Topo

Brasil espelhado pelo atual Congresso é branco, bem educado e rico

Especial para o UOL

16/02/2015 06h00

O maior gigante estatal do país sangra dia após dia sem dó nem piedade diante de cidadãos estupefatos. Abatida, a Petrobras agoniza sob uma avalanche impiedosa de acusações e investigações de desvios, corrupção, fraudes, propinas. Praticamente o Código Penal de A até Z.

Seu maior algoz não são os delatores de esquemas, os acobertadores de achaques, os delinquentes que vêm se utilizando da coisa pública para propósitos muito além de inconfessáveis, pornográficos quase. Nosso Petrossauro - hoje paquidérmico e doente, outrora promessa de um futuro melhor - caiu diante de uma cultura política hedionda e um sistema de representação política anacrônico, descolado da sociedade da qual deveria ser imagem e semelhança. Um sistema doente, que contagia a quase todos aqueles que tenham contato.

Os sintomas dessa doença são bem conhecidos e, ainda assim, pouco se tem feito para reverter o quadro. Exemplos são vários, como os de caráter econômico. 60% da população sobrevive com menos de dois salários mínimos, contra um número de 50% de congressistas que declaram ter patrimônio maior que um milhão de reais. E isso sem falar na atuação das famosas bancadas de parlamentares, "turbinadas" por setores empresariais que financiam campanhas de políticos para os mais variados interesses, inconfessáveis ou não.

Para se ter uma ideia, somente na Câmara dos Deputados, 304 são ligados ao agronegócio, a chamada "bancada ruralista". Já 204 foram financiados por empreiteiras, formando a "bancada do concreto". Outros 163 são da "bancada do bife", pois receberam dinheiro do oligopólio de empresas de processamento de carne. Outros 14 foram eleitos com financiamento da indústria de armas: é a "bancada da bala". E por aí vai.

O Brasil espelhado pelo atual Congresso é branco, bem educado e rico. Até aí, podemos imaginar que educação e posses não significam que alguém não cumpra o nobre papel a que foi designado. Mas suas campanhas eleitorais, devidamente "turbinadas" pelos financiadores, lobistas e que-tais, servirão mais a estes do que aos cidadãos eleitores.

E tem cura essa doença, cujo sintoma mais emblemático é a queda do gigante petroleiro?

Antes de mais nada, não podemos cair na tentação da solução fácil do Estado que decide tudo sem o devido debate pela sociedade. Um Estado tutelador, que toma conta do que comemos, bebemos e até assistimos na TV, não interessa a ninguém. O remédio será amargo, e decerto não vem do próprio doente.

Precisamos de altas doses de mobilização daqueles cidadãos mais conscientes sobre os reais problemas nacionais e que possuem ideias e propostas para efetivamente contribuir para o aperfeiçoamento da vida pública, seus costumes execráveis e, em especial, do seu sistema de representação.

E, principalmente, é preciso centralizar essas ideias num espaço público e levá-las a outros cidadãos, os veículos de comunicação e parte dos políticos e gestores de bem, para que essa massa crítica tenha força para mudar valores e conceitos.

  • O texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
  • Para enviar seu artigo, escreva para uolopiniao@uol.com.br