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Seleção de setores estratégicos para a economia não pode ser exótica

Especial para o UOL

20/12/2014 06h00

Cada país tem as suas próprias vocações, que dependem de sua localização geográfica, dos recursos naturais disponíveis, das opções políticas e ideológicas praticadas, do estágio de desenvolvimento alcançado e, principalmente, do tamanho e da qualificação da sua população ativa. Por isso, a economia de cada nação ocupa os seus cidadãos e lhes garante o emprego, preponderantemente, segundo os perfis de suas de suas próprias vocações em cada época.

Algumas amostras dessa diversidade são muito esclarecedoras. A Espanha, por exemplo, ocupa uma fração expressiva dos seus cidadãos nas atividades ligadas à indústria do turismo. Já a Inglaterra tem o mercado financeiro – cada vez mais – como a principal fonte geradora de empregos. Outra grande economia europeia, a Alemanha, mantém uma longa tradição de ocupar uma grande parcela da sua população nas atividades ligadas à indústria de base.

E no caso brasileiro, quais são as nossas vocações e aptidões? Que setores devemos incentivar e apoiar de forma planejada e consistente para garantirmos uma posição segura de emprego, conforto e renda nos anos vindouros? A experiência internacional aponta duas respostas importantes para todas essas questões.

Em primeiro lugar, qualquer que seja o conjunto de aptidões e vocações selecionado para incentivo, um crescimento real e consistente somente ocorre se se fizer acompanhar por níveis crescentes de educação e escolaridade. Em segundo lugar, a seleção de setores estratégicos para serem planejados, incentivados e apoiados, não pode ser exótica, mas tem que se harmonizar com a realidade nacional e suas vocações em cada época.

Portanto, nessa escolha, não podem ser desconsideradas informações de diagnóstico básico. Por exemplo, a nossa indústria de turismo, embora apresente um bom potencial futuro, está em estágio pouco evoluído de organização. Aí, e exatamente por isso, não podem ser feitas expectativas muito otimistas em horizontes mais curtos.

De seu lado, a agricultura nacional vem passando por um surto notável de desenvolvimento, principalmente pela incorporação de tecnologia avançada e por um aumento extraordinário de produtividade. Essa é uma característica especialmente válida para a produção de grãos com capital intensivo, não se repetindo na agricultura de base familiar, de baixa produtividade e demandadora permanente de subsídios, benefícios e apoio. De todo modo, em seu conjunto, o setor agropecuário está se mecanizando intensamente e, por conta disso, reduzindo os postos de trabalho no campo.

Opinião - Rubens Menin

  • Qualquer que seja o conjunto de aptidões e vocações selecionado para incentivo, um crescimento consistente só ocorre se for acompanhado por níveis crescentes de educação e escolaridade

    Rubens Menin Teixeira de Souza, presidente do Conselho de Administração da MRV Engenharia, sobre desafios econômicos

Outros setores apresentam peculiaridades semelhantes. O segmento de infraestrutura e logística no país ainda é muito incipiente e, apesar de merecer um cuidado especial no planejamento governamental por sua importância estratégica, não pode se converter em um grande gerador de empregos no curto prazo.

Situação semelhante pode ser observada na indústria de base e na indústria de transformação, por conta da desestruturação recente que vitimou esses segmentos. Não muito diferente é a situação atual da construção civil, que tem se mecanizado e automatizado processos em ritmo muito acelerado e, com isso, ocupa contingentes cada vez menores de trabalhadores.

Apesar das características desfavoráveis dos setores mencionados e até que surjam os efeitos benéficos do aumento de escolaridade geral, do treinamento e da capacitação da mão de obra nacional para aumentar-lhe a produtividade, devemos focar em outros esforços que melhorariam a nossa competitividade no mundo globalizado: simplificar de regulamentos, descomplicar  procedimentos e fazer uma desburocratização geral. 

Além disso, deveríamos formular metas objetivas para o desempenho de alguns setores a serem apoiados no planejamento governamental, em conformidade com as vocações nacionais. Melhor ter um plano para gerar emprego e renda do que nenhum.

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