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Demora para conseguir trabalho segura índice de desemprego

Especial para o UOL

11/03/2015 06h00

A pergunta que se coloca com frequência no debate atual sobre o mercado de trabalho brasileiro é: como o desemprego no Brasil se mantém em patamares historicamente baixos com o nível de atividade econômica crescendo menos nos últimos dois ou três anos do que vinha crescendo na década anterior?

A situação é aparentemente paradoxal uma vez que um menor dinamismo da economia pode ser associado a, pelo menos, um de dois movimentos: um aumento dos fluxos de pessoas originalmente ocupadas para o desemprego; e/ou uma diminuição no fluxo de pessoas do desemprego para a ocupação.

Cabe frisar que não necessariamente essas pessoas ficam retidas no desemprego. Há que se considerar também os indivíduos que não participam do mercado de trabalho (também chamados de inativos). Esses indivíduos correspondem àqueles sem ocupação e que não estão à procura de uma.

Uma análise imediata dos números revela que o desemprego manteve-se baixo justamente porque a taxa de participação caiu. Traduzindo: menos pessoas sem ocupação estão procurando uma. Ou seja, relativamente menos pessoas sem ocupação são classificadas como desempregadas e mais são classificadas como não participantes ou inativas.

O fato de as pessoas não estarem procurando uma ocupação parece refletir um desinteresse em continuar no mercado de trabalho. Isso nos leva a uma segunda pergunta paradoxal: como conciliar esse suposto desinteresse com o fato de os rendimentos do trabalho (em termos reais) continuarem a subir?

Logo, é preciso aprofundar um pouco mais a análise para termos um diagnóstico mais abrangente do mercado de trabalho. Faremos isso a seguir, em três etapas.

Inatividade x Desemprego

Em primeiro lugar, é preciso detalhar um pouco mais a classificação de um indivíduo sem ocupação em desempregado ou inativo. Isso depende de o indivíduo ter tomado alguma atitude que seja considerada como busca por emprego em uma dada semana de referência.

Suponha que um indivíduo que perdeu recentemente o emprego é entrevistado por uma instituição que mede o desemprego e a inatividade com base em pesquisas domiciliares (como o IBGE, por exemplo).

Imagine ainda que, logo na semana em que houve o desligamento desse trabalhador, ele enviou seu currículo para algumas empresas e, na semana seguinte, ficou esperando algum possível chamado de uma dessas empresas.

Se a entrevista for feita na semana em que houve o desligamento, o indivíduo será classificado como desempregado (pois enviou currículos para empresas). Mas, se a entrevista for realizada na semana seguinte, o indivíduo seria classificado como inativo. Note, porém, que o indivíduo supostamente continua interessado em participar do mercado de trabalho.

A segunda etapa do diagnóstico aqui proposto faz uso da seguinte suposição: os indivíduos tendem a concentrar suas ações de busca por emprego no início do período em que ficam sem ocupação.

Nesse cenário, quanto mais tempo demorarem a retornar ao emprego, maior será a probabilidade de serem classificados como inativos em vez de desempregados, dado que maior será a probabilidade de serem entrevistados nas semanas em que não tomaram providências caracterizadas como busca por emprego.

Por fim, a literatura nos mostra que a margem de ajuste mais sensível ao ciclo econômico é a da criação de postos de trabalho e não a da destruição de postos de trabalho. Sendo assim, a situação atual no Brasil seria mais bem descrita por uma diminuição no fluxo de pessoas não ocupadas para a ocupação. Com a maior retenção das pessoas na condição de não ocupadas, cresce a duração média do tempo que os indivíduos passam nessa situação.

Juntando as três etapas mencionadas acima, teríamos o seguinte encadeamento de fatos que nos leva a um diagnóstico mais abrangente. A dinâmica macroeconômica de baixo crescimento diminuiu o fluxo de contratações e isso leva os indivíduos a permanecerem mais tempo sem emprego, o que, por sua vez, torna-os mais propensos a serem classificados como inativos, mesmo almejando a volta ao emprego.

Note que, ao permitir que os indivíduos continuem almejando a volta ao emprego, desfaz-se a contradição entre aumento relativo da inatividade (ou queda da taxa de participação) e manutenção dos salários em um patamar historicamente alto.

Outra pergunta instigante é: por que o salário médio mantém-se alto num ambiente de baixo dinamismo econômico? A resposta é: o menor fluxo de contratação tende a atingir sobretudo os trabalhadores que ocupavam postos de menor produtividade e menor salário. Com a diminuição desse tipo de trabalhador entre os ocupados, há um aumento do salário médio em termos reais, mesmo se não houver reajuste de salários entre os que continuam empregados.

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