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Haddad não deve usar causa LGBT para lustrar imagem de 'descolado'

Especial para o UOL

13/02/2015 06h00

Como líder do maior partido de oposição na Câmara Municipal, devo manter atuação vigilante e crítica ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. É essa a missão que me foi conferida pelas urnas. Mas isso não impede que eu comente suas eventuais boas iniciativas. Que são raras, infelizmente.

Uma delas foi anunciada nesses dias: a criação do Transcidadania, programa que irá dar uma bolsa de R$ 840 a travestis e transexuais que se proponham a cursar o Pronatec. É uma boa iniciativa.

Minha atividade política sempre foi pautada pelo respeito à diversidade e pelo combate a todo tipo de preconceito. No caso do segmento LGBT, implantei ações relevantes quando trabalhei no Município e no Estado de São Paulo.

Quando estive no comando da subprefeitura da Sé, em 2005 e 2006, garanti o espaço do Boulevard São João para as ações de geração de emprego e renda que a Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual (Cads) fazia junto à população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais em vulnerabilidade.

O espaço do Boulevard acolheu feiras, exposições de arte e artesanato e eventos culturais que fortaleceram a identidade LGBT.

Já como secretário municipal das Subprefeituras (2005 a 2009), auxiliei a Secretaria Municipal de Participação e Parceria em uma série de projetos pró-cidadania LGBT, em todas as regiões da cidade. O que antes de minha gestão se restringia ao centro expandido, se espalhou pelos bairros dos quatro cantos de São Paulo.

Aliás, vale lembrar que o Transcidadania nada mais é que um novo nome para POT (Programa Operação Trabalho), instituído pela prefeitura durante o governo de que participei, na gestão Serra-Kassab, quando essa parcela já recebia bolsas para complementação dos estudos e também para estágio em espaços formais de emprego.

Em 2010, assumi a Secretaria do Estado da Cultura e mantivemos a atuação em prol da inclusão e da diversidade. Fui o responsável pela criação do primeiro Museu da Diversidade da América Latina, na estação de Metrô República. 

A secretaria também promoveu o concurso e a exposição “Homofobia Fora de Moda” com o tema “Laços Afetivos”, para trabalhar, por meio da moda, a conscientização do direito à afetividade da comunidade LGBT. As pessoas que participaram enviaram contos que foram transformados em livro e distribuídos às bibliotecas estaduais como ferramenta de enfrentamento à homofobia.

Ainda no Estado, acolhemos muitas bolsistas do POT, numa parceria com a prefeitura, que migraram para outros espaços formais de trabalho como a SP Escola de Teatro, por exemplo.

Após essas e outras ações junto ao segmento, fico confortável em comentar essa ação da prefeitura. Mas não posso deixar de manifestar minha preocupação. Falta ao projeto uma visão de empreendedorismo, para que esse público seja treinado para criar o próprio negócio e, com isso, diminuir a possibilidade de conviver com o preconceito.

Espero, sinceramente, que o Transcidadania não siga a linha da maioria dos programas da prefeitura, com seus nomes bonitos e quase nenhum resultado prático.

Anunciado com pompa há um ano, o programa Braços Abertos é um retumbante fracasso por insistir em tratar dos dependentes químicos mantendo-os lado a lado dos traficantes. Dessa forma, é claro que eles não sairão do vício.

Da mesma forma, devem ser observados os devidos cuidados junto à crescente população de transexuais e homossexuais que hoje vive nas ruas, à mercê de todo tipo de doenças e drogas.

Assim, torço para que o Transcidadania não seja apenas mais uma tentativa do prefeito lustrar sua imagem de “descolado” junto a setores da classe média e da imprensa.

Como apoiador da causa LGBT, espero que dessa vez a prefeitura acerte. Que o Transcidadania deixe o campo das ideias para, apesar da inapetência do prefeito Fernando Hadad para governar, se tornar realidade. Ao menos dessa vez. 

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