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Lava Jato estrangula empresas do setor de infraestrutura

Especial para o UOL

06/03/2015 06h00

Desde meados do ano passado, a operação Lava Jato, conduzida pela Policia Federal e pelo Ministério Público, vem investigando um esquema de corrupção que envolve a Petrobras e um conjunto de empreiteiras que são responsáveis pela execução de parte significativa das obras de infraestrutura no Brasil.

O primeiro impacto econômico real veio na forma de aumento no Plano de Desinvestimento da Petrobras. No início deste mês, a estatal anunciou que espera obter US$ 13,7 bilhões com o plano, sendo 30% (US$ 4,1 bilhões) no segmento de E&P (Exploração e Produção), 30% (US$ 4,1 bilhões) no segmento de Abastecimento e 40% (US$ 5,5 bilhões) no segmento de Gás e Energia.

Atualmente, a maior preocupação é a capacidade de financiamento da Petrobras e as consequências sobre o plano de investimentos da empresa. A dívida da Petrobras soma quase R$ 300 bilhões, e o mercado internacional está praticamente fechado para empresa por conta da não divulgação do balanço auditado do 3º trimestre de 2014 e da perda do grau de investimento pela Agencia Moody´s de classificação de risco.

Ocorre que tamanha necessidade de financiamento não cabe em território nacional. O crescimento da empresa observado nos últimos anos só foi possível graças à internacionalização da empresa e o consequente acesso ao mercado internacional.

Ainda é cedo para estimar com precisão o quanto será efetivamente reduzido de investimentos – mas é possível que a queda seja em torno de 35% – e quanto isso afetará a produção de petróleo brasileira. Em relação ao crescimento da produção, a meta da Petrobras para 2015 foi reduzida para 4,5%, inferior ao crescimento de 2014, de 5,3%, que já havia sido abaixo da meta estipulada no início do ano anterior, de 7,5%.

O desenvolvimento do pré-sal, a manutenção da produção nos campos mais produtivos, a cadeia de suprimentos e os parceiros em consórcios com a Petrobras dependem desse investimento. Já há reflexos de falta de pagamento a fornecedores, conforme reportado pela Abimaq (associação de máquinas e equipamentos). As perspectivas de cortes de investimento da estatal, que inicialmente eram de cerca de R$ 100 bilhões, devem gerar uma redução na Formação Bruta de Capital Fixo em 2015 de 18% do PIB no ano passado para algo em torno de 16%, segundo a Abimaq.

Não é somente no setor de petróleo que há temores de atrasos em comprometimentos, mas também em outras áreas da infraestrutura, como é o caso do setor elétrico. Para a construção das obras civis da usina hidrelétrica de Belo Monte, o consórcio Norte Energia contratou o Consórcio Construtor Belo Monte, composto por 10 empresas de construção civil do país, das quais 6 são citadas na operação Lava Jato.

Algumas já enfrentam dificuldades financeiras decorrentes da investigação e, em alguns casos, avalia-se um eventual pedido de recuperação judicial ou a venda de ativos. Há ainda preocupação com relação aos serviços de montagem da usina. As empresas formadoras do consórcio responsável pela montagem eletromecânica das 18 turbinas da casa de força principal de Belo Monte também são citadas na Lava Jato.  

As consequências negativas da operação Lava Jato para o setor de infraestrutura se somam às dificuldades já existentes por conta da falta de planejamento e da elevada intervenção politica nas principais empresas do setor. Atualmente, temos empresas quebradas e com geração de caixa insuficiente.

Essas empresas vendem seus produtos e serviços a preços insustentavelmente baixos, por conta de objetivos políticos de curto prazo e estão ficando cada vez mais sem capacidade de financiamento devido às dificuldades que o país vem enfrentando.

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