir o pico das emissões até 2030. Entre os maiores emissores de gases estufa, o Brasil tem que se apressar em desenvolver uma meta que seja coerente com a sua contribuição histórica nas emissões globais.

Porém, não tem sido esse o sinal que vem de Brasília. Nossas emissões no setor de energia mais que duplicaram na última década e a tendência é continuar aumentando com a priorização em hidrelétricas - que desmatam e liberam gás metano e gás carbônico - e, pior ainda, em termelétricas, altamente poluentes.

O PNE 2050 (Plano Nacional de Energia para 2050) prevê que a frota de automóveis nas ruas quadruplique até 2040, desconsiderando alternativas de transportes, como o aumento de transporte coletivo, por exemplo.  A pergunta é: qual o futuro que nos espera? Em tempo de aguda crise hídrica e eventos climáticos extremos pipocando em todo o país é preciso buscar a saudável coerência.

Com a COP20 ocorrendo em nossa vizinhança, temos de aproveitar a oportunidade e mostrar que os grandes impactados com as mudanças climáticas também são os que buscam estar na vanguarda da redução das emissões.

Nós, da América Latina, queremos rumar seguramente pelos caminhos do desenvolvimento sustentável, precisamos disso, e sabemos que é possível cumprir essa missão, ao mesmo tempo em que ajudamos a garantir a segurança climática para o mundo.

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