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Valorização do dólar favorece operações de fusão e aquisição

Especial para o UOL

24/01/2015 06h00

Um cenário de incertezas e elevada aversão ao risco se instalou no cenário macroeconômico nos últimos dias de 2014. A desvalorização da moeda frente ao dólar e a queda do preço do barril do petróleo criam um clima de insegurança que afeta investidores.

A descrição acima pode soar familiar ao brasileiro. E é, mas não se restringe apenas ao nosso país. O cenário turbulento descreve o momento atual da economia mundial.

O Brasil, apesar de inserido neste contexto, vive uma perspectiva de transição de governo. A mesma presidente, mas uma equipe econômica diferente, com propostas que visam mostrar, principalmente, uma preocupação em resgatar a credibilidade.

As indicações de ajuste firme e rápido do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para fazer com que a economia brasileira volte aos trilhos, combinadas com a ideia de sacrifícios sem “solavancos” e promessa de um ajuste fiscal parecem agradar os investidores que continuam de olho no Brasil.

Nem mesmo as últimas projeções de crescimento – segundo a atualização do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2015, a economia brasileira deve avançar apenas 0,8% - fizeram com que o Brasil deixasse de despertar interesse, principalmente em setores de alto grau de atratividade como saúde, educação, transporte, tecnologia, serviços auxiliares e segmento financeiro.

Os três últimos, aliás, foram os setores que registraram maior volume de transações de fusão a aquisição em 2014. O setor de tecnologia concentrou cerca de 20% das operações e os outros dois, serviços auxiliares e segmento financeiro, com 10%.

Apesar de muitos enxergarem um cenário pessimista, os números divulgados pela PwC (PricewaterhouseCoopers, especializada em assessoria empresarial), mostram um outro caminho. Entre janeiro e outubro de 2014 foram registradas 717 transações de fusões e aquisições no Brasil. Dessas, 58% tiveram investimentos de caráter nacional, os outros 42% contaram com participação estrangeira.

Em 2013, considerando-se o mesmo período, o índice foi de 664 operações, sendo 44% delas com participação estrangeira. Computando o ano todo, foram 813 operações no total.

E isso não deve mudar em 2015. Mesmo com o vislumbre de um cenário político incerto, o mercado de fusões e aquisições poderá se aquecer em número de transações no novo ano.

Alguns fundos de private equity (que compram participação em empresas) já estão captados, algo em torno de US$ 8,3 bilhões, e prontos para investir no Brasil e na América Latina. Importante ressaltar que esses fundos captados têm um prazo de dois a três anos para investir, caso contrário, perdem o montante levantado.

Se por um lado existe um movimento de fuga de investimentos em setores como petróleo e gás e uma desconfiança do investidor estrangeiro em setores altamente regulamentados, por outro há uma série de oportunidades de aquisições em campos distintos, com oferta de preços e condições favoráveis. A taxa de câmbio com cotação do dólar mais forte, por exemplo, deverá fazer com que investimentos no mercado brasileiro fiquem mais atrativos e mais baratos para os investidores estrangeiros.

Há ainda a questão regional. A região Sudeste predomina de forma avassaladora o índice de transações de fusões e aquisições. Para os próximos anos, no entanto, há uma forte perspectiva de que empresas das regiões Norte, Nordeste e Sul estejam cada vez mais preparadas em matéria de governança, formalização de negócios, auditoria financeira etc. No caso desta última, há uma movimentação considerável no setor de educação.

Precisamos reconduzir nosso olhar do pessimismo para as oportunidades que despontarão no mercado em 2015. Investidores estrangeiros, principalmente os que já conhecem os meandros regulatórios e políticos brasileiros, continuarão aportando seus investimentos por aqui.

Se por um lado negócios envolvendo companhias de grande porte tendem a diminuir, a recíproca não é verdadeira quando se fala no middle market – empresas entre R$ 20 milhões e R$ 1 bilhão de faturamento – que cada vez mais despontam no cenário econômico nacional.

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