Ação equilibrada do piloto é último filtro antes de acidente aéreo
Depois do trágico caso da Germanwings, com 150 mortes, e apesar das conclusões finais não estarem totalmente esclarecidas, com certeza podemos considerar a importância da saúde dos aeronautas na nossa segurança, como clientes de empresas aéreas do mundo todo.
Todos nós passamos a olhar o sistema de forma crítica, procurando o “é possível garantir que isto não mais aconteça?”. Ou então nos perguntando, “será que o comandante, ali na cabine, está bem?”
Quando piloto, copiloto, comissário de voo, mecânico de avião, controlador de voo, e qualquer outro profissional, atuam sem plena saúde física e mental, está aí um perigo. Pior ainda se a causa for o efeito de substâncias psicoativas (lícitas ou não) que interfiram no seu poder de julgamento ou tomada de decisão,
A ação humana equilibrada é, invariavelmente, o último filtro antes do acidente, quando outros filtros falham antes. Por isso o controle da saúde e do bem estar deve ser tão rigoroso.
As autoridades da aviação mundial que regulam o transporte aéreo recomendam avaliações médicas e psicológicas nos pilotos, e isso é feito, inclusive no Brasil, nos exames de aptidão física inicial e para entrar nas empresas aéreas, além dos casos de promoção interna de copiloto para comandante, .
Há também a RBAC 120 da Anac, que determina controle toxicológico, tratamento do uso abusivo ou indevido de álcool e outras drogas e medidas educativas a respeito do uso dessas substâncias. Afinal, como bem dizem os juristas, o interesse coletivo é soberano ao individual.
Tenho certeza de que esses processos serão regulamentados de maneira ainda mais rigorosa, sistemática e rotineira, buscando sempre diagnosticar precocemente e tratar, a bem da coletividade, as mazelas do mundo atual.
Creio firmemente que as melhorias estarão no Brasil em curto prazo. A área de medicina aeroespacial deve se fortalecer ainda mais, como parte do negócio, andando de mãos dadas com a segurança de voo e com o cuidado das pessoas.
O século 21 surpreende pelo que chamo de 'pandemia da infelicidade', em que as pessoas têm as condições básicas da vida (alimentação, habitação e vestimenta), vivem bem mais do que nos séculos passados, mas querem coisas que antes não conheciam, como desafios e reconhecimento. Isso não se realizando, tornam-se frustradas e pouco tolerantes.
Alguns chamam de depressão, termo usado tão popularmente. Para mim, a maioria dos casos poderiam ser chamados de tristeza, e as soluções passam pelos remédios sim, mas também pelo estilo de vida, gestão das escolhas e das frustrações do dia a dia.
Hoje, esse dilema existe em todos os segmentos da sociedade, mas em alguns fica gritante: ninguém admite um médico desequilibrado, um policial destemperado ou um piloto de avião suicida. Apesar de serem humanos, exercem carreiras que não permitem atuação desatinada que ofereça risco a outros. E assim deve ser.
No caso dos pilotos, que têm no cumprimento de suas escalas de trabalho fontes de cansaço, reclamações e tristezas, a gestão de suas vidas é fundamental para o bem estar emocional e físico, pois realmente não é fácil ficar quatro ou cinco noites fora de casa.
As escalas podem e devem ser melhoradas, mas os pilotos devem também manter o orgulho de suas carreiras, sempre tão glamorosas e importantes. Dormirem bem, não usarem drogas que atuem no seu julgamento (mesmo as receitadas), valorizarem suas famílias e cuidarem de sua saúde é o que nós, como sociedade, esperamos deles. E posso atestar que a imensa maioria tem esse compromisso.
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